A prisão do senador Delcídio
Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, na manhã desta quarta-feira, tem
potencial para causar grandes estragos tanto no governo Dilma Rousseff como no
Congresso Nacional, avaliam cientistas políticos.
Para analistas ouvidos pela BBC
Brasil, a detenção inédita de um senador em exercício do seu mandato coloca
pressão sobre os demais congressistas, principalmente o presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também investigado por suposto
envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
Delcídio foi preso por tentar
atrapalhar investigações da operação Lava Jato. No caso de Cunha, desde julho
cogita-se que a Procuradoria-Geral da República (PGR) poderia solicitar ao
Supremo Tribunal Federal (STF) seu afastamento da presidência da Câmara por
supostas tentativas de usar seu cargo para dificultar apurações contra ele.
Parlamentares de oposição também
cogitam fazer esse pedido ao STF depois de Cunha ter agido na semana passada
para suspender uma sessão do Conselho de Ética que analisaria a possibilidade
de abertura de um processo de cassação contra ele – a decisão ficou para a
próxima terça.
Na ocasião, Cunha afirmou que não
houve "qualquer tipo de manobra" em relação à sessão do conselho.
Algumas dezenas de parlamentares
são alvo da Lava Jato – a PGR não soube informar exatamente quantos.
"Cria um precedente que leva
intranquilidade a todos os congressistas supostamente envolvidos nessas
denúncias recentes, com destaque para a Cunha", afirma o professor da UnB
David Fleischer, avaliando que a ação do presidente da Câmara pode ser
enxergada como manipulação para evitar a própria cassação.
"A partir daí, por exemplo, o
próprio presidente da Câmara poderia ser preso também se fosse configurado o
fato de ele estar obstruindo investigação", acredita também Antônio
Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Baque para governo
Por outro lado, a prisão de
Delcídio representa um baque para o Planalto, não só porque traz mais holofotes
sobre denúncias de corrupção envolvendo o PT, mas também por atingir o
principal articulador político do governo hoje no Congresso.
Antes de se filiar ao PT, Delcídio
assumiu a diretoria de Gás e Energia da Petrobras durante o governo Fernando Henrique
Cardoso, entre 2000 e 2001. Depois, aceitou convite para assumir o cargo de
Secretário de Estado de Infraestrutura e Habitação no governo de Zeca do PT, em
2001. Em seguida, foi eleito em 2002 senador pelo PT.
“É mais uma coisa bastante
negativa para o governo Dilma, porque ele era líder do governo no Senado. Mas
não só por isso, com certeza não há ninguém no PT com tanto trânsito na
oposição - sobretudo no PSDB - quanto o senador Delcídio, que é considerado por
todos uma figura afável, equilibrada. Com certeza, inclusive, a oposição não
está comemorando essa prisão", disse Lavareda.
“Ele era tido como o senador
cabeça fria, ponderado, que conseguia conversar com a oposição. Não era um
radical como o Sibá (Machado, líder do governo na Câmara), que não consegue
conversar com ninguém. É um baque para o governo, realmente", diz
Fleischer.
Detalhes da prisão
A prisão de Delcídio foi
autorizada pelo STF – como ele tem foro privilegiado, a PGR só poderia detê-lo
com autorização da corte.
Delcídio é suspeito de
envolvimento em irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados
Unidos. Ainda não foram divulgados oficialmente detalhes sobre o que motivou
sua prisão, mas, de acordo com a imprensa brasileira, o líder do governo foi
detido porque teria tentado dificultar a delação premiada do ex-diretor da área
internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
Segundo a colunista Mônica
Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, Delcídio teria sugerido a
Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, uma fuga de avião para
Madri via Paraguai. Como Cerveró tem cidadania espanhola, acrescenta a
colunista, teria facilidade de entrar e se instalar no país.
Um mandado contra o advogado Edson
Ribeiro, que atuou para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, também foi
emitido, mas ele não foi detido porque está nos Estados Unidos. Segundo fontes
da PF, o ministro Teori Zavascki pedirá que seu nome seja incluído na lista da
Interpol.
Ribeiro teria participado da
reunião entre Delcídio e Bernardo. Já o banqueiro Andre Esteves – também detido
nesta manhã–, do BTG/Pactual, seria o avalista da operação, informa Bergamo.
A prova da tentativa de obstrução
da investigação seria uma gravação feita pelo filho de Cerveró do encontro em
que foi exposto o plano de fuga, na tentativa de impedir que o ex-diretor da
estatal fizesse acordo de delação.
Outro delator do esquema, o
lobista conhecido como Fernando Baiano, disse em depoimento em outubro que
Delcídio recebeu US$ 1,5 milhão de dólares de propina pela compra da refinaria.
Delcídio afirmou, na ocasião, que
a citação do seu nome era "lamentável" e negou o recebimento de
propina.
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