“Prejuízo
intencional”: Cerveró, ex-diretor da área internacional
da Petrobras, diz que o PT recebeu “entre 40
milhões
e 50 milhões de reais” (Foto: Cristiano
Mariz)
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Ao negociar sua delação premiada,
o ex-diretor da petrolífera passa a apresentar detalhes de transações em que
houve “prejuízo intencional” – uma vez que o verdadeiro propósito era obter
dinheiro para a campanha política do PT
Em abril do ano passado, um
funcionário de carreira da Petrobras, com trinta anos de casa, procurou a
Polícia Federal oferecendo-se para ajudar nas investigações do petrolão, o
maior esquema de corrupção da história do Brasil. Ele narrou seis casos que
classificou de "má gestão proposital" - ou seja, negócios feitos com
a intenção de produzir propinas. A maior parte das quatro horas de depoimento
espontâneo foi dedicada à atuação de Nestor Cerveró à frente da diretoria
internacional da empresa. A decisão de explorar petróleo em Angola, contou o
funcionário, foi planejada para dar "prejuízo intencional". E deu.
Segundo ele, foram 700 milhões de dólares jogados para o alto, com sobras para
os corruptos.
O depoente voluntário recomendou
aos procuradores que rastreassem os sinais da entrada no Brasil de dinheiro
originário do exterior. À informação do colaborador, cujo nome as autoridades
preservam, faltavam evidências sólidas. Em abril de 2014, a Lava-Jato era ainda
uma operação restrita à ação de doleiros. Um ano e meio depois, o próprio
Nestor Cerveró, quem diria, um dos engenheiros da "má gestão
proposital", aparece como a melhor oportunidade de confirmar as ousadas
operações de "prejuízo intencional" com o objetivo de obter propinas
para os diretores corruptos da Petrobras e seus padrinhos políticos. São
histórias que invertem o ditado segundo o qual "a ocasião faz o ladrão".
No maior escândalo de corrupção da história brasileira, o ladrão cuidava de
providenciar a ocasião.
Preso desde janeiro sob a acusação
de embolsar dinheiro sujo do petrolão, Cerveró já foi sentenciado duas vezes
pelo juiz Sergio Moro. Numa delas, a cinco anos de reclusão, por comprar um
apartamento com recursos desviados da estatal. Na outra, a doze anos e três
meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A perspectiva de
uma longa temporada atrás das grades reavivou a memória do ex-diretor,
apadrinhado por caciques do PT e do PMDB. Cerveró negocia agora um acordo de
delação premiada, na tentativa de reduzir a sua pena. As histórias narradas por
ele ao Ministério Público já preenchem pelo menos 25 anexos e encerram uma
lógica comum: a Diretoria Internacional da Petrobras foi usada de forma
sistemática com o objetivo de levantar recursos para campanhas eleitorais - com
destaque para a campanha de Lula à reeleição, em 2006. Naquele ano, segundo
Cerveró, a Petrobras pagou 300 milhões de dólares ao governo de Luanda pelo
direito de explorar um campo petrolífero em águas profundas nas costas de
Angola. Cerveró disse ter ouvido de Manuel Domingos Vicente - então presidente
do Conselho de Administração da Sonangol, a estatal angolana do petróleo - que
até 50 milhões de reais oriundos de propinas produzidas pelo negócio foram
mandados de volta para o Brasil com o objetivo de irrigar os cofres da campanha
de Lula. Cerveró fez registrar em um dos anexos: "Manoel Vicente foi
explícito em afirmar que desses US$ 300 milhões pagos pela Petrobras à Sonangol
retornaram ao Brasil como propina para financiamento da campanha presidencial
do PT valores entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões".
Segundo Cerveró, a negociação foi
conduzida por integrantes das cúpulas dos dois governos. O delator apontou como
negociador do lado brasileiro Antonio Palocci, que ocupava o Ministério da
Fazenda e era membro do Conselho de Administração da Petrobras. Quando da
assinatura do contrato, Palocci já havia sido demitido do cargo de ministro devido
ao escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos
Costa. A Petrobras pagou cerca de 500 milhões de dólares e gastou mais 200
milhões de dólares para explorar quatro blocos de petróleo em Angola. A empresa
perfurou poços secos e teve gigantesco prejuízo com a operação em Angola, mas,
como explicou Cerveró, isso pouco importou, pois o objetivo era cozinhar os
números e deles arrancar propinas para financiar a campanha presidencial de
Lula.
O mesmo método teria, segundo
Cerveró, sido aplicado na compra da sucateada Refinaria de Pasadena, no Texas,
Estados Unidos. O objetivo igualmente era montar um propinoduto para a campanha
à reeleição do então presidente.
Colaborou Hugo Marques
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