Um dos participantes do ato, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse que pretende fazer pressão política para que o espaço seja mantido.
Artistas,
ativistas e moradores do Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, e
de outros locais da capital fluminense fizeram hoje (18) um ato em defesa do
Museu da Maré. Durante todo o dia, eles promoveram atividades
artísticas e participaram de fizeram performances para pedir a permanência no espaço
na Avenida Guilherme Maxwell, que, desde 2003, é um centro de referência para
os moradores da região. O ato terminou com uma passeata pela Avenida Brasil.
Segundo o
coordenador e fundador do museu, Luiz Antonio de Oliveira, o espaço deve ser
desocupado e entregue até dia 9 de dezembro. "O Grupo Libra de Navegação é
proprietário do espaço do museu e nós tínhamos um contrato de comodato, estamos
aqui desde 2003. O contrato terminou no fim do ano passado, fizeram uma minuta
de renovação, a gente assinou mas não voltou ainda, e agora chegou o pedido
para que nós deixássemos o espaço. E ele não dizem o que pretendem fazer aqui,
se está à venda. A gente fica só especulando, tem a questão da UPP [Unidade de
Polícia Pacificadora] que está para entrar aqui na Maré, pode ser especulação
imobiliária, ou pode ser outra coisa”, disse Oliveira.
O espaço
tem biblioteca, arquivo, laboratório de informática, espaço de artesanato e
oferece oficinas culturais, além da exposição permanente sobre a comunidade,
com fluxo de 400 a 500 pessoas por semana. “Gera um clima de insegurança,
insatisfação e indignação também, já que aqui é um espaço importante em relação
à memória, para a Maré e para a cidade. Se a gente sair por causa da
especulação imobiliária, é ate um contrassenso, porque a entrada do Estado
pressupõe segurança para o território acompanhada de educação, cultura e
cidadania, e vai levar a saída de um espaço de referência para o morador da
Maré”, destacou o diretor.
Um dos
participantes do ato, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse que
pretende fazer pressão política para que o espaço seja mantido. “Não é só o
morador da Maré que tem que lutar para a manutenção do museu, eu acho que a
cidade inteira não pode permitir que um espaço de cultura seja ameaçado porque
o Estado resolveu entrar aqui. A primeira consequência da entrada do Estado
seria a perda de um dos espaços culturais mais importantes que a cidade tem?
Isso não faz o menor sentido. Então eu espero que esse prédio possa ser
desapropriado e entregue à cultura do Rio de Janeiro, não só aos moradores da
Maré.”
O
vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), Aderson Bussinger, foi ao ato para
entender melhor a questão, depois de a entidade ter recebido uma carta
relatando o caso. De acordo com ele, a OAB se compromete em fazer um parecer
jurídico sobre a situação.
“Durante a
semana eu pretendo designar um advogado civilista especialista em direito
imobiliário para fazer um parecer sobre essa situação, [examinar] a legislação
de museus, para analisar isso não só do aspecto possessório, mas do aspecto
cultural. Vamos reunir tudo isso e vamos fazer um parecer jurídico da OAB a
respeito desse problema. Solidários nós somos, porque isso aqui é uma
iniciativa cultural e só tem a contribuir positivamente para o local.”
Moradora
da Maré, a dona de casa Maria José Correia, 40 anos, relata que as duas filhas,
de 3 e 15 anos, frequentam o museu e, se ele fechar, elas ficarão sem
atividades. “Eu vim apoiar porque minha filha pequena faz balé e a maior faz hip
hop. É importante porque as crianças, em vez de ficar na rua, ficam aqui, têm
várias atividades. Eu acho importante para a comunidade. Se fechar é ruim
porque tudo que tem aqui vai acabar, tem muita coisa.”
O apoio ao
museu veio também de moradores de outras parte da cidade, como a artista
plástica Marta Pires Ferreira, de 75 anos, que vive em Santa Teresa. “Vim com
uma turma para dar um apoio para o museu. Eu acho importantíssimo isso aqui, é
um patrimônio histórico, de memória, de resistência. Estou realmente
impressionada com a organização do museu e a beleza do trabalho.”
O guia de
turismo Janderson Dias mora na favela do Cerro-Corá, na zona sul, e diz que o
Museu da Maré é uma inspiração para outras comunidades. “A gente tem o mesmo
projeto de criar um museu no Cerro e a gente veio aqui apoiar o Museu da Maré e
juntar forças nessa luta. Lá no Cerro, a gente não tem um espaço para dizer que
é nosso e fazer nossas atividades. Aqui na Maré tem esse espaço tão grande, que
é uma referência para a gente, que quer preservar a memória do Cerro-Corá.
Deixar esse espaço se perder é muito triste. O Museu da Maré resiste tanto
pelos moradores daqui quanto pelos moradores de fora.”
Fonte: Agência Brasil
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