Componente
da maconha tem circulação vetada pela Anvisa dentro do país.
Pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) começarão a fazer testes com canabidiol
para estudar os efeitos no sono do composto químico presente na maconha. De
acordo com o professor da Faculdade de Medicina (FMRP) José Alexandre de Souza
Crippa, o teste com a substância em outros distúrbios neurológicos já
apresentou resultados positivos e 40 voluntários estão sendo convocados para
participar do novo estudo.
A
instituição confirmou os testes depois de ter enviado, em julho, uma carta aberta à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) defendendo a reclassificação do canabidiol, com circulação
vetada no país. Atualmente, remédios que contém a substância só são utilizados
por pacientes que possuem autorização especial para importação concedida pelo próprio
diretor da agência ou ainda sentença jurídica com a mesma finalidade.
Sono e Mal
de Parkinson
Através
do estudo, os pesquisadores pretendem observar a atuação do canabidiol no sono,
avaliando, por exemplo, se a substância mantém os níveis de relaxamento durante
a noite.
“Já
mostramos previamente que o canabidiol é capaz de atuar melhorando alguns
distúrbios do sono, especialmente em pacientes com Parkinson, em um transtorno
de modo específico chamado transtorno comportamental de sono REM, que não tem
tratamento farmacológico adequado atualmente”, explica Crippa. Testes foram
feitos em alguns animais, que também apresentaram melhoras no quadro de
insônia.
No
caso dos pacientes com Mal de Parkison - doença progressiva que atinge os
movimentos devido à disfunção dos neurônios - a substância reduziu outros
sintomas, além de aliviar os problemas enfrentados por eles na hora de dormir.
Diante
disso, o professor diz que, primeiramente, esse novo estudo quer entender como
o canabidiol funciona em pessoas sem alterações do sono, para, em seguida,
investigar sua atuação em pacientes com insônia.
Voluntários
Para
participar do novo estudo da USP, o voluntário, homem ou mulher, precisa ter
a idade mínima de 18 anos e não apresentar nenhum distúrbio de sono. Também é
preciso preencher informações solicitadas por um formulário de triagem online,
através do qual será avaliado se a pessoa está apta ou não a participar.
Moradores de Ribeirão Preto e não fumantes terão preferência.
Segundo
Crippa, os selecionados devem passar, pelo menos, duas noites no Hospital das
Clínicas da FMRP, fazendo um teste chamado polissonografia, mais conhecido como
exame do sono, durante o qual será administrada uma dose de canabidiol. Haverá
ajuda de custo para cobrir eventuais despesas com transporte e alimentação.
Polêmica
Enquanto
tentam demonstrar a eficiência do componente no sistema neurológico, os
pesquisadores precisam enfrentar a polêmica dos testes com o canabidiol, já que
o medicamento do componente é ilegal no Brasil. “A polêmica é porque o
canabidiol é um composto que está presente na Cannabis sativa [maconha]. Se ele
estivesse na jabuticaba, por exemplo, não haveria nenhuma polêmica”, garante o
pesquisador.
Ele
explica que o problema surge no uso clínico da substância e na possibilidade do
composto ser receitado por médicos. Contudo, para sua aplicação em pesquisas,
não há impedimento algum, de acordo com os padrões definidos pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em
maio, uma reunião da Diretoria Colegiada do órgão, em Brasília, discutiu se o
canabidiol deveria ser retirado da lista de substâncias de uso proscrito para
entrar para a lista de substâncias de controle especial (comercializado com
receita médica de duas vias). Porém um dos diretores pediu vista do processo, o
que adiou a decisão.
Crippa
lembra, ainda, que o canabidiol é apenas um dos 480 componentes da maconha e
que, portanto, não podem ser interpretados como sinônimos. “O canabidiol não
causa dependência, nem abstinência, nem tolerância. E não tem efeitos
colaterais maiores”, afirma e frisa que a maconha, enquanto conjunto de
componentes, oferece sim riscos à saúde.
A
preocupação com a confusão entre a planta e seu componente é tamanha que os
pesquisadores estão propondo a mudança do termo “maconha medicinal” para
“canabinóide medicinal”. A proposta faz parte da carta aberta da FMRP à Anvisa,
na qual foi defendida a reclassificação do canabidiol.
Resultados
A pesquisa do efeito da substância nos padrões do sono é apenas mais uma de uma série de estudos da FMRP sobre o componente. “Nós já demonstramos eficácia [do canabidiol] na doença de Parkinson, nos transtornos de ansiedade, mostramos em esquizofrenia, em doenças do sono – em algumas delas -, além disso, nós testamos em dependência de maconha e, um estudo que estamos concluindo com um grupo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em dependência de crack”, diz Crippa.
O
grupo de estudos da USP de Ribeirão é responsável pelo maior número de
pesquisas nesta área. Em todos os testes, a substância se mostrou bastante
segura para a correção de certas deficiências do organismo.
Esse
foi o caso da menina Anny, de seis anos, portadora da síndrome
CDKL5 (doença rara,
que, entre outros sintomas, apresenta sinais de epilepsia grave). De acordo com
seus pais, um medicamento à base de canabidiol reduziu as crises de convulsões
e trouxe mais qualidade à vida da menina. Contudo, foi necessário ganhar na
justiça o direito de importar o remédio dos Estados Unidos, onde sua venda é
permitida.
Fonte: G1
Fonte: G1
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!