Um tribunal retirou as acusações contra autores do crime, o
que provocou o protesto
Uma adolescente paquistanesa morreu na sexta-feira (14)
depois de atear fogo em si mesma após um tribunal retirar as acusações contra
quatro homens acusados de estuprá-la, informou a polícia.
O incidente ocorreu no distrito de Muzaffargarh, na
província de Punjab, onde o estupro coletivo em 2002 de Mukhtar Mai, uma mulher
analfabeta, foi manchete em todo o mundo.
Amina Bibi, de 18 anos, jogou gasolina e ateou fogo no
próprio corpo na quinta-feira em frente a uma delegacia de polícia na cidade de
Beet Meer Hazar, segundo a polícia.
Redes de televisão paquistanesas transmitiram imagens
terríveis que mostravam a autoimolação e as tentativas desesperadas dos
pedestres de apagar as chamas.
A jovem foi levada a um hospital público próximo, onde os
médicos tentaram salvá-la, mas ela sucumbiu aos ferimentos na manhã desta
sexta-feira, explicou a polícia.
A jovem foi supostamente estuprada por quatro homens,
incluindo um membro de sua família, em janeiro, e reportou o incidente à
polícia.
No entanto, um tribunal local de Muzaffargarh arquivou o
caso na quinta-feira, depois que um relatório da polícia afirmou que Amina não
havia sido estuprada, levando a adolescente a tomar esta medida desesperada.
"Nadir, o principal acusado no caso, era um parente da
vítima e eles tiveram uma briga familiar", informou o oficial de polícia
Chaudhry Asghar Ali à AFP.
"O caso foi investigado duas vezes e os investigadores
descobriram que a vítima não havia sido estuprada", acrescentou.
A Suprema Corte do Paquistão exigiu nesta sexta-feira uma
explicação sobre o incidente, ordenando que os chefes da polícia da província e
do distrito compareçam pessoalmente ao Tribunal.
A Corte ordenou que a polícia envie um relatório explicando
como o caso foi investigado e as razões pelas quais os homens acusados foram
inocentados.
A porta-voz do chefe da polícia de Punjab informou que uma
equipe de investigação foi enviada à região para analisar o caso.
"Enviamos uma equipe de investigação à área e
suspendemos os funcionários da polícia que eram os responsáveis pelo
caso", declarou Nabeela Ghazanfar, porta-voz do chefe da polícia de
Punjab.
A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, independente,
exigiu que o governo aja para garantir que os criminosos sejam levados à
justiça.
"O sacrifício desta adolescente expôs as provações que
as vítimas de estupro no país enfrentam quando tentam levar seus algozes à
justiça", afirmou o grupo.
"É de conhecimento comum que apenas as vítimas de
estupro corajosas no Paquistão levam o assunto à polícia ou ao tribunal",
acrescentou.
A violência física e sexual contra mulheres é generalizada
no Paquistão, um país muçulmano patriarcal e conservador.
Um dos casos mais famosos de crimes sexuais contra mulheres,
o estupro de Mukhtar Mai, em 2002, e sua sobrevivência, a transformaram em um
ícone internacional dos direitos das mulheres.
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