O número de municípios da Amazônia Legal com registros de facções criminosas cresceu 46% entre 2023 e 2024, segundo o estudo Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado na manhã desta quarta-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Mãe Crioula.
A pesquisa identificou a presença
de integrantes de ao menos uma facção criminosa em 260 das 772 cidades da
região, um salto em relação às 178 localidades mapeadas no ano anterior.
Entre os grupos identificados,
estão o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e
organizações locais. O estudo ressalta que o aumento de registros não implica
necessariamente em uma expansão recente das facções, mas pode estar associado à
intensificação de operações policiais que revelaram a presença desses grupos em
localidades anteriormente não monitoradas.
O levantamento destaca a
tendência de interiorização das facções, que têm expandido suas operações para
cidades estratégicas para o narcotráfico, como aquelas próximas a fronteiras,
pistas de pouso clandestinas, rodovias, portos fluviais e áreas de garimpo
ilegal. Essa dinâmica tem gerado uma estabilização nos conflitos entre grupos,
refletida no aumento de cidades sob monopólio de uma única facção: de 98, em
2023, para 176, em 2024.
O Comando Vermelho lidera em
número de cidades dominadas, com presença hegemônica em 130 municípios, seguido
pelo PCC, com 28, e outras facções, que controlam 18 localidades. O CV
concentra sua atuação em áreas de fronteira, com 57 municípios no Pará e 23 em
Mato Grosso. Já o PCC tem maior influência em Rondônia, com 11 cidades, e
Roraima, com seis.
Grupos locais também desempenham
papel relevante. O Bonde dos 40, por exemplo, domina 10 cidades no Maranhão,
enquanto o Piratas do Solimões atua em três municípios do Amazonas, com foco em
roubo de cargas, incluindo drogas vindas da Colômbia e do Peru.
A presença de facções é marcante
em 83 municípios da zona de fronteira da Amazônia Legal, distribuídos entre
Mato Grosso (21), Acre (20), Rondônia (18), Roraima (15), Amazonas (8) e Amapá
(1). Essas localidades, estratégicas para o tráfico internacional, são
frequentemente alvo de disputas entre grupos.
No Pará, a estratégia difere
devido à distância das fronteiras e às características geográficas. Nessas
áreas, o tráfico e contrabando seguem rotas pelo oceano Atlântico,
frequentemente envolvendo o Amapá. Pistas de pouso clandestinas, muitas em
áreas de proteção ambiental, são utilizadas pelas facções para viabilizar a
logística. Um levantamento do MapBiomas, realizado em 2021, identificou 2.869
pistas de pouso na Amazônia, a maioria sem autorização da Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac).
O Fórum Brasileiro de Segurança
Pública classificou o avanço das facções como “surpreendente”, mas considera os
dados subestimados devido a possíveis subnotificações. A pesquisa aponta que
alianças no sistema prisional e a adesão de novos integrantes, por meio de
“batismos”, são fatores que impulsionam o crescimento das facções. Além disso,
a posição estratégica da Amazônia, uma rota central para o narcotráfico
internacional, reforça o interesse desses grupos em controlar áreas-chave e
estabelecer conexões com organizações de países andinos, como Bolívia, Colômbia
e Peru.
Gazeta Brasil

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