Falta de hóspedes afeta o funcionamento dos hotéis argentinos.
RONALDO SCHEMIDT / AFP
Proprietários
de muitos estabelecimentos ainda convivem com quartos vazios e o silêncio nos
saguões pela falta de hóspedes
Quando a quarentena devido à covid-19 começou em Buenos Aires, Daniel Tenenbaum se instalou em seu hotel vazio para protegê-lo de qualquer possível invasão. Outros hoteleiros fecharam janelas e portas com tijolos. Quinze meses depois, com as fronteiras ainda fechadas, todos sofrem com a falta de hóspedes.
Apesar da
reabertura entre outubro e dezembro, os proprietários de hotéis em Buenos Aires
não percebem grandes mudanças em sua nova realidade de quartos vazios,
corredores com luzes apagadas e silêncio no saguão.
“A situação da
hotelaria na Argentina, e principalmente em Buenos Aires, é desastrosa. São 15
meses sem funcionar, com as empresas totalmente fechadas”, disse Gabriela
Akrabian, presidente da Câmara de Hotéis e proprietária do Wilton Hotel, com 97
quartos, no tradicional bairro da Recoleta.
O setor aparece
como o mais atingido na Argentina. No primeiro trimestre de 2021 a economia
cresceu 2,5%, mas os hotéis e restaurantes registram queda de 35,5%.
Em Buenos
Aires, cidade de três milhões de habitantes conhecida mundialmente por sua
intensa vida noturna e atividade cultural, existem cerca de 900
estabelecimentos hoteleiros, dos quais 70% estão fechados, segundo a Associação
Hoteleira, que estima que sua atividade dependa fundamentalmente de turistas
estrangeiros e eventos.
“Buenos Aires
era o maior centro de convenções da América Latina”, diz Akrabian, lembrando os
múltiplos congressos médicos que a cidade sediou, assim como grandes eventos
culturais como a Feira do Livro, cancelada por dois anos consecutivos, ou o
festival de música Lollapalooza.
Sem trabalho
para carregadores e camareiras
Os hotéis em
operação têm ocupação média de 10% e grande parte do quadro de funcionários
está suspenso com pagamento parcial dos salários.
Proprietário do
Hotel Alpino, inaugurado por seu pai em 1979 no bairro de Palermo, Tenenbaum
está com apenas um funcionário. Dos 35 quartos, apenas um está ocupado.
Devido aos
protocolos sanitários, "o papel do carregador deixou de fazer sentido,
pois os hóspedes não podem ser acompanhados com as malas. Quando alguém está
hospedado, ninguém pode entrar no quarto, então o trabalho das camareiras
diminuiu incrivelmente", refere Tenenbaum.
Hotéis registraram queda na economia de 35%
no primeiro trimestre deste ano. RONALDO SCHEMIDT / AFP
Ainda mais
desolado está San Telmo, o antigo bairro colonial da cidade, onde desde 2012 a
família Pellegrino mantém o Kenton Palace Hotel, com 82 quartos.
“Nos arredores
há muitos negócios fechados. Isso tem sido muito difícil porque não só nós, mas
também os empregos indiretos tem tido dificuldades: o do verdureiro, o de
produtos de limpeza, o do quiosque de jornal, o motorista ...”, lista Mabel
Carolina Vega, vice-presidente do Kenton Palace.
"Renascer"
Mas apesar de
tudo, muitos decidiram manter seus hotéis abertos. Para isso contaram com o
apoio do Estado, com ajuda no pagamento de salários e isenções de impostos, e
com disposição para superar o momento adverso.
Antes da
pandemia, que na Argentina já causou mais de 90.000 mortes, os donos do Kenton
Palace planejavam construir outro hotel em Bariloche.
“Foi isso que nos ajudou, porque o dinheiro
economizado (para o novo hotel) foi usado para sustentar nosso pessoal”, disse
Vega. Eles também receberam apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento e
agora um empréstimo do Banco Nación, estatal.
“Os hoteleiros
pensam a longo prazo e nós temos a fantasia, não sei se é real ou não, de que
vamos sair dessa”, diz Tenenbaum.
Akrabian também
pensa assim. “A hotelaria era uma atividade que estava crescendo, que crescia,
que funcionava bem. Fazia muitas contribuições, pagava muitos impostos e quando
acabar vai voltar, vai renascer”, diz.
AFP
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