Dinheiro apreendido na casa de um dos alvos da Operação Dardanários — Foto: Reprodução/TV Globo |
Investigação aponta esquema entre empresários e agentes públicos para direcionar contratos. Juiz federal Marcelo Bretas expediu 6 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão.
Operação
Lava-Jato prende Secretário de Transportes de SP e pesquisador da Fiocruz
A força tarefa
da Lava Jato prendeu, nesta quinta-feira (6), Alexandre Baldy, secretário
estadual de Transportes Metropolitanos de SP, por suspeita de fraudes em
contratos da área de saúde nos períodos em que ele foi deputado federal e
ministro (leia mais abaixo).
Ao menos outras
duas pessoas foram presas na operação: o pesquisador da Fiocruz Guilherme
Franco Netto e o ex-presidente
da Junta Comercial de Goiás (Juceg) Rafael Lousa. Foram expedidos
mais três mandados de prisão, mas o nome dos alvos não foi divulgado.
As
prisões fazem parte da Operação Dardanários, contra desvios na
área da saúde envolvendo órgãos federais. A PF afirma que
identificou "conluio entre empresários e agentes públicos, que tinham
por finalidade contratações dirigidas".
Resumo:
- Alexandre Baldy, que foi deputado federal por Goiás
e ministro das Cidades no governo do ex-presidente Michel Temer, é apontado
por atos suspeitos antes de assumir a pasta no governo de São Paulo.
- Segundo a investigação, Baldy usou da
influência dos dois cargos para intermediar contratos, sobre os quais
ganharia um percentual.
- A TV Globo apurou que, entre os contratos
investigados, estão o de organizações sociais (OSs) com o Hospital de
Urgência da Região Sudoeste Dr. Albanir Faleiros Machado (Hurso), em
Goiás; com a Junta Comercial Goiana e com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa/Fiocruz).
- Baldy ainda teria oferecido vantagem a um
colaborador para não entregar o esquema.
- As prisões do secretário na cidade de São Paulo, do
pesquisador em Petrópolis (RJ) e do ex-presidente da Juceg em
Goiânia são temporárias. O prazo é de cinco dias, mas pode ser prorrogado.
A assessoria
de Baldy negou que ele tenha participado das irregularidades e que
a prisão foi "desnecessária". A Secretaria de Transportes
Metropolitanos (STM) divulgou nota em que ressalta que "a operação não tem
relação com a atual gestão do Governo de São Paulo". O advogado de Rafael
Lousa, Tadeu Batos informou que o cliente "não tem nenhum envolvimento com
qualquer irregularidade em relação à contratação". (Leia mais ao final
da reportagem)
R$ 90 mil
apreendidos em cofres
Até a última
atualização desta reportagem, a PF não havia esclarecido qual o período exato
em que as irregularidades teriam sido cometidas nem qual era a participação do
pesquisador da Fiocruz ou do ex-presidente da Juceg.
Em endereço
ligado a Baldy em Brasília, foram
apreendidos R$ 90 mil em dois cofres. Já no apartamento dele em
Goiânia, a PF
apreendeu um cofre, que não chegou a ser aberto, e um tablet.
Alexandre Baldy, secretário estadual de Transportes Metropolitanos de São Paulo, em imagem do período em que era ministro de Temer. Foto: Neto Talmeli/Prefeitura de Uberaba |
Baldy é,
atualmente, responsável pelo metrô paulistano e pela Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos. Ele foi preso em casa, no bairro dos Jardins, mas,
até por volta de 10h, a PF e a assessoria do secretário disseram que Baldy
ainda estava na residência.
Portador
delatou o esquema
As
investigações contaram com a delação premiada de uma pessoa ligada à Pró-Saúde.
A entidade, na ocasião, administrava o Hurso, em Goiás, e teria valores a receber
-- não se sabe de quem. A TV Globo apurou que Baldy teria recebido propina da
Pró-Saúde para ajudar na liberação desse montante.
A propina, paga
em espécie, teria saído do caixa 2 da entidade, que tinha à época como
principal fonte os contratos do RJ.
A pessoa que
levou o dinheiro firmou acordo de delação e entregou os registros dos
encontros. Os pagamentos estão registrados em planilha entregue por outro
colaborador.
O que dizem
os envolvidos e citados na reportagem
- A assessoria
de Alexandre Baldy informou por meio de nota que ele tem
a sua vida pautada pelo trabalho, pela correção e pela retidão. Segundo a
nota, foi desnecessário e exagerado determinar uma prisão por "fatos
ocorridos em 2013" e que ele "sequer participou". Além
disso, a defesa informou que deve tomar providências para a revogação da
prisão.
- A Secretaria de Transportes Metropolitanos informou
que "colaborou junto à PF enquanto estiveram no prédio".
"Após as buscas, nenhum documento ou equipamento foi levado pela
Polícia Federal", informou a nota da pasta do governo de São Paulo.
- O governador de São Paulo, João Doria,
disse que as acusações contra Alexandre Baldy não têm relação com a atual
gestão dele na Secretaria de Transportes Metropolitanos e que tem
convicção de que Baldy saberá esclarecer os acontecimentos e colaborar com
a Justiça.
- O advogado de Rafael Lousa, Tadeu Batos
informou que o cliente "não tem nenhum envolvimento com qualquer
irregularidade em relação à contratação". "Ele fez todos os
esclarecimentos e respondeu a todas as perguntas, apresentou as senhas dos
celulares, não deixou nada em dúvida em relação à sua atuação como
presidente da Junta Comercial, esclarecendo todos os pontos apresentados
pelo delegado", complementou.
- A direção do Instituto Brasileiro de Gestão
Hospitalar (IBGH), responsável atualmente pela administração do Hurso,
informou por meio de nota que "na época da investigação do esquema, a
organização Social responsável era a Pró-Saúde".
- A Pró-Saúde informou que,
"desde 2017, tem colaborado de forma irrestrita com as investigações
e vem adotando ações para o fortalecimento de sua integridade
institucional".
- A Juceg afirmou, por meio de nota,
que tratam-se de contratos firmados em gestões anteriores, datados do anos
de 2013. A entidade "esclarece ainda que não foi alvo de nenhum
mandado por parte da PF e tampouco por parte do MPF na data de hoje e que
há, em vigência, desde 2019, quando a nova gestão do governo de Goiás
assumiu, 25 contratos atuais com empresas, nenhuma delas citadas na
operação". A Juceg complementou que a sua atual gestão "não
coaduna com direcionamento de contratos ou qualquer outra atividade ilícita"
- A reportagem entrou em contato com a Fiocruz, mas
não havia obtido resposta até por volta de 12h30.
Alexandre Baldy
é preso pela PF
Seis
mandados de prisão e 11 de busca e apreensão
O juiz federal
Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do RJ, expediu seis mandados de prisão e 11
de busca e apreensão em Petrópolis (RJ), São Paulo, São José do Rio Preto
(SP), Goiânia e Brasília.
A operação
desta quinta é um desdobramento das investigações realizadas no âmbito das
operações Fatura Exposta, Calicute e SOS.
Os suspeitos
responderão pelos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Segundo a PF,
dardanários são "agentes 'de negócios', atravessadores que
intermediavam as contratações dirigidas".
Por Arthur
Guimarães e Marco Antônio Martins, TV Globo
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