Dodge vê suspeita 'bastante consistente' de que Renan e Jucá receberam propina da Odebrecht | Rio das Ostras Jornal

Dodge vê suspeita 'bastante consistente' de que Renan e Jucá receberam propina da Odebrecht

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR)
 em imagem de arquivo — Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Inquérito apura repasses de R$ 8,5 milhões a cinco pessoas, em troca de aprovação de projetos no Senado. PGR opinou para que caso sobre Jucá fique no STF mesmo após fim do mandato.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou em documento apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que é "bastante consistente" o material coletado durante inquérito que investiga o recebimento de propina por parte do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR).
Os emedebistas são investigados por suposto recebimento de repasses da Odebrecht em troca da aprovação de um projeto de interesse da construtora. De acordo com as investigações, Renan, Jucá e outros políticos teriam recebido R$ 8,5 milhões pela aprovação de um limite para concessão de benefícios fiscais pelos estados em portos a produtos importados.
"Verifica-se que o acervo probatório ora coligido é bastante consistente e aponta para a prática, em tese, de crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro", afirmou a procuradora no documento,
A posição de Dodge consta de um parecer protocolado na semana passada. No documento, a PGR opina para que o caso sobre Jucá fique no Supremo, mesmo após ele ter perdido o foro privilegiado com o fim do mandato.
Inicialmente, Dodge havia pedido mais 60 dias de prazo para conclusão das investigações, mas o relator da Lava Jato no Supremo, ministro Luiz Edson Fachin, perguntou sobre o prosseguimento do caso no STF em relação a pessoas sem foro. Dodge quer que todos sigam investigados no Supremo.
"Na presente hipótese, evidencia-se necessária, ao menos por ora, a manutenção da unicidade da investigação quanto a esses fatos, uma vez que as condutas dos ora investigados de fato encontram-se intrinsecamente relacionadas a ponto de eventual cisão, neste momento, resultar em prejuízo para a persecução criminal. A apuração conjunta dos fatos, inclusive em relação àqueles que não detêm foro por prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal, é medida que se impõe, para evitar prejuízo relevante à formação da 'opinio delicti' no tocante à autoridade envolvida", afirmou Raquel Dodge.
No documento, a procuradora citou perícia realizada nos sistemas de comunicação e de contabilidade informais da Odebrecht que mostrou pagamentos, entre maio e agosto de 2012, a cinco políticos – Jucá, Renan e os ex-senadores Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e Gim Argello (sem partido-DF), além de um quinto nome ainda não identificado - o codinome utilizado foi "Glutão", caso revelado no blog de Andreia Sadi.
Jucá, Renan e Gim Argello negam que tenham recebido propina para aprovar projeto; Delcídio, que é delator da Lava Jato, afirma que pediu ajuda à empreiteira para ajudar prefeitos.
Segundo Dodge, as investigações avançaram para identificar intermediários dos políticos, mas ainda não indicaram quem seria o "Glutão". Ela pediu 30 dias – em vez dos 60 anteriores – para concluir a investigação.
"A partir de tais dados, foi possível cruzar essas informações com pesquisas em fontes abertas, bem como com elementos de prova constantes em outras investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal, trazendo ainda mais verossimilhança às hipóteses investigativas norteadoras deste Inquérito. De posse dos endereços de entrega dos valores constantes no mencionado relatório técnico, foi possível avançar na investigação e apurar a relação entre os recebedores do dinheiro e os parlamentares investigados", disse.
Outro inquérito sobre Renan
Em outra investigação sobre o senador Renan Calheiros, Dodge pediu mais 60 dias de prazo para concluir as investigações. Ela quer aguardar o empresário Marcelo Odebrecht apresentar explicações sobre e-mails apresentados, o que, segundo ela, é "importante para a elucidação dos fatos".
No caso, Renan é investigado junto com o filho, Renan Filho, por recebimento de recursos oficiais para a campanha do filho em troca de atuação do pai pela aprovação de uma medida provisória de interesse da Braskem – a empresa obteve renovação de contratos de concessão de energia.
O senador afirma que só recebeu doações oficiais e que rechaça recebimento de valores em troca de atuação no Senado.
Segundo Dodge, Marcelo Odebrecht apresentou material com indicação das tratativas, incluindo mensagens entre executivos da Odebrecht e da Braskem.
"Considerando a participação ativa do colaborador Marcelo Odebrecht, que diligenciou no sentido de obter novos elementds de corroboração de suas declarações, notadamente na análise de e-mails e documentos que constavam de seu notebook (segundo informado são aproximadamente 480 mil e-mails), verificou-se a necessidade de requisitar ao colaborador que realize análises específicas sobre possíveis e mails e documentos que possam conter informações no interesse desta investigação", afirmou a procuradora, que cita ainda que a Procuradoria pediu dados à Braskem.
A prorrogação será decidida pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.
Por Mariana Oliveira, TV Globo — Brasília

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