A
expectativa é de que a sonda pouse na superfície do planeta vermelho por volta
das 18h, no horário de Brasília, desta segunda-feira (26). A viagem durou quase
sete meses.
A Nasa está na
contagem regressiva para o pouso em Marte, nesta segunda-feira (26), da sonda
Mars InSight, a primeira capaz de ouvir terremotos e estudar o funcionamento
interno de outro planeta rochoso.
A nave espacial
não tripulada foi lançada há quase
sete meses e percorreu 482 milhões de km. É possível assistir à transmissão ao vivo do pouso no
site da Nasa (a partir das 17h do horário de Brasília).
Parte de sua
missão é informar dos esforços para enviar algum dia exploradores humanos ao
planeta vermelho — algo que a Nasa espera concretizar na década de 2030. A
InSight não tem capacidade de detectar vida no planeta — isso será deixado para
os futuros robôs. A missão da agência em 2020, por exemplo, irá coletar rochas
que possam conter evidências da vida antiga.
Este pouso em
Marte é o primeiro desde 2012, quando o explorador Curiosity da Nasa pousou na
superfície e analisou as rochas em busca de sinais de vida que possa ter
habitado o planeta vizinho da Terra, agora gélido e seco.
A InSight, de
993 milhões de dólares, deve sobreviver à difícil entrada na atmosfera do
planeta vermelho, viajando a uma velocidade de 19.800 km/h e reduzindo
rapidamente a velocidade a apenas 8 km/h.
"Nós
estudamos Marte da órbita e da superfície desde 1965 — aprendendo sobre o
tempo, atmosfera, geologia e química de superfície", afirmou Lori Glaze,
diretora em exercício da divisão de ciência planetária da direção de missões
científicas da Nasa. "Agora iremos finalmente explorar dentro de Marte e
aprofundar nosso entendimento do nosso vizinho terrestre, enquanto a Nasa se prepara
para enviar exploradores humanos mais fundo dentro do sistema solar".
A fase de
entrada, descida e aterrissagem começará às 17h47 (horário de Brasília) de
segunda-feira (26). Meio de brincadeira, na Nasa se referem a essa etapa como
os "seis minutos e meio de terror". A expectativa de aterrissagem é
para as 18h.
Na tarde de
domingo (25), os engenheiros da agência corrigiram a trajetória da sonda pela
última vez, para guiá-la para dentro de alguns quilômetros de seu ponto de
entrada desejado sobre Marte. Cerca de duas horas antes de entrar na atmosfera,
a equipe de entrada, descida e aterrissagem também pode atualizar alguns
detalhes do algoritmo que guia a espaçonave em segurança até a superfície,
informou a agência espacial em seu site.
Esses serão os
últimos comandos enviados à InSight antes que ela se guie automaticamente, com
a ajuda de robôs, pelo resto do caminho. Nenhum experimento, até hoje, foi
movido roboticamente de uma nave até a superfície marciana.
"Levou
mais de uma década para levar a InSight de um conceito até uma nave espacial se
aproximando de Marte — e ainda mais desde que eu me inspirei a embarcar nesse
tipo de missão", disse Bruce Banerdt, do Laboratório de Propulsão a Jato
(JPL, em inglês) da Nasa e investigador principal da InSight. "Mas, mesmo
depois do pouso, nós precisaremos ser pacientes até a ciência começar".
Banerdt
acrescentou, ainda, que "aterrissar em Marte é um dos trabalhos mais
difíceis já feitos em exploração planetária. É uma coisa tão difícil, tão
perigosa, que sempre há uma possibilidade desconfortavelmente grande de que
algo pode dar errado", disse.
Deve levar de
dois a três meses para que o braço robótico da InSight coloque os instrumentos
da missão na superfície. Durante esse tempo, os engenheiros irão monitorar o
ambiente e fotografar o terreno em frente à sonda.
No JPL, a
equipe de operações de superfície irá praticar a configuração dos instrumentos.
Eles usarão uma réplica funcional do InSight em uma "caixa de areia de
Marte" coberta, que será esculpida para coincidir com o local de pouso da
missão em Marte. A equipe verificará se os instrumentos podem ser implantados
com segurança, mesmo se houver rochas próximas ou áreas InSight em ângulo.
Uma vez que a
posição final de cada instrumento esteja decidida, levará várias semanas para
levantar cada um com cuidado e calibrar suas medições. Então a ciência estará
realmente em andamento.
Pouso
difícil
Das 43 missões
lançadas a Marte, apenas 18 chegaram ao planeta vermelho — uma taxa de sucesso
de cerca de 40%. Segundo a agência de notícias americanas Associated Press, os
Estados Unidos já conseguiram aterrissar no planeta sete vezes nas últimas
quatro décadas. A InSight pode ser a oitava vitória da Nasa.
"Ir a
Marte é muito, muito difícil", disse Thomas Zurbuchen, administrador
associado da direção de missões científicas da Nasa.
"A parte
emocionante é que estamos construindo sobre o sucesso da melhor equipe que já
aterrissou neste planeta, que é a equipe da Nasa" e seus colaboradores.
O instrumento
central da InSight é um sismômetro de detecção de terremotos que foi feito pela
Agência Espacial Francesa (CNES).
"Esta é a
única missão da Nasa concebida em torno de um instrumento de fabricação
estrangeira", disse Jean-Yves Le Gall, presidente da CNES, à agência de
notícias francesa France Presse. Por isso, acrescentou, "é uma missão
fundamental para os Estados Unidos, França", e para melhorar a compreensão
de Marte.
Os seis
sensores de terremoto a bordo são tão sensíveis que deveriam revelar os menores
tremores em Marte, como o fraco puxão de sua lua Fobos, os impactos dos
meteoros e possivelmente a evidência de atividade vulcânica.
A nave
também tem uma sonda que pode escavar uma profundidade de três a cinco metros,
para oferecer a primeira medição precisa das temperaturas sob a terra em Marte
e a quantidade de calor que escapa de seu interior.
A sismologia
ensinou à humanidade muito sobre a formação da Terra, há cerca de 4,5 bilhões
de anos, mas grande parte da evidência baseada na Terra se perdeu com a
reciclagem da crosta, impulsada pela tectônica de placas. Este processo não
existe em Marte. Com imagens em 3D, os cientistas esperam revelar como as
rochas do nosso próprio planeta se formaram, e por que se tornaram tão
diferentes.
O Planeta
Vermelho costumava ter rios e lagos, mas, hoje, os deltas (desembocaduras) e os
leitos dos lagos estão secos e o planeta está frio. Vênus é uma fornalha por
causa de sua atmosfera espessa e aprisionadora de calor. Mercúrio, mais próximo
do sol, tem uma superfície terminantemente assada.
O pouso da
InSight será amortecido por um paraquedas. Seu escudo térmico ajudará a
desacelerar a nave e a protegê-la contra a fricção da entrada na atmosfera de
Marte. O local de pouso é uma área plana chamada Elysium Planitia, que a Nasa
apelidou de "o maior estacionamento em Marte".
Como a Nasa
vai saber que a InSight pousou?
A agência
espacial explicou em seu site, no último dia 16, como funciona o processo de
saber que a InSight chegou a Marte — e ele pode não ser tão instantâneo assim.
A equipe
responsável pela InSight irá monitorar os sinais de rádio da sonda de Marte
usando uma variedade de espaçonaves — e até mesmo radiotelescópios aqui na
Terra -— para descobrir o que está acontecendo a 146 milhões de quilômetros de
distância.
Como esses
sinais são capturados por várias naves espaciais, eles são retransmitidos para
a Terra de maneiras diferentes e em momentos diferentes. Isso significa que a
equipe da missão pode saber imediatamente quando o InSight toca, ou pode ter
que esperar várias horas.
Radiotelescópios
À medida que o
módulo InSight desce na atmosfera de Marte, ele transmitirá sinais de rádio
simples chamados "tons" de volta à Terra. Os engenheiros estarão
sintonizados em dois locais: um na Virgínia Ocidental, nos EUA, e outro em
Effelsberg, Alemanha.
Esses tons não
revelam muita informação, mas os engenheiros de rádio podem interpretá-los para
rastrear os principais eventos durante a entrada, descida e aterrissagem (EDL)
da InSight. Por exemplo, quando o InSight implanta seu pára-quedas, uma mudança
na velocidade altera a frequência do sinal. Isso é causado pelo que é chamado
de efeito Doppler, que é a mesma coisa que ocorre quando você ouve uma mudança
de sirene quando uma ambulância passa.
Mars Cube
One (MarCO)
Duas naves
espaciais do tamanho de uma maleta estão voando atrás do InSight e tentam
retransmitir seus sinais para a Terra. Se funcionarem como deveriam, o par
transmitirá toda a história da entrada, descida e aterrissagem conforme ela se
desenrola. Isso pode incluir uma imagem da InSight da superfície marciana logo
depois que a sonda toca.
InSight
Depois que
aterrissar, a InSight essencialmente gritará: "Eu consegui!" Sete
minutos depois, a espaçonave diz isso de novo — mas um pouco mais alto e mais
claro.
Na primeira
vez, ele se comunicará com um sinal sonoro que os radiotelescópios tentarão
detectar. Na segunda vez, enviará um "bipe" da sua antena de banda X
mais potente, que agora deve ser apontada para a Terra. Este bipe inclui um
pouco mais de informação e só é ouvido se a espaçonave estiver em um estado de
funcionamento saudável. Se a Deep Space Network da NASA captar esse bipe, é um
bom sinal de que o InSight sobreviveu ao pouso. Os engenheiros precisarão
esperar até o início da noite para descobrir se a sonda implantou com sucesso
seus painéis solares.
Mars
Reconnaissance Orbiter (MRO)
Além do MarCO
CubeSats, o MRO da NASA estará sobrevoando Marte, registrando os dados do
InSight durante a descida.
A MRO manterá
os dados que registra durante o processo de aterrissagem à medida que
desaparece no horizonte de Marte. Quando voltar do outro lado, ele reproduzirá
os dados para os engenheiros estudarem. Por volta das 21h (horário de
Brasília), eles devem ser capazes de juntar a gravação do pouso da MRO, que é
semelhante à caixa preta de um avião. Isso significa que também pode ser
importante se a InSight não conseguir pousar com sucesso.
2001 Mars
Odyssey
A sonda de mais
longa duração da NASA em Marte também transmitirá dados após o InSight ter
pousado. A Odyssey irá transmitir toda a história da descida da InSight para
Marte, bem como algumas imagens. Ele também transmitirá a confirmação de que os
painéis solares da InSight, que são vitais para a sobrevivência da nave
espacial, foram totalmente implementados. Os engenheiros terão esses dados
antes das 23h30 (horário de Brasília).
Por G1
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