Um ex-guarda do
campo de concentração nazista de Stutthof (Polônia), julgado na Alemanha por
cumplicidade em centenas de assassinatos, afirmou nesta terça-feira (13) que
sente "vergonha" de ter sido um SS, mas alegou sua inocência ao
afirmar que não sabia da existência das câmaras de gás.
O acusado, um
ex-SS de 94 anos, serviu entre junho de 1942 e setembro de 1944 no campo de
concentração de Stutthof, perto de Gdansk, Polônia, onde 65 mil pessoas foram
assassinadas, principalmente mulheres judias dos países bálticos e da Polônia.
"Certamente
tenho vergonha de ter feito parte da SS", disse o réu em uma declaração
lida por seu advogado durante o julgamento.
O acusado
afirmou, no entanto, que foi "alistado à força" e não sabia nada
sobre "os assassinatos sistemáticos ou as câmaras de gás" no campo de
concentração.
O ex-guarda é
julgado como menor, pois no momento dos fatos tinha menos de 21 anos. Seu nome
não foi comunicado pelo tribunal de Münster (oeste). A imprensa alemã o
identificou como um paisagista aposentado de nome Johann Rehbogen.
Seu depoimento
era muito aguardado, já que o homem, que chegou de cadeira de rodas para o
início do julgamento em 6 de novembro, chorou quando as vítimas do campo de
Stutthof falaram no tribunal.
O jornal
"Die Welt" informou que em agosto de 2017 o réu negou à polícia que
estivesse a par das atrocidades cometidas. Ele disse ainda que os soldados
também sofriam com a escassez de alimentos.
De acordo com a
acusação, o ex-SS de Stutthof "sabia quais eram todos os métodos para
matar e deliberadamente aprovou os assassinatos de centenas de pessoas",
embora não tenha participado diretamente.
O tribunal
prevê 14 audiências até janeiro para julgar o ex-guarda de Stutthof. Cada uma
estará limitada a duas horas.
Depoimentos
raros
Os depoimentos
dos guardas dos campos de concentração ou de extermínio são raros, pois foram
poucos os julgamentos sobre o nazismo.
A Alemanha
começou há alguns anos a tentar identificar os últimos suspeitos com vida e a
julgar os que ainda são aptos.
Nos últimos
processos, apenas um acusado falou, o ex-SS Oskar Gröning, conhecido como "o contador de
Auschwitz", que pediu "perdão" em 2015 e reconheceu sua
"falha moral". Foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade
na morte de 300.000 judeus. Morreu em março sem cumprir a pena.
Outro ex-SS de
Auschwitz, Reinhold Hanning, apresentou em 2016 uma confissão de 25 páginas,
lida por seus advogados, na qual admitiu sua "vergonha" e reconheceu
que sabia que os deportados eram "assassinados, vítimas do uso de gás e
incinerados".
Mas foi
considerado um espectador e não um ator no Holocausto dos judeus, denunciou na
ocasião o Comitê Internacional de Auschwitz. Não foi preso, apesar de uma pena
de cinco anos de detenção.
Demora da
Justiça
Estes casos,
simbólicos, não têm apenas um objetivo penal. São pedagógicos e pretendem dar
aos descendentes das vítimas o sentimento de que a justiça foi feita.
De maneira
geral, a justiça alemã é muito criticada pelo tratamento tardio e insuficiente
dos crimes do III Reich.
Esperou até
2011, com o processo do ex-guarda de Sobibor John Demjanjuk, para julgar todos
os ex-sentinelas dos campos de extermínio por "cumplicidade de
assassinato", sem importar qual teria sido o comportamento individual. Os
ex-guardas são considerados peças de engrenagem de uma "máquina da
morte".
Por France Presse
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!