Não havia porta
anti-incêndio nem sprinklers. Os detectores de fumaça não funcionaram. A água
nos hidrantes não era suficiente. Não havia seguro contra incêndio e o acervo
não estava segurado. E as verbas de manutenção caem há anos. Foi assim que se
perdeu no incêndio deste domingo, 2, 90% do acervo do Museu
Nacional, no Rio.
“Sobrou talvez
uns 10%”, estimou a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Serejo. Segundo
ela, só a reconstrução do prédio custará R$ 15 milhões. “A gente estava
preocupado com incêndios. Tivemos problemas de falta de verba e burocrática”,
lamentou. “A culpa é de todos. A gente fica com muita raiva.” Cristiana relatou
que não tem informações sobre a principal peça da instituição, o fóssil de Luzia, o mais antigo das Américas. O
crânio ficava em uma caixa não localizada.
A Subsecretaria
de Proteção e Defesa Civil do Rio mantém interditada a construção, por
considerar que existe grande risco de desabamento interno. Podem desabar
trechos remanescentes de lajes, parte do telhado e paredes divisórias.
Resgate
O incêndio de
grandes proporções começou por volta das 19h30 deste domingo e durou até por
volta das 2 horas desta segunda-feira, 3. Segundo o ministro da Cultura, Sérgio
Sá Leitão, há duas possibilidades em investigação: queda de um balão ou
curto-circuito. “Parece que o fogo começou por cima, no alto, e foi descendo. O
Museu Nacional já estava fechado (na hora do fogo), a brigada de incêndio não
estava mais lá e os vigias demoraram a perceber o incêndio.”
Foi quando um
grupo de funcionários decidiu entrar no prédio em chamas para tentar salvar o
que fosse possível do acervo de 20 milhões de itens. Segundo relatos, de 30 a
40 servidores - incluindo aposentados e o reitor da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher - se deslocaram até o museu, ao saber do
incêndio pelas redes sociais. O biólogo Paulo Buckup ficou das 20h30 até 22
horas na parte traseira do prédio, até ser retirado por bombeiros. “Os
funcionários foram heróis. Estávamos pensando nos nossos ancestrais
pesquisadores. O que salvamos vai permitir a continuidade de pesquisas de
colegas. Na hora só pensei que ali estavam a minha vida e a de colegas”,
lamentou Buckup, que pesquisa evolução de peixes.
A ação dos
bombeiros durou mais de seis horas e consumiu 600 mil litros de água. Parte
acabou sendo retirada de um lago da Quinta da Boa Vista. A Cedae, estatal de
saneamento do Estado, negou que tenha faltado água nos hidrantes e destacou a
dimensão do fogo.
Alerta
A Associação
Amigos do Museu Nacional incluiu, em dois projetos encaminhados ao Ministério
da Cultura para pedir recursos, alertas sobre o funcionamento inadequado do
sistema de prevenção a incêndios e riscos associados à grande quantidade de
material inflamável guardado no palácio.
O museu
informava que era necessário modernizar e ampliar os equipamentos de detecção
de fumaça, com sensores inteligentes e por infravermelho, além de alarmes. Os
detectores não funcionavam por causa da altura do prédio. Ainda era preciso
remodelar o sistema de extintores seguindo padrões dos bombeiros, para “prevenir
ocorrências de maior monta”.
A investigação
caberá agora à Polícia Federal. Mas não está descartada a colaboração com
policiais do Rio. “Se necessitar de suporte, a PF vai requisitar”, disse o
ministro da Educação, Rossieli Soares. O reitor da UFRJ e o diretor do Museu
Nacional, Alex Kellner, culparam o governo federal pela falta de recursos. Eles
lembraram que a partir de 2015 foi desenvolvido um projeto de recuperação do
edifício histórico, mas a liberação do dinheiro - cerca de R$ 21 milhões, do BNDES
- só saiu este ano. Depois, o ministro da Educação concordou: “A
responsabilidade existe e é histórica.”
Reconstrução
O MEC vai
destinar R$ 10 milhões para reformas emergenciais do Museu Nacional e outros R$
5 milhões para obras posteriores. “A reconstrução deve demorar de três a quatro
anos”, afirmou Rossieli Soares. O MEC também entrou em contato com o Congresso
para buscar recursos. Já o ministro Sá Leitão informou que há empresas privadas
e bancos interessados em patrocinar a recuperação do prédio, mas sem dar
detalhes.
Balanço
- O que se
salvou
O maior
meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. O
Departamento de Vertebrados, parte do acervo de invertebrados, o Departamento
de Botânica, a Biblioteca Principal, o Anexo Alípio de Miranda Ribeiro e o
anexo da coleção do Serviço de Assistência ao Ensino, não atingidos pelo fogo.
- O que se
perdeu
Oficialmente, o
museu não tem uma lista, mas acredita-se que entre as perdas estejam três
múmias egípcias, as ossadas de baleia jubarte e do dinossauro conhecido como
Dinoprata, diários da princesa Isabel, o mobiliário imperial, a coleção de
documentos da Imperatriz Teresa Cristina e afrescos de Pompeia, além de itens
que pertenciam ao Museu do Primeiro Reinado. A maior parte das coleções entomológicas,
antropológicas, de aracnologia e de crustáceos foi destruída.
- O que não
se sabe
A grande
incógnita é sobre o crânio de Luzia, o mais antigo do continente. Ficava em uma
caixa, ainda não localizada. O acervo de paleontologia e mineralogia talvez
possa ser em parte resgatado se for feito um trabalho cuidadoso após o
rescaldo. /COLABORARAM LÍGIA FORMENTI, FELIPE FRAZÃO, FÁBIO GRELLET,
DENISE LUNA, MARCIO DOLZAN e ROBERTA JANSEN
Roberta
Pennafort
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