© Buda
Mendes/Getty Images Em entrevista à BBC News Brasil,
o ministro
da Cultura, Sérgio Sá Leitão, culpou os governos do PT
e a UFRJ
pela situação do museu e a escassez de investimentos
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Há mais de uma
década que pesquisadores alertam para a falta de recursos e a precariedade do
prédio do Museu Nacional, que até ser destruído pelo incêndio de domingo
abrigava o maior acervo científico do Brasil. Mas a quem cabia tomar uma
providência para evitar a tragédia?
Em entrevista à
BBC News Brasil, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, culpou os governos
que "levaram o país à pior recessão da história", em referência ao
Partido dos Trabalhadores (PT), e a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) pela situação do museu e a escassez de investimentos.
O Museu
Nacional é vinculado à UFRJ, que, por sua vez, é mantida com recursos do
governo federal.
"De dois
anos para cá, repasses foram reduzidos em várias áreas porque os governos
anteriores quebraram o Brasil. Agora, é importante dizer que quem determinava
quanto ia ao Museu Nacional era a UFRJ, não era o governo federal nem o
Ministério da Educação", disse. A BBC News Brasil tentou contato com a
assessoria da UFRJ, que não respondeu até a publicação desta reportagem.
Questionado se
o atual governo federal não teria parcela da responsabilidade diante da queda
no orçamento da UFRJ, ele ressaltou que ajudou na negociação dos R$ 21 bilhões
que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) liberaria em novembro
para renovar o museu.
"Eu acho
que esses problemas foram historicamente ignorados, mas não no meu período como
ministro da Cultura. Nós tentamos ajudá-los a achar fundos para viabilizar a
revitalização da instituição. E conseguimos os R$ 21 milhões para a revitalização,
mas infelizmente o contrato foi assinado no dia 6 de junho, e o dinheiro não
chegou antes do que aconteceu ontem."
© Tomaz
Silva/Agência Brasil Para ministro da Cultura, museu e
universidade deveriam ter corrido atrás de outras fontes
de
financiamento.
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Nos últimos
dois anos, os gastos da UFRJ ficaram estagnados. Em 2016, a universidade gastou
R$ 3,9 bilhões. Em 2017, foram liquidados cerca de R$ 4 bi - em valores já
corrigidos pela inflação. Neste ano, até agora os gastos foram de R$ 2,45
bilhões, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do
Governo Federal (Siafi) levantados pela BBC News Brasil.
Já os gastos
totais do Museu Nacional caíram de R$ 480 mil em 2016 para R$ 445,5 mil em
2017, em valores corrigidos pela inflação. Em 2018, o Museu Nacional gastou R$
268,4 mil até o começo de agosto.
Para o ministro
Sá Leitão, museu e universidade deveriam ter corrido atrás de outras fontes de financiamento.
"Eles
poderiam ter tentado atrair empresas privadas, poderiam tentar financiamentos
ou operações de venda de imóveis e terrenos. É fácil transferir a
responsabilidade para os outros, mas se você gerencia algo, você é responsável
por isso."
Na noite de
segunda-feira, Sá Leitão, ao lado do ministro da Educação, Rossieli Soares,
anunciou a liberação imediata de R$ 10 milhões à UFRJ para a realização de
obras emergenciais no museu para garantir a segurança e preservação da
estrutura do prédio.
Leia, a seguir,
trechos da entrevista:
BBC News
Brasil - Ao longo de vários anos, diversos relatórios apontaram para as
precariedades do prédio do Museu Nacional e a falta de investimentos. Um
Relatório de 2016 da Biblioteca Nacional, por exemplo, falou do risco de que
parte do teto caísse sobre a cabeça dos pesquisadores. Esses problemas não
foram ignorados pelos governos anteriores e por este?
Sérgio Sá
Leitão - Eu acho que esses problemas foram historicamente ignorados,
mas não no meu período como ministro da Cultura.
O Museu
Nacional é gerenciado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nós tentamos
ajudá-los a achar fundos para viabilizar a revitalização da instituição.
© Buda
Mendes/Getty Images Grande parte dos 20 milhões de itens
guardados no
Museu Nacional, que incluia a maior coleção egípcia da
América do Sul, foi destruída no incêndio
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Conseguimos os
R$ 21 milhões para a revitalização, mas infelizmente o contrato foi assinado no
dia 6 de junho, e o dinheiro não chegou antes do que aconteceu ontem. Fiz o que
estava ao meu alcance, mas não posso responder por administrações anteriores.
BBC News
Brasil - Em 2004, o então secretário de Energia do Estado do Rio disse que o
prédio pegaria fogo eventualmente. Mas o que vemos são as diferentes esferas da
administração empurrando responsabilidade uma para a outra. De quem é, então, a
responsabilidade neste caso?
Sá Leitão - Os
gestores têm responsabilidade direta sobre aquilo que é da sua competência.
Nessa gestão do Ministério da Cultura, nós somos parte da solução, não parte do
problema.
Estamos
resolvendo problemas criados em gestões anteriores. Estamos viabilizando obras
que estavam paradas e se arrastavam desde 2009, 2010, 2011, saneando convênios
parados há anos, pagando editais de 2013 que não foram pagos.
Temos um
histórico de negligência, má gestão, populismo, e temos procurado resolver os
problemas de maneira objetiva e concreta.
BBC News
Brasil - Os repasses às universidades federais foram reduzidos ou ficaram
estagnados nos últimos anos, inclusive aqueles direcionados à UFRJ, responsável
pelo financiamento do Museu Nacional. O governo federal não tem
responsabilidade, portanto?
Sá Leitão - De
dois anos para cá, repasses foram reduzidos em várias áreas, porque os governos
anteriores quebraram o Brasil.
Levaram o país
à pior recessão da história, em 2015 e, em 2016, ao maior déficit fiscal da
história. É uma grande situação de descalabro.
Isso fez com
que a capacidade de investimento do governo federal fosse reduzido. Várias
medidas foram tomadas no sentido de fazer o Estado brasileiro retomar a
capacidade de investimento, mas isso é um processo.
Ainda estamos
pagando o descalabro das gestões anteriores. Agora, é importante dizer que quem
determinava quanto ia ao Museu Nacional era a UFRJ, não era o governo federal
nem o Ministério da Educação. O governo federal determinava quanto a UFRJ
receberia. Agora, quanto seria destinado para o Museu Nacional, era do âmbito
da esfera da UFRJ.
BBC News
Brasil - Mas tendo menos recursos do governo federal para UFRJ, é natural
imaginar que haveria menos repasses da UFRJ ao museu...
Sá Leitão - Se
em menos de um ano nós conseguimos obter R$ 21,7 milhões para o Museu Nacional
(em financiamento do BNDES), por que a diretoria da universidade não foi atrás
desse dinheiro antes?
© Buda
Mendes/Getty Images Na noite de segunda, governo
anunciou
liberação de R$ 10 milhões para a realização de obras
emergenciais
no prédio
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Eles poderiam
ter tentado atrair empresas privadas, poderiam tentar financiamentos ou
operações de venda de imóveis e terrenos. É fácil transferir a responsabilidade
para os outros, mas, se você gerencia algo, você é responsável por isso.
BBC News
Brasil - Do ponto de vista histórico, cultural e educacional, qual a dimensão
dessa tragédia?
Sá Leitão
- É uma das maiores tragédias que já tivemos no campo da cultura no
Brasil.
A perda em
relação ao acervo e o imóvel é imensa. Óbvio que o imóvel pode ser
reconstruído, mas o acervo não pode ser recuperado.
BBC News
Brasil - Já sabemos o que foi possível salvar e o que se perdeu?
Sá Leitão
- Uma parte do acervo não foi afetada - o que estava na parte chamada
horto, que é toda a parte de botânica.
A biblioteca
central, com cerca de 500 mil livros, e uma parte do acervo de arqueologia
foram poupados, mas, do que estava no prédio central, boa parte se perdeu.
Estamos começando a fazer esse inventário e identificar o que não pode ser
recuperado.
*Colaborou
André Shalders, da BBC News Brasil em São Paulo
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