Soldados sul-coreanos e
americanos na zona desmilitarizada
que divide os dois países. Ao
fundo, militares do norte (Foto: AFP)
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Presidente
americano é considerado um belicista imprevisível e aliado pouco confiável. Aos
poucos, aparecem sinais de tensão entre os sul-coreanos, geralmente acostumados
com a instabilidade na península.
Para entrar no
"túnel de invasão número 4", é importante não sofrer de
claustrofobia: mal iluminada, a passagem de 1,7 metro de altura conduz através
da região montanhosa no leste da fronteira entre as Coreias. Nas paredes
aparecem, de vez em quando, marcas amarelas: são resquícios das bananas de
dinamite que os norte-coreanos usaram para abrir caminho até o território
inimigo. O túnel tem cerca de mil metros de comprimento. Segundo estimativas de
engenheiros sul-coreanos, ele levou dez anos para ficar pronto.
A passagem
somente foi descoberta no início dos anos 1990 e é o último dos quatro túneis
norte-coreanos conhecidos. A existência dele foi por muito tempo negada pelo
regime do então líder, Kim Il-sung, mas os indícios são claros: em caso de
guerra, ele seria usado pelos norte-coreanos para iniciar uma invasão do sul.
"Segundo
depoimentos de um dissidente norte-coreano, havia planos para mais 20 túneis de
invasão como esse. Mas considero altamente improvável que eles tenham sido de
fato construídos", afirma Stephen Tharp, um americano com forte sotaque
sulista, óculos escuros e corte de cabelo militar.
Tharp conhece o
terreno como poucos. No início dos anos 1980, quando ainda era um jovem
soldado, ele patrulhava a região para as forças americanas. Mais tarde, durante
os anos 1990, foi enviado ao vilarejo de Panmunjom para conduzir negociações
com os norte-coreanos. Hoje, já aposentado, guia turistas pela região
divisória, uma faixa de cerca de quatro quilômetros de largura que foi liberada
para os civis em alguns pontos.
Pelo jeito,
mesmo durante a pior crise na questão coreana em décadas, não há motivos para
deixar de fazer uma tranquila visita turística à faixa que divide as duas
Coreias – o lugar mais sinistro do mundo, como definiu o ex-presidente dos EUA
Bill Clinton, que passou por lá.
Belicista
imprevisível
Enquanto a
Coreia do Sul reage de forma relativamente serena aos testes de mísseis de
Pyongyang, os famigerados tuítes do atual presidente dos EUA, Donald Trump,
costumam virar manchete em todo o mundo. Essa situação eleva ainda mais a
expectativa em torno da primeira visita de Trump à Coreia do Sul, anunciada
para o início de novembro. Ao que tudo indica, ele também vai visitar a faixa
divisória.
Mas o
republicano não será recebido de braços abertos pelos sul-coreanos. É verdade
que existe uma pequena minoria de ativistas ultraconservadores que exigem dele,
em manifestações e cartazes, a destruição total da Coreia do Norte, mas a
maioria dos sul-coreanos vê o atual ocupante da Casa Branca como um belicista
imprevisível e, além disso, como um aliado pouco confiável, que não está muito
preocupado com as vidas de 50 milhões de sul-coreanos.
"Não
devemos ver a Coreia do Norte estritamente como um tema de política externa,
separado da divisão política interna dos Estados Unidos", afirma o
historiador americano John Delury, da prestigiosa Universidade de Yonsei, em
Seul.
Depois das
ameaças feitas por Trump, o conflito da Coreia do Norte se tornou uma parte
central da identidade política do presidente.
"Ele criou
todas as expectativas possíveis sobre o que faria contra a Coreia do Norte. Se,
no fim, não fizer nada, ficará com a cara no chão."
Delury diz
esperar que a opinião pública da Coreia do Sul vá às ruas durante a visita de
Trump para deixar claro que um conflito militar não é uma opção.
Mochilas de
emergência
Quem passeia
por Seul por estes dias vê apenas sinais de normalidade: no fim de semana, o
centro estava tomado por palcos ao ar livre, com diversos shows e
apresentações, e barracas de comida. Os sul-coreanos estão levando tudo na boa,
como sempre?
As impressões
enganam, como a autora Han Kang deixou claro num artigo para o jornal "The
New York Times": "Temos medo de que uma crescente guerra de palavras
resulte numa guerra real".
A escritora
lembrou os horrores da Guerra da Coreia, que ainda estão vivos na lembrança de
muitos sul-coreanos. Isso inclui os crimes cometidos por soldados americanos,
como o massacre de Nogeun-ri, quando centenas de refugiados coreanos foram
mortos a tiros. "Para nós, qualquer solução que não levar à paz é sem
sentido", escreveu Han Kang.
Recentemente é
possível ver alguns sinais de tensão na Coreia do Sul. No início de outubro,
durante o feriado de Chuseok, algumas empresas presentearam seus funcionários
com mochilas de emergência, que continham lanternas, porções de arroz e rádios
com transistor.
Quando Trump
ameaçou a Coreia do Norte com "fúria e fogo", a procura por ouro
disparou na Coreia do Sul, e os treinamentos para civis foram ampliados.
Blogueiros sul-coreanos debateram estratégias de sobrevivência para situações
de emergência.
Por Deutsche Welle
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