Líder da
oposição Henrique Capriles fala com jornalistas, em Caracas,
na Venezuela, após a votação para governador
no domingo (15)
(Foto:
Carlos Garcia Rawlins/ Reuters)
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Coalizão de
oposição diz que houve fraude generalizada em processo eleitoral, em que
partido de presidente Maduro elegeu 18 dos 23 governadores; algumas vozes
contrárias ao chavismo dizem que 'tragédia poderia ser evitada'.
A oposição
venezuelana ainda digere a contundente derrota que sofreu domingo para o
chavismo nas eleições regionais.
O partido do
presidente Nicolás Maduro elegeu 18 dos 23 governadores.
Na oposição, a
tônica dos discursos era de que houve fraude no pleito, mas já começam a surgir
vozes reconhecendo o revés e admitindo erros de estratégia para enfrentar o
governo.
Entre terça e
quarta-feira, ex-candidatos e líderes da Mesa de Unidade Democrática (MUD),
coalizão de partidos opositores ao governo de Maduro, romperam com a norma e
começaram a admitir culpa e criticar decisões do movimento.
Um dos que
reconhecem publicamente os resultados da eleição é Henri Falcón, governador e
ex-candidato da MUD para o Estado de Lara. Ele definiu o resultado nas urnas
como "trágico". "De forma responsável, eu digo que nós perdemos,
simples assim, e temos que aceitar", disse Falcón.
Sem ódio e
violência
O político
afirma que não é o momento de gerar mais ódio ou violência. É hora, segundo
ele, de reconhecer "que a tragédia (da oposição) poderia ter sido
evitada".
Falcón perdeu o
governo de Lara para a deputada chavista Carmen Meléndez.
Outro crítico é
o governador de Amazonas, Liborio Guarulla, que atribui sua derrota no Estado à
campanha da MUD, que não conseguiu chegar a um consenso e concorreu com cinco
candidatos contra o candidato do governo.
"Em 17
anos, o Amazonas conduziu o projeto de povos indígenas e democracia. (A) MUD em
Caracas acabou com ele, impondo candidato por interesses", escreveu
Guarulla, no Twitter. Ele é do Movimento Progressista da Venezuela, partido que
decidiu apresentar um candidato próprio, fora da plataforma opositora.
O governista
Miguel Rodríguez, aliado de Maduro, ganhou a disputa em Amazonas, derrotando
com folga os outros cinco adversários.
Luta na rua
Não foi apenas
no Estado de Amazonas que opositores não chegaram a um consenso.
O movimento
Vente Venezuela, da líder opositora María Corina Machado, por exemplo, foi um
dos primeiros a se descolar da coalização e desistiu de participar das eleições
com o argumento de manter a luta na rua.
As eleições de
domingo foram realizadas depois de meses de violência - e protestos
protagonizados pela oposição.
Hora de
autocrítica
O deputado
opositor José Guerra, atribui a derrota de domingo a erros próprios e não aos
méritos dos governistas.
"Derrotamos
a nós mesmos", assinala o congressista, emendando que é responsabilidade
da oposição ter reduzido a participação eleitoral alcançada nas eleições
parlamentares em 2015.
A oposição
conquistou 11 pontos percentuais a menos, comparados aos 56% contabilizado no
pleito daquele ano.
Segundo Guerra,
a MUD não foi capaz de mobilizar seus simpatizantes para que fossem às urnas.
Por isso, a participação eleitoral, caiu de 74% para 61%.
Ainda assim, o
deputado ressalta que a votação de domingo foi a mais irregular de todas as
eleições venezuelanas desde que o chavismo assumiu o poder.
Dias antes das
eleições, argumenta a oposição, centros de votação foram modificados e
impediu-se que candidatos fossem substituídos depois das primárias da oposição,
o que foi denunciado pelos antichavistas antes e depois do pleito.
Capriles e
as críticas
Apesar de
lideranças da MUD insistirem nas denúncias de fraude nas eleições, Henrique
Capriles, principal nome da oposição ao chavismo, não se juntou ao coro.
Horas depois
das eleições, Capriles escreveu no Twitter que se mantém na oposição. No texto,
contudo, ele não fez nenhuma menção a fraude ou irregularidades no pleito.
"Não trato
de me justificar, nem de dizer palavras corretas, apenas sinceras, sou um ser
humano e me sinto igual a vocês", diz o trecho da mensagem postada.
Capriles, que
havia anunciado que não tentaria a reeleição para o governo do Estado de
Miranda, estava impedido de concorrer. A Controladoria Geral da Venezuela
decidiu que ele não pode exercer nenhum cargo eletivo por 15 anos.
Já o candidato
da oposição em Miranda, Carlos Ocariz, prefeito da cidade venezuelana de Sucre,
disse que o processo eleitoral teria sido "absolutamente manipulado".
Na
segunda-feira, a MUD publicou um comunicado em que pede uma "auditoria
total, quantitativa e qualitativa de todo o processo (eleitoral), com
verificação internacional".
No comunicado
oficial, a MUD não diz que teria cometido erros de estratégia.
No entanto, os
questionamentos e críticas internas expuseram fissuras claras entre os
adversários do governo de Nicolás Maduro.
Por BBC
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