Crise e insegurança afastam turistas e levam hotéis a bloqueio de andares | Rio das Ostras Jornal

Crise e insegurança afastam turistas e levam hotéis a bloqueio de andares

Vista aérea da Barra da Tijuca
(Foto: Alexandre Macieira/Riotur)
Em julho, temporada de férias, ocupação média foi de 40% no Rio. Para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita de empresas da atividade turística cai, em média, 1,8%, aponta CNC.
Um ano depois de ter sido o coração dos Jogos Olímpicos, a Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, enfrenta um outro desafio: ser um novo destino turístico da cidade e, dessa forma, ocupar os quartos ociosos dos hotéis construídos no bairro.
A crise está levando os hotéis, muitos deles de redes internacionais, a bloquear andares, fechar quartos e reduzir o número de funcionários e atividades para diminuir o prejuízo.
Até 2010, a Barra da Tijuca tinha 3 mil e 500 quartos de hotéis e foram construídos mais 10 mil e 500 para receber hóspedes para a Olimpíada.
Além deles, quatro hotéis, no Centro e em Botafogo, na Zona Sul, fecharam suas portas desde o ano passado. Quem trabalha com turismo relata o desespero de ver uma das crises mais profundas do estado acabar com sonhos.
"Hotéis de maior porte principalmente na área da Barra da Tijuca, que tem 500 quartos, bloqueiam dois andares e funcionam com três. Como a ocupação está baixa, você pode funcionar com dois andares, ao invés de cinco, e com isso você tem um número menor na sua brigada de colaboradores. Você tem que fazer algumas adequações que significam cortes em determinadas brigadas para poder ter um ponto de equilíbrio mais abaixo para sobreviver", afirma Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Hotéis do Estado do Rio de Janeiro (ABIH-RJ).
Segundo dados da instituição, a ocupação média dos estabelecimentos no mês de julho, temporada de férias, chegou a 40%, o que é considerado muito baixo pelo mercado da hotelaria.
Lopes afirmou que fechar quartos nos hotéis não é uma alternativa normal nas grandes cidades e destinos turísticos famosos em todo o mundo.
"É normal em áreas sazonais, por exemplo, numa estação de esqui, diminuir o número de quartos. No Rio de janeiro, não deveria ser normal. E porque está acontecendo isso? Porque nós estamos numa crise, foi ampliada muito a oferta".
Euforia x prejuízo
No início de julho, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou que o aumento da violência fez o estado do Rio perder R$ 320 milhões nas receitas com o turismo. O valor equivale a 42% do total da perda do faturamento do setor (R$ 768,5 milhões) entre janeiro e abril de 2017, em comparação com o mesmo período de 2016.
A CNC informa que, para cada aumento de 10% na criminalidade, a receita bruta das empresas que compõem a atividade turística do Estado recua, em média, 1,8%.
Os segmentos ligados ao turismo mais afetados são hospedagem e transporte. A perda atribuída à violência em 2017 equivale ao faturamento de 4,5 dias do turismo na cidade.
Em entrevista ao G1, o consultor da HotelInvest, Pedro Cypriano, disse que os projetos e investimentos pensados para a Barra da Tijuca ocorreram em um momento de "euforia", com o país e o estado do Rio em pleno auge econômico. De acordo com Cypriano, esse cenário mudou e a recuperação será difícil enquanto a economia não decolar.
"Hoje, os principais hotéis já estão no prejuízo operacional. Os que ainda não entraram, estão muito próximos disso, com uma taxa de ocupação de 40%".
Ele aponta como principais fatores a crise na economia nacional, a crise política e econômica do estado do Rio e vê poucas alternativas. Segundo Cypriano, o Rio passa por um momento delicado na área da hotelaria.
Parque Olímpico seis meses após realização dos
Jogos Olímpicos (Foto: Alexandre Macieira/Riotur)
Uma boa saída seria o investimento na área de lazer desses estabelecimentos, já comum em hotéis do interior de São Paulo e de outras região do Brasil, com os conhecidos resorts.
Na época da Olimpíada, a plataforma de hospedagens online Booking.com, fez um levantamento com oito mil participantes em oito países que revelou que os Jogos no Rio estavam no topo da lista de desejos dos seguidores de esportes.
Na liderança estavam os brasileiros com 49%, seguidos pelos chineses com 47% e italianos com 34%. Durante os Jogos, as principais nacionalidades na cidade foram os brasileiros, argentinos, americanos, britânicos e franceses.
Atualmente, o Rio segue como destino preferido e atrai além dos brasileiros, os turistas argentinos, chilenos, franceses e americanos. Esses turistas buscam, em sua maioria, as praias e as paisagens naturais.
Os hotéis são os mais procurados, sendo seguidos pelos albergues, apartamentos, pensões e apart-hotéis. Na virada entre 2016 e 2017, o Booking.com constatou que 58% dos viajantes planejavam priorizar seus gastos na cidade em experiências pessoais ao invês de bens materiais.
Cidade insegura
Na opinião dos especialistas, além da crise econômica, a cidade sofre com o aumento da insegurança o que também afasta os turistas, principalmente o nacional.
"Com a violência urbana, não se consegue crescer no potencial que deveria. É preciso ter condições suficientes para fazer do Rio de Janeiro uma cidade desejável. Acredito que os próximos dois anos serão para apertar os cintos", disse Pedro Cypriano.
O aumento da violência também preocupa a ABIH-RJ e é apontada como um dos fatores de fuga de turistas de algumas regiões, como o Centro da cidade .
"Eu acho que é o pior momento. A gente teve um crescimento em parábola e estamos descendo na vertical porque a piora é muito acentuada. Todos nós, cariocas que moramos aqui, vemos isso. Se você sai à noite no Rio você se pergunta: 'Caramba, onde foi todo mundo?'
Turistas x mudanças de hábitos
O G1 foi até pontos turistícos e conversou com profissionais que vivem do turismo e com os visitantes, muitos na cidade pela primeira vez. Para a maioria, a percepção da insegurança aumentou e novos hábitos foram adotados.
Cirilo Terra é proprietário de dois quiosques na Praia de Ipanema, Zona Sul. Ele disse que está passando pelo pior momento nos seus 21 anos à frente do negócio. Segundo ele, a queda das vendas nos dois locais é de 80%. Cirilo disse que a violência e a crise econômica são os principais motivos para sumiço dos clientes.
"Caiu muito [movimento], como eu nunca vi antes. A queda foi muito brusca. O poder aquisitivo está baixo, os turistas compram pouco e estão sempre reclamando dos preços. Eu funciono aqui 24 horas e chega uma determinada hora que não passa uma alma viva aqui, nem sequer a polícia também. Não tem segurança, segurança zero. Já fui assaltado aqui seis vezes em seis meses com carro parrando aqui com revólver na cabeça de funcionários", disse.
Segundo ele, outros donos de quiosques da orla passam pela mesma situação.
"Não tem ninguém aqui [turistas]. Isso aqui era lotado antes. Eu tinha 30 mesas [no quiosque] para atender o público e tive que diminuir. Outros quiosqueiros contam que a situação está crítica".
Os turistas que circulam pelos principais pontos turísticos estão mais cuidadosos e atentos. Em Copacabana, três amigos de Buenos Aires decidiram passar alguns dias no Rio pela primeira vez e se hospedaram em um grande hotel no bairro.
Informados sobre a insegurança, eles contaram que tomam algumas precauções e procuram não sair para locais mais distantes à noite.
"Tomamos alguns cuidados como não usar relógios e também saímos com um celular só para tirar fotos, mas isso também acontece em Buenos Aires onde tem que ter cuidado em regiões perigosas".
O casal de namorados Murilo e Tássia veio de Pelotas, no Rio Grande do Sul, para conhecer a cidade e aproveitar o calor mais ameno de julho.
No ponto de informações turísticas no Posto 4, também em Copacabana, eles contaram que estão preocupados com a segurança, principalmente com o que vêem pela televisão, mas querem aproveitar a cidade ao máximo e para isso também não usam relógios, celular e outros objetos de valor.
Uma funcionária do espaço disse que aumentou o número de questionamentos dos turistas sobre locais seguros para visitar na cidade. Segundo ela, essa não era uma preocupação de quem visitava o Rio até o ano passado.
Já a família dinamarquesa, que faz uma viagem turística pelo Brasil, e passeava em Copacabana disse que leu sobre os episódios de violência, mas não é motivo para impedir que eles curtam a praia e caminhem com objetos de valor e os celulares.
No Trem do Corcovado, uma das principais atrações turísticas do Rio, as filas para visitar o Cristo Redentor já não são as mesmas registradas em plena temporada olímpica no ano passado.
Funcionárias de uma loja de souvenirs disseram estranhar a falta de público na atração turística. Elas também identificam uma queda nas vendas.
" A fila ia longe e agora não há mais filas", disse a vendedora que pediu para não ser identificada.
Vírginia Lúcia Azevedo trabalha há seis anos entregando panfletos de um restaurante no Corcovado e também percebeu o sumiço da clientela.
" O movimento não está como há um ou dois anos atrás depois do aumento da criminalidade no Rio. Está tudo mais perigoso", disse.
Luz no fim do túnel
A advogada pernambuca Rebeca Verônica Carvalho, 33 anos, diz que é uma apaixonada pela cidade e sempre que pode visita a família que mora aqui. Ela esteve no Rio em outubro de 2016, logo depois dos Jogos Olímpicos. Nesse retorno disse que percebeu um clima diferente e lamenta não poder circular mais à vontade pelas ruas e ter que esconder objetos de valor e celular.
"Antes quando eu vinha eu me sentia mais à vontade de andar, me sentia mais segura . Tem lugares que fui antes e já não ao posso ir. Está perigoso. Eu realmente estou achando que está muito mais inseguro do que antes".
Apesar disso, recomenda uma visita à cidade e diz que vai voltar na expectativa que as coisas melhorem.
"Eu recomendo com certo cuidado, mas vou voltar. Espero que esteja melhor".
A professora Monica Valéria Cardoso nasceu no Rio, mas vive em Florianópolis há 40 anos. Ela está sempre visitando a cidade e percebeu mudanças no espírito de bem receber do carioca. Ela diz que percebeu todo mundo mais preocupado e alerta.
"Na Copa do Mundo havia uma euforia e agora percebi que as pessoas estão mais preocupadas. Na Copa, eu senti mais segurança e as pessoas felizes com o momento e passavam isso. Agora, senti o Rio de Janeiro mais pobre".
Mônica disse que essa situação a entristece e espera que as coisas melhorem para que continue sentindo orgulho da cidade onde nasceu.
Para a ABIH, a luz no fim do túnel pode ser o investimento no mercado sul-americano e também fazer com que o turista nacional volte a viajar para o Rio.
"Com todo esse pano de fundo de violência, o Rock in Rio vendeu 700 mil ingressos em uma semana, ou seja, o Rio de Janeiro tem um grande apelo. O que falta é um calendário. Se conseguirmos montar esse calendário atrelado à capacidade que o Rio tem hoje de atrair eventos, tudo volta a funcionar", disse.
Nas páginas de reservas de hospedagem na internet as datas para o Rock in Rio, entre os dias 15 e 24 de setembro, apresentavam no final de julho taxa de ocupação de 70%. O site oficial do Rock in Rio também divulga uma listagem de hotéis para quem vier à cidade para assistir aos shows.
O presidente da ABIH acredita em uma melhora de cenário para o ano que vem.
" O Rock in Rio vai ser um grande evento. A prefeitura está anunciando um Reveillon de 12 dias juntando com o Natal. E o carnaval vai ter investimento no Sambódromo. Vamos ter recuperação já a partir deste segundo semestre e melhorando a partir do ano que vem para que a rede hoteleira respire", afirma.

Por Káthia Mello, G1 Rio
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