Gilmar
Mendes e Rodrigo Janot
(Charles Sholl/Mateus Bonomi/Folhapress)
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Após ministro do STF acusar PGR de
vazar depoimentos e documentos de apurações, procurador-geral fala em 'mentes
dadas a devaneios' e 'decrepitude moral'
O clima azedou entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot,
por causa do debate a respeito do vazamento de informações sigilosas de
investigações em andamento.
Na terça-feira, durante uma sessão
da Segunda Turma do STF, o ministro insinuou que a Procuradoria-Geral da República (PGR), uma das responsáveis
pela Operação Lava Jato, está envolvida com a divulgação ilegal de apurações.
Ele disse que a Procuradoria está fazendo o Supremo de “fantoche” e,
dirigindo-se à subprocuradora-geral, Ella Wiecko, pediu mais “respeito”
por parte do órgão. Mendes chegou a dizer que era a favor de que documentos e
depoimentos vazados, como parte das delações premiadas da Odebrecht, fossem descartados pela
Justiça.
Nesta quarta-feira, Janot
reagiu. Ele fez um discurso em homenagem aos três anos da Operação Lava
Jato, durante a Reunião de Avaliação das Eleições 2016, e, apesar de não
citar Gilmar Mendes, repudiou “com veemência” a insinuação de que o Ministério
Público estaria envolvido com vazamentos. “É uma mentira que beira a
irresponsabilidade”, alegou.
O procurador estava se referindo
à coluna publicada pela jornalista Paula Cesarino Costa, ombudsman do
jornal Folha de S.Paulo, e comentada por Mendes, de que
procuradores promovem “entrevistas coletivas em off”, reuniões com jornalistas
em que, sob a proteção do anonimato, passam informações secretas. Janot
declarou que atribui essa versão a “mentes ociosas e dadas a devaneios,
mas, infelizmente, com meios para distorcer fatos”.
“Entreter a opinião pública”
Na sessão de terça-feira, Gilmar
Mendes afirmou que tal procedimento é crime, que “os procuradores certamente
não desconhecem”. E criticando o Ministério Público, que tem como função
principal investigar, que “as investigações devem ter por objetivo
produzir provas, não entreter a opinião pública ou demonstrar
autoridade”.
Para ele, quem não compartilha da
sua avaliação de que as investigações estão comprometendo, não só os políticos
de hoje, mas as próprias instituições da política, é “um irresponsável”.
“Não é digno de ocupar os cargos que porventura está a ocupar”, concluiu.
Gilmar Mendes, que havia dito que
“a divulgação de informações sob segredo de Justiça parece ser a regra e não
exceção”, respondeu à subprocuradora Ela Wiecko, que manifestara no
STF a contrariedade da PGR a respeito dos expedientes criticados por
ele. “”A mídia não estaria divulgando nomes se esses nomes não estivessem
sido fornecidos. É muito claro, não vou acreditar que a mídia teve
acesso a partir de uma sessão espírita, isso parece ser evidente.”
“Decrepitude moral”
Nesta quarta, Janot afirmou que os
membros do Ministério Público procuram se distanciar “dos banquetes
palacianos”, em uma nítida menção ao ministro do STF, que, amigo pessoal do
presidente Michel Temer, é habitué de jantares nos palácios do Planalto e do
Jaburu, sede administrativa e residência do peemedebista.
Ele prosseguiu, criticando que
“alguns” pretendem “nivelar a todos à sua decrepitude moral e,
para isso, acusam-nos de condutas que lhes são próprias”. E lamentou,
ironizando, que precisava “reconhecer” que existem homens dispostos “a
sacrificar compromissos éticos no altar da vaidade desmedida e
da ambição sem freios”.
Após continuar atacando seus
detratores, “que perdem o referencial de decência e de retidão”, Janot encerrou
a fala citando o filósofo Montesquieu: “O homem público deve buscar sempre
a aprovação, mas nunca o aplauso”.
Gilmar x Janot
Cheguei a propor no final do ano
passado o descarte do material vazado, uma espécie de contaminação de provas
colhidas licitamente e divulgadas ilicitamente e acho que nós devemos
considerar esse aspecto. A novidade trazida pela publicação da ombudsman (do
jornal Folha de S. Paulo) está na divulgação de um novo instrumento de
relacionamento com a imprensa, a entrevista coletiva em off
Gilmar Mendes
Não há nenhuma dúvida de que
aqui está narrado um crime. A Procuradoria não está acima da lei. E é grande a
nossa responsabilidade, sob pena de transformarmos este tribunal num fantoche.
Um fantoche da Procuradoria da República. É preciso tratar o Supremo, doutora
Ella (Wiecko, representante da PGR no julgamento), com mais respeito
Gilmar Mendes
A divulgação de informações
sob segredo de Justiça parece ser a regra e não exceção. A mídia não estaria
divulgando nomes se esses nomes não tivessem sido fornecidos. É muito claro,
não vou acreditar que a mídia teve acesso a partir de uma sessão espírita, isso
parece ser evidente
Gilmar Mendes
Só posso atribuir tal ideia a
mentes ociosas e dadas a devaneios, mas, infelizmente, com meios para distorcer
fatos e desvirtuar instrumentos legítimos de comunicação institucional. É uma
mentira que beira a irresponsabilidade afirmar que realizamos na Procuradoria-Geral
da República coletiva de imprensa para “vazar” nomes da Odebrecht
Rodrigo Janot
Procuramos nos distanciar dos
banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam
desavergonhadamente o poder político
Rodrigo Janot
Precisamos reconhecer que sempre
houve na história da humanidade homens dispostos a sacrificar seus compromissos
éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios
Rodrigo Janot
Por Guilherme Venaglia
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