Imigrante da
Guatemala espera a passagem de um trem nos
arredores da
Cidade do México (Foto: AP Photo/Marco Ugarte)
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Mexicanos se indignaram com
propostas de Trump para imigração. Mas política de seu governo também é
criticada: nos últimos anos, país fechou cerco a centro-americanos que tentam
chegar aos EUA e intensificou deportações.
E se o governo mexicano não for
vítima da política migratória americana, mas seu agente executório? Não só o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas também o presidente do México,
Enrique Peña Nieto, enfrentam críticas crescentes devido à maneira como tratam
imigrantes ilegais.
"O México intensificou
drasticamente a procura por imigrantes ilegais desde 2014. Para os emigrados da
América Central, o México é muito perigoso", diz Maureen Meyer, da ONG de
defesa dos direitos humanos Wola. "As detenções, deportações e a violência
contra imigrantes aumentaram muito."
Segundo o governo mexicano, entre
2010 e 2015, o número de deportações subiu de 65.802 para 176.726 no país. No
ano passado, 147 mil imigrantes ilegais foram deportados do México – mais de
90% deles vieram de países da América Central, como Guatemala, Honduras e El
Salvador.
Desde a adoção de um programa para
reforçar o controle na fronteira sul do México, em 2014, a viagem pelo
território mexicano se tornou um corredor polonês. Os imigrantes precisam
passar por inúmeros controles em rodovias e terminais de ônibus e podem ser
pegos a qualquer momento.
Truculência policial
Segundo dados do Wola, o número de
detenções aumentou de 96.298, em 2013, para 198.141, em 2015, nos postos
fronteiriços mexicanos com Guatemala e Belize. A política posta em prática,
afirmam entidades de defesa dos direitos dos imigrantes, é contrária ao
discurso oficial do governo mexicano.
"O Estado mexicano não cumpre
as obrigações internacionais e constitucionais, porque não respeita os direitos
humanos dos migrantes", critica a Rede de Documentação das Organizações
Defensoras de Migrantes (Redodem).
Segundo uma pesquisa realizada em
vários campos de acolhimento na Guatemala pela Redodem com 30 mil imigrantes
deportados, aproximadamente 45% dos entrevistados afirmaram que estiveram à
mercê da violência do crime organizado. Quase o mesmo número – 41% – reclamou
do uso exagerado de força pelas forças de segurança do México.
A linha dura contra imigrantes da
América Central e do Sul parece não ter sido politicamente rentável para o
governo do México. E em Washington não há nenhum sinal de gratidão. "Os
mexicanos sentem que os seus esforços de reduzir o fluxo de migrantes da
América Central aos EUA não são reconhecidos", diz Meyer.
A especialista afirma estar
convencida de que o presidente mexicano usará o trunfo da migração nas
iminentes negociações com o governo Trump sobre como proteger a fronteira entre
os EUA e o México. Muitos mexicanos são da opinião que os migrantes que querem
entrar nos EUA não devem necessariamente ser retidos em território mexicano.
Obama: líder em deportações
O ex-presidente Barack Obama
também seguiu uma linha dura em relação ao tema imigração e esperou em vão por
reconhecimento político. Durante os seus oito anos na Casa Branca, entre 2009 e
2017, cerca de três milhões de mexicanos foram deportados – mais do que durante
o mandato de qualquer outro presidente americano.
"Obama acreditava que
conseguiria passar sua legislação de imigração no Congresso, se mostrasse aos
republicanos que ele forçou deportações e seguia uma linha dura", explica
Meyer. Mas a esperança provou ser falsa. "Houve deportações em massa de
migrantes, separações de famílias e uma crescente militarização da fronteira
entre México e EUA", lembra a especialista.
Atualmente, o número de
deportações caiu novamente. Desde o ápice em 2010, quando os números oficiais
do governo Obama mostravam que 469 mil mexicanos foram enviados de volta ao
país de origem, a quantidade de deportações recuou para 143.370 casos em 2016.
Imigrantes pagam a conta?
Milhões de imigrantes ilegais nos
EUA temem uma nova onda de detenções e deportações. Além da anunciada
construção de um muro fronteiriço, o governo do presidente Trump estaria
estudando empregar dez mil policiais adicionais para procurar por imigrantes
ilegais num raio de 100 quilômetros ao longo da fronteira com o México.
Além disso, tem circulado uma nova
ideia de como a construção do muro deve ser financiada. O senador republicano
Mike Rogers, do estado do Alabama, sugeriu taxar as remessas enviadas por
imigrantes mexicanos a seus familiares no México com um imposto de 2%.
À primeira vista, um negócio
lucrativo. Pois, entre novembro de 2016 e janeiro de 2017, remessas de
imigrantes mexicanos às suas famílias totalizaram 27 bilhões de dólares. Para
as autoridades fiscais dos EUA, isso significaria uma receita adicional de 540
milhões de dólares.
Para a economia do México, no
entanto, isso seria um golpe duro. E caso o novo governo dos EUA adote essa
medida, provavelmente abriria uma nova disputa judicial. Pois um imposto sobre
remessas para apenas um grupo populacional será provavelmente considerado
inconstitucional.
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