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Brasil Michel Temer e Moreira Franco
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Se o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, investigado pela Lava Jato, não pôde se tornar ministro de Dilma
Rousseff, Moreira Franco (PMDB), citado 34 vezes por um delator da Odebrecht,
também não pode ganhar um ministério de Michel Temer.
É esta a base da argumentação dos
autores da ação popular que resultou na suspensão na nomeação de Moreira
Franco, um dos braços direitos de Temer, como ministro.
No último dia 2, três dias depois
da homologação da colaboração da Odebrecht pelo STF (Supremo Tribunal Federal),
Temer recriou a Secretaria-Geral da Presidência, que tem status de ministério e
havia sido extinta em 2015 por Dilma Rousseff.
Para os autores da ação popular,
Temer teria manobrado com o objetivo de garantir foro privilegiado a Moreira
Franco. Ele ocupava o cargo de secretário-executivo do PPI (Programa de
Parcerias em Investimentos) e seria julgado, em caso de denúncia, pelo juiz Sergio
Moro.
Como ministro, ele só poderia ser
julgado pela Suprema Corte.
"No caso Lula, a nomeação
mudaria a competência para investigá-lo e isso gerou reação enorme na Justiça e
nas ruas", afirmou à BBC Brasil o advogado Gianmarco Ferreira, um dos três
autores da ação pública.
"Temer agora nomeia uma
pessoa investigada, a fim de transferir a competência do juiz que cuida do caso
para o Supremo, dando a ele igual foro privilegiado."
Moreira Franco nega que o objetivo
da nomeação seja a obtenção do foro privilegiado. Durante a cerimônia de posse
dele no cargo, Temer argumentou que a medida serve para "aprimorar as
condições de governança, buscar maior eficiência e melhorar a gestão
pública".
Medida provisória
Ferreira aponta que, apesar das
semelhanças, os casos Lula e Moreira Franco têm particularidades, como a
decisão de Temer pela recriação da Secretaria-Geral da Presidência por medida
provisória.
"Embora a medida provisória
tenha previsão constitucional, ela só cabe em casos de urgência. Criar um
ministério como este não passa por nenhuma necessidade ou urgência que
justifique que ele não seja criada por uma lei, que seria o caminho
natural", explica.
Nem Ferreira nem os outros dois
autores da ação popular têm filiação a partidos políticos.
Moreira Franco foi citado 34 vezes
por Claudio Melo Filho, primeiro delator da Odebrecht a ter suas declarações à
Lava Jato reveladas. O conteúdo da colaboração foi divulgado e depois colocado
em sigilo pela Justiça.
A liminar que derruba
temporariamente Moreira Franco do cargo de ministro é do juiz Eduardo Rocha
Penteado, da Justiça Federal do Distrito Federal.
O magistrado afirmou em sua
decisão que Moreira Franco foi mencionado "com conteúdo comprometedor na
delação da Odebrecht" e que "sua nomeação como ministro de Estado
ocorreu apenas três dias após a homologação das delações, o que implicará na
mudança de foro".
"Sendo assim, indícios
análogos aos que justificaram o afastamento (...) se fazem presentes no caso
concreto", prossegue o juíz.
Penteado também cita a suspensão
da nomeação de Lula para o ministério de Dilma, determinada no ano passado pelo
ministro do STF Gilmar Mendes, como jurisprudência.
"O ministro Gilmar Mendes
reconheceu que consubstância desvio de finalidade o ato do presidente da
República que nomeia ministro de Estado com o propósito de conferir a este foro
por prerrogativa de função."
Reação do governo
O governo Michel Temer já repara
uma resposta à liminar concedida pela Justiça do Distrito Federal.
Além da ação popular que resultou
na liminar, outras três ações pedem à Justiça Federal que Moreira Franco não
assuma o ministério - no Amapá, em São Paulo e no Distrito Federal.
Em março do ano passado, a defesa
de Lula argumentava que as várias ações que pediam seu afastamento fossem
avaliadas em conjunto, o que na época lhe foi negado.
Também foi decidido que têm
competência para avaliar este tipo de caso juízes de primeira instância da
localidade onde moram os autores da ação - os três autores da petição contra
Moreira Franco são de Brasília.
Questionado sobre a chance de a
liminar ser derrubada pela equipe jurídica de Temer, o autor afirmou que já
prepara reação.
"O governo deve tentar cassar
esta liminar questionando a competência do juiz, mas isso não faria sentido
porque a jurisprudência recente (no caso Lula) diz que a primeira instância tem
essa competência", diz o autor da petição.
"Estamos esperando a resposta
ao recurso pela União. Pretendemos responder com recurso apropriado para estes
casos, que é agravo no Tribunal Regional Federal."
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