A Associação Nacional dos
Delegados da Polícia Federal (ADPF) vai encaminhar nesta segunda-feira, 12, ao
presidente Michel Temer um pedido de substituição do diretor-geral da
corporação, Leandro Daiello. A entidade atribui à gestão de Daiello a saída de
delegados que integravam a força-tarefa da Lava Jato e vê risco de prejuízo às
investigações com a permanência do atual chefe. A decisão de abrir uma campanha
explícita para derrubar o diretor-geral – inédita na história da PF – foi aprovada
em assembleia na sexta-feira passada por 72% dos participantes. O movimento
busca aproveitar a provável mudança no comando do Ministério da Justiça para
trocar também a direção da PF. Em nota, a associação afirma que, por falta de
apoio da direção, “delegados que coordenavam operações policiais foram
deslocados para outras áreas e locais, devido ao esgotamento físico, mental e
operacional a que são submetidos”. Diz ainda que a “constante omissão” da
Diretoria-Geral “vem causando o enfraquecimento da instituição, pois não
promove o apoio devido àqueles que se dedicam às grandes operações”.
O comunicado coincide com a saída
do delegado Márcio Adriano Anselmo da Lava Jato. Considerado um dos cabeças da
operação, ele foi transferido para a Corregedoria da PF no Espírito Santo,
alegando justamente “esgotamento físico e mental” depois de mais de três anos
de investigações. Anselmo é o quinto delegado da PF a deixar a Lava Jato desde
o início da operação. Antes dele, foram deslocados os delegados Eduardo Mauat,
Luciano Flores, Duilio Mocelin e Erika Mialik Marena – especialista em crimes
financeiros e lavagem de dinheiro. Erika lidera a lista tríplice eleita por
1.330 dos 1.700 delegados em atividade no fim de maio do ano passado, quando do
afastamento da presidente Dilma Rousseff. Na carta que será encaminhada nesta
segunda a Temer, a associação volta a defender a substituição do atual
diretor-geral por um dos nomes da lista.
Além de Erika, integram a relação
os delegados Rodrigo Teixeira e Marcelo Freitas, ambos de Minas Gerais. A
primeira vez que os nomes foram apresentados ao presidente foi quando Temer
tomou posse interinamente e nomeou Alexandre de Moraes para o Ministério da
Justiça. Agora a ADPF quer valer-se da saída de Moraes, indicado para o Supremo
Tribunal Federal, para emplacar um deles. “Levando em conta que a atual direção
da PF está à frente da instituição há mais de seis anos, sem mudanças
significativas nos cargos de comando, sem modernização e avanços na gestão;
considerando a vontade manifesta da ampla maioria dos Delegados de Polícia
Federal que, reunidos em assembleia, decidiram apoiar a mudança da direção
geral e a indicação de um dos representados em lista tríplice já votada e
aprovada”, diz trecho da carta.
Operações. A
associação também se diz insatisfeita com suposta falta de suporte às operações
Acrônimo e Zelotes – ao lado da Lava Jato, as principais investigações de
corrupção atualmente em curso. Embora não apresente números, a entidade
sustenta que, nos dois casos, houve redução das equipes de investigação, o que
prejudica o andamento de inquéritos com foco em políticos e executivos de
grandes grupos econômicos. A ADPF alega que a Zelotes, que investiga
empresários por “comprar” medidas provisórias e decisões de impacto bilionário
do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), deixou de ser conduzida
pela Diretoria-Geral e foi transferida à Superintendência da PF em Brasília – o
que seria um sinal de que perdeu importância. A investigação da própria Lava Jato
em Brasília também estaria perdendo quadros, sendo que, cada vez mais, mira em
políticos com foro privilegiado. “Há um sentimento na corporação de que a Lava
Jato está chegando ao fim”, disse o presidente da associação, Carlos Eduardo
Sobral.
Receio. Na carta a ser
entregue a Temer, a associação dos delegados argumenta que a escolha de um dos
nomes da lista tríplice não alimentaria o “eventual receio da sociedade que
tais mudanças possam comprometer o destino de grandes operações em curso”. Os
delegados avaliam que o temor no governo de que a substituição de Daiello possa
ser interpretada como uma tentativa de estancar a Lava Jato é o principal
trunfo do diretor-geral para se manter no cargo. Segundo o diretor regional da
ADPF em Minas Gerais, Luiz Augusto Pessoa Nogueira, Daiello recebeu muitas
críticas internas quando a Procuradoria-Geral da República decidiu que delações
da Lava Jato seriam tratadas sem os delegados da Polícia Federal para evitar
vazamentos. A assessoria de imprensa da Polícia Federal foi procurada neste
domingo, 11, pelo Estado, mas disse que a corporação não iria se manifestar.
Daiello não foi localizado.
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