Grupo de
candidatos aprovados no concurso da PM acompanha
audiência
sobre o tema na Alerj (Foto: Alessandro Ferreira/G1)
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Concursados citam estabilidade,
vocação e influência familiar como motivos. Policial que fazia segurança de Paes será enterrado nesta segunda-feira.
Salários baixos e, ultimamente,
pagos com atraso ou em parcelas. Más condições de trabalho, casos de corrupção
e imagem da corporação desgastada. E, principalmente, o risco inerente à
profissão potencializado pela violência no Rio: foram 50 mortes só em 2016 – já
contando o óbito do tenente que atuava na segurança do prefeito Eduardo
Paes, no domingo (26). Diante de tantos indícios desanimadores, o que ainda
leva alguém a optar pela carreira de policial militar no Rio de Janeiro?
O G1 conversou
com candidatos aprovados no último concurso para a PM, realizado em 2014.
Embora se mantenham firmes na intenção de ingressar na corporação, é fácil
perceber que a precaução já é regra antes mesmo de vestir a farda: praticamente
todos só concordaram em falar sob a condição de não serem identificados, por
temerem represálias.
Os entrevistados estiveram em uma
audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj),
na quarta-feira (22), na qual foi discutida justamente a lentidão na
incorporação dos aprovados – cerca de 4,5 mil ainda esperam pela convocação.
Sou formada em administração de
empresas, mas fui mãe e precisei cuidar da minha filha. Estou há cinco anos
fora do mercado e só consigo empregos de baixa qualificação, como
telemarketing. Então optei por ao menos ter alguma estabilidade no serviço
público, embora meu marido tenha tentado me fazer desistir"
candidata a policial militar
Para uma candidata, de 32 anos e
casada com um PM lotado numa Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a
corporação foi a oportunidade mais palpável de se recolocar no mercado de
trabalho, mesmo contra a opinião do marido.
"Sou formada em administração
de empresas, mas fui mãe e precisei cuidar da minha filha. Estou há cinco anos
fora do mercado e só consigo empregos de baixa qualificação, como
telemarketing. Então optei por ao menos ter alguma estabilidade no serviço
público, embora meu marido tenha tentado me fazer desistir", conta ela.
Chance de melhorar de vida
Único dos entrevistados que aceitou se identificar, Nilton Monteiro, 30 anos, vê o ingresso na polícia como uma tentativa de melhorar de vida que, para ele, atrai principalmente quem não tem muitas opções.
Único dos entrevistados que aceitou se identificar, Nilton Monteiro, 30 anos, vê o ingresso na polícia como uma tentativa de melhorar de vida que, para ele, atrai principalmente quem não tem muitas opções.
"Um sujeito cuja família
tenha recursos não escolhe ser praça da PM, é claro, mas para muitos é a única
chance de ter um salário e poder até bancar os estudos. E ainda há a
possibilidade de fazer carreira na PM", explica, acrescentando que o medo
de ser identificado por um criminoso e acabar baleado também deve ser
considerado.
"Quando você escolhe ser
policial, tem que abdicar de pelo menos parte da sua vida social, mas há os que
preferem manter a rotina e acabam se expondo a riscos."
No meu caso, a escolha da
profissão tem a ver com a vocação mesmo: eu sempre quis ser policial, desde que
me entendo por gente""
candidata a PM
A vocação para a carreira de
policial e a influência familiar também têm peso na escolha de muitos, como uma
jovem loura também presente à audiência.
"No meu caso, a escolha da
profissão tem a ver com a vocação mesmo: eu sempre quis ser policial, desde que
me entendo por gente", disse.
Opinião idêntica à de dois amigos,
que são colegas do nono período de Direito e disseram trazer a vontade de
trabalhar na segurança pública desde garotos.
Outro candidato ressalta que para
ser policial é preciso ter bom preparo psicológico para enfrentar as ameaças do
cotidiano, mas cita o ambiente no qual foi criado como impulso para escolher a
PM.
"A influência familiar conta,
pois tenho vários parentes policiais. Acho que posso cumprir uma função muito
importante para sociedade, mas vejo as dificuldades de perto: meu pai e meu
irmão, ambos PMs, não recebem o RAS desde novembro", diz o rapaz,
referindo-se à gratificação do Regime Adicional de Serviço, que é paga aos
agentes que fazem horas extras para a própria Polícia Militar.
Deputados cobram solução para concursados
Enquanto mais de 200 candidatos aprovados no concurso de 2014 aguardava nas escadarias da Alerj, cerca de 50 deles acompanhavam a audiência pública convocada pela Comissão de Segurança Pública da Casa. Sub-chefe do Estado Maior Geral Administrativo da PM, o coronel Márcio Basílio afirmou que um impasse entre a PM e a empresa Exatus, que organizou o certame, impede a convocação dos aprovados.
"Mais de três mil pesquisas
de conduta social já foram feitas, mas as negativas da empresa em fornecer a
listagem final dos aprovados impedem que os aprovados sejam incorporados. Temo
que isso ocorra pelo medo de não receber pelo serviço. Devemos em torno de R$
800 mil, que estão reservados para o pagamento, mas só serão repassados após a
publicação da listagem final", explicou o coronel, assegurando que a
suspensão dos concursos públicos determinada pelo governador Francisco
Dornelles não atinge as seleções já em andamento.
Os problemas com a Exatus levaram
o deputado Paulo Ramos (PSOL), que é oficial da reserva da PM, a sugerir que a
corporação volte a organizar seus concursos, evitando entregá-los a bancas
contratadas.
"Durante muito tempo foi
assim e sempre funcionou bem", disse Ramos, lembrando que a grande procura
pela carreira de policial não se deve apenas à falta de empregos: "Há
também um apreço pela função, creio eu".
Bruno Dauaire (PR) sugeriu que a
empresa seja declarada inidônea e impedida de contratar com o poder público,
enquanto Flávio Bolsonaro (PSC) lembra que isso já aconteceu em outros estados.
Segundo a tenente-coronel Rosana
Fernandes, diretora de logística do Centro de Recrutamento e Seleção de Praças
(CRSP), o processo de sanções administrativas contra a empresa está em
andamento. "Pedimos ajuda da Procuradoria Geral do Estado para tomar
medidas judiciais", disse.
Presidente da comissão, a deputada
Martha Rocha solicitou que os deputados se reúnam com o Ministério Público
Estadual para pedir que a Promotoria de Tutela Coletiva entre no caso e
interceda em favor da PM e dos candidatos que esperam pela convocação. Ao fim
da audiência, o coronel Basílio assegurou que todos os aprovados serão
incorporados, mas não estabeleceu uma data para que isso aconteça.
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