Sistema chegou a ser vetado por
Dilma, mas foi revalidado pelo Congresso. Para 'experts', custo maior é
necessário para dar transparência à apuração.
Contrário à adoção do voto
impresso, o Tribunal Superior Eleitoral prevê uma série de dificuldades para
implementar o novo sistema no país. Aprovada pelo Congresso na minirreforma
eleitoral, a impressão foi vetada pela presidente Dilma Rousseff em setembro. O
veto, porém, foi derrubado na última quarta (18) e o novo sistema será usado
nas eleições de 2018.
Num documento obtido pelo G1, a
área técnica da Corte detalha os gastos de R$ 1,8 bilhão previstos para a
compra, manutenção e transporte das impressoras, entre outros gastos (veja na
tabela ao lado).
Seria necessário, por exemplo,
comprar 833.036 impressoras (uma para cada urna) de um modelo cujo tamanho é
semelhante ao que é usado para emitir notas fiscais. A quantidade inclui também
a aquisição de mais urnas eletrônicas – atualmente existem 451 mil –, já que,
segundo tribunal, seria necessário abrir mais locais de votação para compensar
o tempo maior previsto para cada voto e assim evitar atrasos.
Apesar dos gastos extras,
especialistas ouvidos pelo G1 veem avanço no novo modelo, pela possibilidade de
fazer uma conferência do resultado eletrônico a partir de uma pequena amostra
do registro físico. Eles consideram o atual sistema eletrônico
"inauditável" e alegam que obstáculos na implantação podem ser
superados, principalmente pela melhora nos procedimentos para organizar as
eleições.
Secretário de Tecnologia da
Informação do TSE, Giuseppe Janino discorda: considera o voto impresso
"ineficiente", "ineficaz para auditoria" e
"prejudicial para o processo". Ele argumenta que hoje o tribunal já
submete as urnas e o software usado nelas para consultas e testes pelos
partidos, e que o voto impresso traria de volta a "intervenção
humana" na apuração.
"Onde há intervenção humana,
há lentidão, prática de erros e possibilidade de fraudes. A impressão traz, em
síntese, a volta das mesas apuradoras", diz o secretário, que também
alerta para a possível demora na divulgação dos resultados.
"Certamente não teremos mais
o resultado no mesmo dia, vamos ter esse resultado em talvez um ou dias depois,
considerando essa interferência manual no processo", afirma.
Outro problema, diz, é o tempo maior
para cada eleitor votar. Pelo novo modelo, após digitar na urna eletrônica, o
eleitor vai conferir sua escolha no registro impresso, que depois será
depositado numa urna física de forma automática e sem contato manual (veja no
vídeo ao lado).
Em 2002, lembra Janino, o TSE
adotou o voto impresso em algumas urnas no Distrito Federal e o tempo de
votação chegou a dobrar, de 1,5 para 3 minutos. "Tivemos inclusive
votações que foram até 1h da manhã", diz. Um dos problemas foi a impressão
dos registros, que travou com papel embolado na saída de vários equipamentos.
Quanto ao transporte e manutenção,
ele diz que "complica muito mais uma logística que é complexa".
"Nós temos um país de 8,5
milhões de quilômetros quadrados, em que mais de 60% corresponde à região
amazônica. Nessa região amazônica, nós temos pelo menos 1.500 pontos de difícil
acesso, onde se leva até duas semanas para se chegar de barco. Os equipamentos
passam por variação de temperatura, umidade, salinidade, recebendo muito
impacto e têm que chegar até esses pontos de votação em funcionamento",
afirma.
Janino acrescenta que uma
impressora, por ser um equipamento "eletromecânico", falha mais que
um dispositivo somente eletrônico, como a urna.
"Na nossa realidade, incluir
mais um dispositivo desse vai trazer ponto de falha bastante importante e
principalmente complicando também mais o processo de forma geral, na sua
logística, na sua manutenção, na sua conservação, no processo de substituição
de equipamentos em pane, certamente traz um complicador bastante considerável",
diz.
STF e PGR também contra
Fora do TSE, o voto impresso também é mal visto por ministros do Supremo Tribunal Federal. Em 2013, por exemplo, a pedido da Procuradoria Geral da República, a Corte rechaçou o modelo por unanimidade, por ver risco ao sigilo do voto, garantido pela Constituição para evitar coação de eleitores pelos políticos.
"O sigilo da votação também estará comprometido caso ocorra falha na impressão ou travamento no papel da urna eletrônica. Isso porque, sendo necessária a intervenção humana para solucionar o problema, os votos registrados até então ficarão expostos ao servidor responsável pela manutenção do equipamento", afirmou a PGR em parecer.
Fora do TSE, o voto impresso também é mal visto por ministros do Supremo Tribunal Federal. Em 2013, por exemplo, a pedido da Procuradoria Geral da República, a Corte rechaçou o modelo por unanimidade, por ver risco ao sigilo do voto, garantido pela Constituição para evitar coação de eleitores pelos políticos.
"O sigilo da votação também estará comprometido caso ocorra falha na impressão ou travamento no papel da urna eletrônica. Isso porque, sendo necessária a intervenção humana para solucionar o problema, os votos registrados até então ficarão expostos ao servidor responsável pela manutenção do equipamento", afirmou a PGR em parecer.
Em caso de necessidade de recontar
os votos, acrescentou a Procuradoria, a identificação de eleitores seria
"novamente possível".
Nada impede que uma nova ação seja apresentada ao STF para questionar de novo a impressão.
Nada impede que uma nova ação seja apresentada ao STF para questionar de novo a impressão.
Especialistas divergem
A adoção do voto impresso no Brasil é defendida há tempos por especialistas e foi recomendada por uma auditoria realizada neste ano pelo PSDB. No relatório, o partido diz que "o sistema eletrônico de votação do TSE não foi projetado para permitir uma auditoria externa independente e efetiva dos resultados que publica".
A adoção do voto impresso no Brasil é defendida há tempos por especialistas e foi recomendada por uma auditoria realizada neste ano pelo PSDB. No relatório, o partido diz que "o sistema eletrônico de votação do TSE não foi projetado para permitir uma auditoria externa independente e efetiva dos resultados que publica".
O parecer foi elaborado por 11
técnicos ao custo de R$ 1 milhão. Um deles, o engenheiro Amílcar Brunazo Filho,
pesquisador do tema há 20 anos, diz que o TSE é contra o voto impresso porque,
como "administrador das eleições", "não quer alguém xeretando o
trabalho dele". Ele rebate argumentos contrários que apontam dificuldades
na implantação.
"A logística da urna eletrônica é complicada, independentemente de ser voto impresso ou não. Você distribuir 450 mil urnas pelo Brasil inteiro para estar disponível e funcionar no dia certo é uma logística complexa. Mas você simplesmente vai por uma máquina a mais", diz.
Quanto a problemas na impressão, Brunazo diz que basta treinar os mesários e orientar o eleitor. Lembra que em 2002 várias impressoras travaram porque os mesários não retiraram um lacre de fábrica do equipamento na saída do papel.
"A logística da urna eletrônica é complicada, independentemente de ser voto impresso ou não. Você distribuir 450 mil urnas pelo Brasil inteiro para estar disponível e funcionar no dia certo é uma logística complexa. Mas você simplesmente vai por uma máquina a mais", diz.
Quanto a problemas na impressão, Brunazo diz que basta treinar os mesários e orientar o eleitor. Lembra que em 2002 várias impressoras travaram porque os mesários não retiraram um lacre de fábrica do equipamento na saída do papel.
Quanto ao custo, atribui a
necessidade de novas urnas à demora causada pela biometria e não pelo voto
impresso. Mesmo assim, diz que o gasto extra é importante. "Quanto é
conveniente para o país pagar para ter um sistema eleitoral cujo resultado
possa ser conferido?", afirma.
Sobre a volta da "intervenção
humana" na apuração, responde: "Que papo mais maluco! E o software é
feito por quem? É por gente, a máquina não funciona sozinha. Não é possível
eliminar a intervenção humana. O TSE faz o software e não deixa a gente
auditar", questiona.
Para ele, a principal fragilidade
do atual sistema não é a possibilidade de ataques externos, mas de fraudes
internas. "Se eles, funcionários do TSE atacarem o sistema, fazerem
qualquer fraude, a sociedade civil não tem como detectar isso. E cabe ao
administrador eleitoral propiciar isso à sociedade. E não falar 'confia em mim,
eu sou honesto e garanto que não há problema'", conclui.
Modelos
Engenheiros e analistas de segurança de informação consideram que o modelo de urna adotado no Brasil desde 1996 é o mais antigo, conhecida como "máquina DRE" (sigla de "direct-recording electronic", ou gravação eletrônica direta do voto, em português), que começaram a ser usados na Holanda em 1991 e na Índia em 1992.
Engenheiros e analistas de segurança de informação consideram que o modelo de urna adotado no Brasil desde 1996 é o mais antigo, conhecida como "máquina DRE" (sigla de "direct-recording electronic", ou gravação eletrônica direta do voto, em português), que começaram a ser usados na Holanda em 1991 e na Índia em 1992.
Nos últimos anos, não só esses
países, mas outros como Alemanha, Argentina, Bélgica, Canadá, Equador, Estados
Unidos, Inglaterra, Irlanda, México, Paraguai, Peru, Rússia e Venezuela
passaram para a máquina do tipo VVPAT ("Voter Veriable Paper Audit
Trail", voto impresso conferível pelo eleitor), tida como de segunda
geração e a ser agora implantada no Brasil.
Um modelo ainda mais avançado,
adotado em alguns estados americanos, por exemplo, é o chamado E2E
("End-to-end", verificação fim-a-fim), pelo qual o eleitor registra o
voto manualmente numa cédula física especial, que é posteriormente escaneada
para ser lida por uma máquina. Assim como no modelo anterior, há um registro
físico e um eletrônico.
"Tem um registro único feito
pelo próprio eleitor, marcando as bolinhas como num gabarito de vestibular.
Pode ser contado manualmente em qualquer caso de divergência com a contagem
eletrônica. E pode ter a máquina para ler os registros, automatizando a
contagem. É uma tecnologia amplamente conhecida e barata, com contagem
rápida", diz Diego Aranha, professor do Instituto de Computação da
Unicamp.
Ele considera o modelo a ser adotado no Brasil é suficiente e que as dificuldades de implantação são superáveis, lembrando do exemplo da Índia, que adotou o voto impresso no ano passado.
Ele considera o modelo a ser adotado no Brasil é suficiente e que as dificuldades de implantação são superáveis, lembrando do exemplo da Índia, que adotou o voto impresso no ano passado.
"Se a Índia pode vislumbrar
aplicar esses recursos numa votação muito maior que a nossa, com quantidade de
eleitores muito maior do que o Brasil, com condições socioeconômicas parecidas,
sendo um país emergente, se entendem que essas dificuldades são superáveis,
acho que o Brasil não deveria ter complexo de vira-lata e se contentar em usar
sistema de votação sem garantias mínimas de transparência e segurança",
diz.
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