Se
confirmada, a alta anual do IPCA seria a maior em mais de uma década
O pacote com
aumento de impostos anunciado na noite de segunda-feira pelo governo federal,
que incluiu tributos sobre combustíveis, piorou ainda mais as expectativas de
inflação para este ano, com projeções acima de 7%, cada vez mais longe do teto
da meta oficial.
Se
confirmada, a alta anual do IPCA seria a maior em mais de uma década, mas ainda
não o suficiente para especialistas acreditarem em aperto monetário maior pelo
Banco Central, uma vez que a atividade econômica fraca e a perspectiva de maior
rigor fiscal devem, com o tempo, gerar alívio nos preços.
"Fundamentalmente,
vai sobrar para a atividade", afirmou o economista-chefe do banco Fator,
José Francisco Gonçalves, que elevou em 0,5 ponto percentual a sua estimativa
de alta do IPCA para este ano, a 7,3%, após o anúncio do pacote de medidas
fiscais.
A última vez
que a inflação oficial do País ficou acima de 7% foi em 2004, quando o IPCA
subiu 7,60%. A meta oficial é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais
para mais ou menos.
Última
pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras, feita antes
do aumentos dos tributos, mostrou que as estimativas eram de que o IPCA subiria
6,67% neste ano, com expansão do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,38%.
Entre as
quatro medidas tributárias divulgadas na véspera, que devem elevar a
arrecadação neste ano em R$ 20,63 bilhões, a que pesa mais sobre os preços é o
aumento das alíquotas da Cide e do PIS/Cofins que incidem sobre combustíveis.
Como a
Petrobras já informou que os impostos serão repassados aos preços aos
consumidores, Gonçalves espera que o preço da gasolina suba entre 8% e 9% na
bomba e o do diesel, cerca de 3%.
Mesmo com a
piora cada mais acentuada sobre as expectativas de inflação, especialistas
consultados pela Reuters não esperam que o BC possa ser mais agressivo na
elevação da taxa básica de juro, hoje em 11,75% ao ano, para não afetar ainda
mais a já frágil atividade econômica.
"Ao
mesmo tempo em que tem a inflação mais pressionada agora, tem um alívio maior
no fim do ano por causa do fiscal mais apertado e da atividade mais
fraca", disse o estrategista da corretora Icap, Juliano Ferreira, que
manteve sua projeção de que Selic irá a 12,50% no fim do atual ciclo de aperto,
iniciado em outubro passado.
"Por
isso, o BC pode se dar ao luxo de não colocar a Selic no céu", acrescentou
ele.
O Copom
(Comitê de Política Monetária) do BC decide na quarta-feira sobre a Selic e as
expectativas quase unânimes são de que elevará a taxa em 0,50 ponto percentual.
Apesar do
cenário de maior pressão sobre a inflação, as ações de maior rigor fiscal têm
agradado agentes econômicos, que as consideram essenciais para ordenar as
contas públicas.
"Se você
está fazendo um ajuste, está colocando a casa em ordem e vai ter que pagar um
preço no curto prazo", disse o economista-chefe da SulAmérica
Investimentos, Newton Rosa, que espera que o IPCA avance 7,1% neste ano.
"Mas
com medidas de ajuste fiscal, política monetária contracionista e quadro de
atividade relativamente fraca, é possível imaginar que os preços voltem a
convergir à meta a partir do ano seguinte", acrescentou Rosa, em linha com
o cenário que vem sendo defendido pelo próprio BC.
A nova equipe
econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff — encabeçada pelos
ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do
presidente do BC, Alexandre Tombini — vêm adotando medidas fiscais para
recuperar a confiança na economia.
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