Em interrogatório realizado na tarde desta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro falou por cerca de duas horas sobre as investigações relacionadas às eleições de 2022 e os atos de 8 de janeiro. Ele admitiu discussões sobre medidas para reverter o resultado eleitoral, no qual foi derrotado, mas negou qualquer plano de golpe de Estado ou intervenção militar. Abaixo, os principais pontos do depoimento organizados por tópicos:
Desconfiança nas urnas
eletrônicas
- Bolsonaro reiterou sua desconfiança no sistema
eleitoral brasileiro, criticando as urnas eletrônicas como “inauditáveis”
e defendendo modelos como os usados no Paraguai e na Venezuela. “No
Paraguai, no meu entender, é o ideal. Como passou a existir nas últimas
eleições até na Venezuela. Nós não podemos esperar que aconteça isso no
Brasil para tomar uma providência.”
- Ele citou o ex-governador Flávio Dino, que em 2010,
ao perder a eleição no Maranhão, questionou o processo eleitoral: “Flávio
Dino, em 2010, quando perdeu a eleição no governo do Maranhão, disse:
‘Hoje, fui vítima de um processo que precisa ser aprimorado’.
[Perguntaram:] ‘O senhor acredita que houve fraude?’ ‘Houve várias
fraudes.’ Palavras do senhor Flávio Dino.”
- O ex-presidente destacou sua luta pelo voto
impresso: “Eu batalhei muito na Câmara pelo voto impresso. Consegui
aprová-lo em 2015 para 16. A senhora Dilma vetou.”
Discussões sobre ruptura
democrática
- Bolsonaro admitiu conversas com militares sobre
possíveis “dispositivos constitucionais” após a derrota eleitoral e a
rejeição de uma petição do PL ao TSE questionando a segurança das urnas.
“As conversas eram bastante informais. Era conversa informal para ver se
existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente
atingir o objetivo que não foi atingido no TSE. Isso foi descartado na
segunda reunião.”
- Ele negou qualquer viabilidade para um golpe:
“Golpe não são meia dúzia de pessoas, dois ou três generais e meia dúzia
de coronéis. Vejam 64. Falar em golpe de Estado? O que aconteceu depois do
meu governo (no 8 de janeiro), sem armas, sem núcleo financeiro, sem
qualquer liderança, isso não é golpe.”
- Sobre uma minuta golpista, Bolsonaro negou ter
recebido ou enxugado qualquer documento de seu assessor Filipe Martins:
“Não procede o enxugamento. Tinha os considerandos. […] Eu conheço muito
bem o Filipe Martins. Se ele tivesse participado de qualquer coisa, eu
saberia precisar aqui qualquer contato com ele.”
Atos do 8 de janeiro
- Bolsonaro classificou os atos de depredação ao
Palácio do Planalto, Congresso e STF como desorganizados e sem liderança,
negando que configurassem tentativa de golpe. “Eu fico até arrepiado
quando se fala que o 8 de janeiro foi um golpe. Mil e quinhentas pessoas,
pobres coitados, […] não foi encontrada uma arma de fogo junto àquelas
pessoas.”
- Ele citou opiniões de figuras como José Múcio, José
Sarney e Nelson Jobim, que também não classificariam os atos como
tentativa de golpe. “Desculpa o senhor Ministro, eu não consigo entender
certas penas para pessoas que não sabiam que estava fazendo naquele
momento. Até porque não tinha uma liderança, não tinha nada para que fosse
caracterizado por um ato estimulado ou programado.”
Retórica e desabafos
- O ex-presidente justificou críticas ao sistema
eleitoral e ao Judiciário como parte de sua “retórica” e “desabafos”. “Era
um desabafo, uma retórica que não era para ter sido gravada. O senhor me
desculpe,” disse, referindo-se a uma reunião ministerial de 5 de julho de
2022, onde acusou ministros do STF de receberem “milhões de dólares” para
defender as urnas.
- Ele pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes
e outros membros do STF: “Não tenho indício nenhum. Era uma reunião para
não ser gravada. Então, me desculpe, não tive intenção de acusar de desvio
de conduta contra os três.”
- Bolsonaro admitiu exageros: “Se eu exagerei na
retórica, devo ter exagerado com toda a certeza, mas a minha intenção, o
meu objetivo sempre foi mais uma camada de proteção por ocasião das
eleições, de modo que evitasse qualquer conflito, qualquer suspeição.”
Relação com as Forças Armadas
- Bolsonaro negou ter sido ameaçado de prisão por
comandantes militares, como sugerido pelo brigadeiro Baptista Jr. em
depoimento. “As Forças Armadas têm missão legal. Missão ilegal não é
cumprida. Em nenhum momento alguém me ameaçou de prisão.”
- Ele relatou conversas informais com militares para
preencher o “vazio” após a derrota eleitoral: “Conversei sim com
militares, de forma isolada, para trocar informações sobre a conjuntura,
porque quando você perde uma eleição, é um vazio que o senhor não
imagina.”
Não entrega da faixa presidencial
- Bolsonaro justificou a decisão de não passar a
faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva, alegando evitar “a maior
vaia da história do Brasil”. “Não havia da nossa parte uma gana, mesmo que
nós encontrássemos algo na Constituição, o sentimento de todo mundo é que
não tinha nada o que fazer, e nós precisávamos entubar.”
Negação de ações ilegais
- O ex-presidente reforçou que sempre agiu dentro da
legalidade: “Não me viram desrespeitar uma só decisão. Em nenhum momento
eu agi contra a Constituição. Eu joguei dentro das quatro linhas o tempo
todo.”
- Ele negou ter incentivado manifestações ilegais e
classificou como “malucos” os que pediam intervenção militar ou um novo
AI-5. “Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção
militar das Forças Armadas… que os chefes das Forças Armadas jamais iam
embarcar nessa.”
Contexto pessoal
- Bolsonaro mencionou a facada sofrida durante a
campanha de 2018: “Nem eu esperava que iria me eleger presidente. Acabei
me elegendo sem antes ter passado por um facada.”
- Ele também relatou ter gravado uma live pedindo paz
antes de viajar para os EUA e negou envolvimento nos atos de 8 de janeiro
ou nos bloqueios de rodovias por seus apoiadores.
O depoimento de Bolsonaro reforça
sua narrativa de que não houve intenção de ruptura democrática, atribuindo suas
ações a preocupações com a transparência eleitoral e desabafos retóricos,
enquanto nega qualquer envolvimento em planos golpistas ou nos atos de 8 de
janeiro.
Gazeta Brasil
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