Pressão Política e Judicial Derrubam Ministro da Suprema Corte Argentina em Menos de 40 Dias | Rio das Ostras Jornal

Pressão Política e Judicial Derrubam Ministro da Suprema Corte Argentina em Menos de 40 Dias

Manuel García-Mansilla

O advogado e catedrático Manuel García-Mansilla, que havia assumido seu posto na Suprema Corte de Justiça da Argentina em 27 de fevereiro, apresentou hoje sua renúncia irrevogável ao cargo, apenas 39 dias após sua posse no alto tribunal. A decisão ocorre em um contexto de alta tensão política e jurídica, marcado pela rejeição de sua nomeação no Senado e por uma medida cautelar que o impedia de assinar resoluções. A renúncia de García-Mansilla deixa novamente a Corte com apenas três integrantes: Horacio Rosatti, Ricardo Lorenzetti e Carlos Rosenkrantz.

A breve trajetória de García-Mansilla no tribunal máximo começou com sua designação por meio do decreto 137/25, assinado pelo presidente Javier Milei em 25 de fevereiro. Este decreto também incluiu a nomeação do juiz federal Ariel Lijo, embora este último não tenha assumido o cargo após se recusar a renunciar ao seu posto atual, uma condição imposta pela Suprema Corte para aceitar sua integração.

A renúncia foi formalizada através de uma carta direcionada ao presidente Javier Milei, que começa da seguinte forma:

“Aceitei essa nomeação com a convicção de que a falta de integração da Suprema Corte era um grave problema institucional que requeria uma solução urgente. Duas vagas haviam sido geradas na Suprema Corte, que ficou reduzida a apenas três membros desde 29 de dezembro de 2024. No entanto, uma das vagas existentes nessa data já tinha mais de três anos. É francamente surpreendente que, apesar da importância e do peso que cada juiz tem em um tribunal com uma integração tão reduzida, a existência de uma vaga não preenchida durante um lapso tão prolongado tivesse se naturalizado. A essa anomalia institucional havia se somado uma nova vaga, que agravou ainda mais a situação e que, inquestionavelmente, também requeria ser coberta sem delongas.”

A extensa carta aborda basicamente diversas questões ou eixos relacionados: as razões pelas quais assumiu em comissão, onde esclarece que sua afirmação de que não o faria foi deturpada; a dificuldade institucional de uma Suprema Corte funcionando com apenas três membros; a demora do Senado em analisar as nomeações; e a validade da decisão do Poder Executivo Nacional (PEN).

“A partir da mesma convicção – acrescenta a carta – com a qual assumi a nomeação em comissão com que o Senhor me honrou, considero que, devido à decisão tomada pelo Senado da Nação de rejeitar a nomeação oportunamente enviada no âmbito do art. 99, inc. 4, da Constituição Nacional, tenho que fazer tudo o que estiver ao meu alcance para facilitar que se agilize o processo para que se cubram de uma vez por todas as vagas que existem na Suprema Corte.”

Rejeição à Medida Cautelar

Na última quinta-feira, o Senado rejeitou por ampla maioria as nomeações de García-Mansilla e Lijo, o que intensificou as pressões sobre o primeiro para que abandonasse seu cargo. Pouco depois da votação, o juiz federal de La Plata, Alejo Ramos Padilla, assinou uma medida cautelar que ordenava a García-Mansilla que se abstivesse de assinar resoluções ou medidas administrativas por um prazo de 90 dias, até que se resolvesse a legalidade do decreto presidencial que o havia designado.

A medida cautelar foi impulsionada por uma apresentação judicial do advogado Jorge Rizzo e do constitucionalista Andrés Gil Domínguez, que argumentaram que a designação de García-Mansilla violava a independência judicial. Ramos Padilla fundamentou sua decisão no artigo 99, inciso 19, da Constituição Nacional, que estabelece que um juiz designado em comissão não pode exercer funções jurisdicionais sem o acordo do Senado. “A falta de acordo do Senado da Nação não pode ser ignorada nem substituída por uma decisão do Poder Executivo Nacional”, afirmou o magistrado.

Apesar da medida cautelar, o Governo defendeu a validade do decreto presidencial, argumentando que se tratava de uma atribuição constitucional do Poder Executivo. No sábado, o Executivo apresentou um recurso de “per saltum” à Suprema Corte para anular a medida ditada por Ramos Padilla. No entanto, os outros três juízes do tribunal não teriam demonstrado disposição a analisar o recurso, o que deixou García-Mansilla em uma posição cada vez mais delicada.

O chefe de Gabinete, Guillermo Francos, declarou publicamente que não existia nenhum artigo na Constituição que obrigasse García-Mansilla a renunciar nessas condições. Na mesma linha, o próprio García-Mansilla já havia apresentado um documento a Ramos Padilla defendendo sua nomeação e argumentando que sua remoção só poderia ser realizada mediante um processo de impeachment.

As Implicações Políticas e Jurídicas

O caso de García-Mansilla gerou um intenso debate sobre as implicações políticas e jurídicas das designações em comissão. Segundo algumas interpretações, a rejeição das nomeações por parte do Senado não invalida automaticamente o decreto presidencial nem implica a remoção imediata dos juízes designados. Em teoria, García-Mansilla poderia ter continuado em seu cargo até 30 de novembro, data que marca o final do ano legislativo seguinte à sua designação, salvo se fosse iniciado um processo de impeachment.

No entanto, a controvérsia em torno de sua nomeação e a medida cautelar de Ramos Padilla abriram a porta para uma possível judicialização das decisões do tribunal. As decisões emitidas por García-Mansilla poderiam ter sido objeto de impugnações, especialmente aquelas assinadas após a rejeição de sua nomeação no Senado.

Outra Vez a Corte de Três

Em meio a este conflito, o juiz da Suprema Corte Ricardo Lorenzetti se pronunciou sobre a situação em uma entrevista radial. Lorenzetti afirmou que a decisão do Senado era “respeitável” e expressou sua rejeição às designações por decreto. “Eu nunca aceitaria ser designado por decreto”, declarou, aludindo à polêmica em torno da nomeação de García-Mansilla.

Apesar das tensões, Lorenzetti assegurou que a Suprema Corte continua funcionando normalmente. “A Corte é uma instituição que vai além das pessoas que a integram. Estamos funcionando corretamente, decisões são proferidas, vamos continuar fazendo isso apesar de todas as opiniões”, afirmou.

A renúncia de García-Mansilla não apenas deixa a Suprema Corte com três integrantes, mas também levanta questionamentos sobre o futuro das designações em comissão e o papel do Senado no controle dessas decisões. Este caso pode estabelecer um precedente chave para definir os limites e o alcance das atribuições do Poder Executivo na designação de juízes.

Gazeta Brasil

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