O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, nesta quarta-feira (19), a elevação da taxa Selic em 1 ponto percentual, atingindo 14,25% ao ano. Com essa alta, a taxa básica de juros chega ao maior patamar desde agosto de 2016, o mesmo registrado no fim do governo de Dilma Rousseff, em um momento de grande instabilidade política no país, quando a presidente enfrentava um processo de impeachment.
Esta é a quinta reunião
consecutiva do Copom com aumento da Selic, que já havia subido nas reuniões de
setembro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. O anúncio é um reflexo da
tentativa do Banco Central de controlar a inflação e de conduzir a economia brasileira
diante dos desafios internos e externos.
A decisão, que já era amplamente
esperada pelo mercado, está dentro do que foi antecipado pela autoridade
monetária na última reunião, em janeiro, e segue o “forward guidance”, uma
orientação futura dada pelo Copom sobre o comportamento da política monetária.
Com a elevação de hoje, o Copom reafirma sua postura de cautela diante da
instabilidade econômica e das pressões inflacionárias.
Com a taxa em 14,25%, os
empréstimos e financiamentos no Brasil devem sofrer um impacto direto, com um
encarecimento no custo do crédito. A Selic, considerada a principal taxa de
juros da economia brasileira, orienta a forma como os bancos cobram os preços
para diversos produtos financeiros.
Gabriel Galípolo, que ocupa o
cargo de presidente do Banco Central desde o início de 2023, lidera a segunda
reunião sob sua gestão com essa decisão de manter a trajetória de aperto
monetário. O Comitê segue vigilante à evolução da inflação, que permanece como
um dos principais desafios do governo.
Eis a íntegra do comunicado do
BC:
O ambiente externo permanece
desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos,
principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus
efeitos. Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da
desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e
acerca do ritmo de crescimento nos demais países. Os bancos centrais das
principais economias permanecem determinados em promover a convergência das
taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos
mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo
cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário
doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de
trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente
moderação no crescimento. A inflação cheia e as medidas subjacentes
mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação
nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação
para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e
situam-se em 5,7% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para
o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária,
situa-se em 3,9% no cenário de referência (Tabela 1).
Persiste uma assimetria
altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de
inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por
período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do
que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma
conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto
inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio
persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i)
impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade
econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos
inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio
internacional e sobre as condições financeiras globais.
O Comitê segue acompanhando
com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política
monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o
regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma
relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.
O cenário mais recente é
marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções de
inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de
trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.
O Copom então decidiu elevar a
taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 14,25% a.a., e entende que
essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o
redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo
fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica
suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno
emprego.
Diante da continuidade do
cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das
defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em
se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima
reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total
do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência
da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial
dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária,
das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e
do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os
seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de
Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela
Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de
Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Tabela 1
CONTINUE LENDO APÓS O ANÚNCIO
Projeções de inflação no
cenário de referência
Variação do IPCA acumulada
em quatro trimestres (%)
CONTINUE LENDO APÓS O ANÚNCIO
Índice de preços |
2025 |
3º tri 2026 |
IPCA |
5,1 |
3,9 |
IPCA livres |
5,4 |
3,8 |
IPCA administrados |
4,3 |
4,2 |
No cenário de
referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus
e a taxa de câmbio parte de R$5,80/US$, evoluindo segundo a paridade do poder
de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos
próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso,
adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2025. O valor
para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.
Gazeta Brasil
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