Bicentenário e esquecido: Chafariz do Riachuelo sofre com o abandono no Centro | Rio das Ostras Jornal

Bicentenário e esquecido: Chafariz do Riachuelo sofre com o abandono no Centro

Localizado na Rua Riachuelo, o chafariz carrega em sua estrutura 
mais de dois séculos de história. PEDRO TEIXEIRA/ AGENCIA O DIA

Patrimônio histórico, construído em 1817, enfrenta pichações, sujeira e falta de manutenção

Rio - No coração do Centro do Rio de Janeiro, um monumento que já foi símbolo de urbanização e progresso hoje se encontra marcado pelo esquecimento. O Chafariz do Riachuelo, construído em 1817, sofre com pichações, sujeira e falta de manutenção, sem qualquer ação efetiva do poder público para sua preservação.

Localizado na Rua Riachuelo, o chafariz carrega em sua estrutura mais de dois séculos de história. Ele servia à população e aos animais de transporte que percorriam o antigo Caminho de Mata-Cavalo, atual Rua do Riachuelo, um dos acessos à Zona Norte. Hoje, no entanto, longe de sua antiga função, a estrutura se tornou apenas um retrato da degradação do patrimônio carioca.

"Quando o chafariz foi inaugurado, era uma outra cidade, era um Rio de Janeiro que tinha uma enormidade de carências. São alguns anos apenas desde a chegada da família imperial. Então, a gente tem a construção de um chafariz, de uma fonte de água, dentro de uma cidade que ainda tinha muito pouca estrutura nesse momento. A ideia desse chafariz era a questão do abastecimento das águas, tanto para a população que mora no entorno, como também dos animais que passavam pela região. Era uma forma de atender a população, como está até mesmo marcada na placa que tem instalada nele", explica Luciano Tardock, mestre em história e professor da rede estadual e municipal de ensino do Rio.

Para o especialista, preservar o patrimônio histórico e cultural é fundamental para manter viva a memória de um povo. Ele acrescenta que a ausência de conservação desses bens representa uma forma de negligência.

"Não valorizar o patrimônio é uma maneira de apagar a sua história de maneira gradual, porque esses patrimônios, essas construções, esses espaços de memória vão sendo perdidos com o passar do tempo. A memória é seletiva e, se algo não é valorizado, não é lembrado. Então, quando a gente negligencia, quando a gente não cuida, a gente vai perdendo aquele lugar de memória, aquele lugar de história", aponta.

O doutor em história Paulo Knauss, professor da Universidade Federal Fluminense, considera o abandono do Chafariz do Riachuelo um dos mais severos da cidade. 

"Só se vê hoje a parede do tanque, mas não o sistema de captação de água, que pode ser bem reconhecido no chafariz da Glória e do Lagarto e o Paulo Fernandes Viana, ambos no Catumbi. Sua relação com o morro, de onde descia a água, se perdeu completamente.  A situação atual coloca um impasse para a convivência do bem do monumento antigo da cidade com a vida atual da cidade. Esse contexto termina ameaçando sua preservação e impede sua admiração como monumento", ressalta.

Quem vive na região também sente o impacto da negligência. A vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos da Rua do Riachuelo Centro (AMA- Riachuelo), Isis Viana, afirma que o chafariz se tornou um ponto de vandalismo e insegurança. 

"Há tempos vemos a depredação do chafariz que já foi até feito de depósito de resíduos! Aqui há uma concentração muito grande de pessoas em situação de rua que barbarizam não só esse como outros patrimônios do bairro. Os trabalhadores da academia e do estacionamento que ficam atrás que muitas vezes fazem o trabalho da Comlurb e lavam o local para amenizar o mau cheiro", denuncia. 

Segundo Isis, a comunidade já tentou mobilizações para chamar a atenção do poder público, mas sem sucesso.

"Esse descaso com o patrimônio é muito denunciado pela população, principalmente nas mídias sociais. A associação sempre está solicitando à subprefeitura mais serviços e investimentos de valorização da região. O chafariz é só uma pequena amostra do abandono que a região está passando. Desperta na população uma sensação de desmerecimento, desrespeito ao seu território de pertencimento", desabafa. 

Diante desse cenário, os especialistas destacam algumas medidas que poderiam ser adotadas para reverter o quadro. Para Marcus Dezemone, professor de história do Brasil da Universidade do Estado do Rio (Uerj), é importante que a sociedade continue, cada vez mais, cobrando das autoridades a preservação dos espaços históricos.

"Cobrando das autoridades, cobrando dos vereadores que foram eleitos pelo nosso voto, qual é o cuidado que o Poder Legislativo dispõe ao patrimônio histórico da cidade? Cobrar do prefeito e dos subprefeitos, que eles também precisam não apenas ir uma única vez pontual fazer a limpeza, porque aquilo vai sujar de novo se não tiver uma política permanente de preservação e de incorporação no debate da educação patrimonial. Dessa maneira, fazendo com que o espaço possa ter significado para quem transita, para quem passa, para quem vive", enumera.

Knauss levanta ainda outros pontos que, em sua opinião, precisam ser considerados: "A solução do chafariz da Riachuelo demanda uma solução urbanística para requalificar a rua em que se localiza. Apenas defender a restauração do bem cultural não basta, pois sua inserção no ambiente urbano é a fonte de sua deterioração. É um caso em que pensar a preservação do monumento exige pensar a cidade. Eu diria que é preciso deslocar e ampliar o foco do problema. A defesa do patrimônio cultural é o ponto de partida. A cidade é o desafio".

O que dizem os órgãos públicos?

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Conservação (Seconserva) para entender por que o chafariz se encontra nesse estado e se há planos para sua recuperação. No entanto, recebeu como resposta que o patrimônio é um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob responsabilidade da União. 

A Iphan, no entanto, diz que por se tratarem de mobiliários urbanos, os chafarizes são de responsabilidade da prefeitura. 

"O Iphan salienta que cabe ao proprietário do bem cultural apresentar propostas de restauração, que precisam ser analisadas e aprovadas pela equipe técnica do Instituto, dentro de suas competências legais. Além disso, é responsabilidade do detentor adotar medidas para coibir atos de vandalismo", alega.

A prefeitura rebate a alegação: "De acordo com a Gerência de Monumentos, ele não é de responsabilidade da Prefeitura do Rio".

 O Dia

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