Vítimas de tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão fazem tatuagens para ressignificar traumas em projeto no RJ | Rio das Ostras Jornal

Vítimas de tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão fazem tatuagens para ressignificar traumas em projeto no RJ

Vítimas de tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão
 fazem tatuagens para ressignificar traumas em projeto no RJ 
 Foto: Reprodução/TV Globo

O projeto é da Secretaria Estadual de Direitos Humanos em parceria com a Uerj. Algumas pessoas atendidas pela iniciativa fizeram tatuagens, enquanto outras tiveram dia de cuidados.

Um projeto da Secretaria Estadual de Direitos Humanos em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro ajuda vítimas de tráfico humano e trabalho análogo à escravidão a superar seus traumas e dar novos significados para os crimes sofridos.

Em uma das ações para ressignificar as dores, o projeto levou os acolhidos para fazer tatuagens e ter dias de beleza. Muitos deles ainda carregam marcas físicas dos abusos sofridos, e a tatuagem pode ajudar a criar novas memórias para essas pessoas.

Por questões de segurança, todos os nomes nessa matéria são fictícios.

Catarina é uma das pessoas que encontrou no projeto forças para seguir. Ela é uma mulher trans e há anos foi vítima de uma rede internacional de exploração sexual. Na época, ela buscava uma condição financeira melhor para ajudar a mãe, que depende dos cuidados dela.

Assim, Catarina foi parar na Europa acreditando que faria serviços de limpeza.

 “Teve um momento ali que eu não achei que eu iria sair viva. Eu pensava tudo do pior. A verdade é essa. E sempre quando eu lembro, sabe, me dá vontade de chorar”, desabafa ela.

Para tentar se desvencilhar da exploração sexual, Catarina foi morar na casa de uma outra brasileira, onde acabou sendo explorada financeiramente. Somente depois de um tempo e com muito trabalho, ela conseguiu voltar para o país.

“Imagina uma trans sem estudo, as pessoas te veem como um lixo, eu tinha esse medo. Hoje eu não tenho mais. Foi um desespero, eu não sabia o que fazer. Foi decepção em cima de decepção. Eu cheguei a apanhar, passei por muita coisa”, relembra.

“Quando eu cheguei no Rio, quis ajoelhar e gritar. Não tinha ninguém me esperando. Eu pensava que tinha que voltar pela minha mãe. As marcas ficam na pele e no meu coração. Só o tempo vai melhorar. O projeto me ajudou muito, viver o que eu estou vivendo aqui é muito bom. O projeto trouxe de eu me abrir com outras pessoas, sem medo de me julgarem”, completa.

Catarina tatuou um girassol e uma leoa.

"O desenho eu escolhi uma leoa porque eu me tornei uma leoa e o girassol para mim, ele me traz muita resiliência, força”, destaca ela.

Vítimas de tráfico de pessoas e trabalho análogo à escravidão
 fazem tatuagens para ressignificar traumas em projeto no RJ 
Foto: Reprodução/TV Globo

Uma outra mulher, hoje, aos 50 anos, não tem marcas físicas aparentes, mas o coração carrega a tristeza de ter saído do seu país e trabalhado em situação análoga à escravidão na casa de brasileiros.

Para fugir da crise econômica na Venezuela, a mãe de 5 filhos saiu da sua cidade e tentou entrar no Brasil. No caminho, um dos filhos, de 18 anos, foi capturado e torturado por traficantes.

Separada do filho e sem emprego, a mulher acabou em situação de rua no Brasil. Para se reerguer, ela foi para a casa de um casal trabalhar em troca de comida. A mulher conta que lavava roupas até as mãos sangrarem. Ela decidiu não fazer tatuagens por questões religiosas, mas recebeu todo o acolhimento da ação e é inserida no projeto.

No projeto, são acolhidas pessoas com histórias diferentes, mas semelhantes em certos aspectos. Uma outra mulher, na esperança de ser adotada, foi morar na casa de uma família e acabou explorada em troca de alimentos. Um homem foi para o Sudeste Asiático com a promessa de um emprego em plataformas digitais, mas caiu nas mãos de uma rede de exploração de mão de obra.

De acordo com dados da Coordenadoria de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo, já foram assistidas 188 vítimas ou pessoas em situação de vulnerabilidade em 2024. A prática é considerada umas das formas mais graves de violação dos direitos humanos.

Por Thaís Espírito Santo, g1 Rio

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