Após mediação dos EUA, Nicarágua liberta 135 presos políticos e os envia para a Guatemala | Rio das Ostras Jornal

Após mediação dos EUA, Nicarágua liberta 135 presos políticos e os envia para a Guatemala

 


A Nicarágua libertou, por razões humanitárias, 135 presos políticos, que foram recebidos nesta quinta-feira pela Guatemala. A decisão ocorreu após mediação dos Estados Unidos (EUA), que classificou as detenções como “injustas”.

Entre os libertados estão 13 membros da organização evangélica Mountain Gateway, leigos católicos, estudantes e outras pessoas que a ditadura do nicaraguense Daniel Ortega considera uma “ameaça”.

Em comunicado, Washington agradeceu a “liderança e generosidade do governo da Guatemala por aceitar gentilmente esses cidadãos”. Na Guatemala, os ex-detidos poderão “solicitar vias legais para reconstruir suas vidas nos EUA ou em outros países por meio da iniciativa do Escritório de Mobilidade Segura”. O comunicado também fez um apelo ao governo da Nicarágua para que “ponha fim imediatamente às detenções e encarceramentos arbitrários de seus cidadãos por simplesmente exercerem suas liberdades fundamentais”.

Os Escritórios de Mobilidade Segura, implantados em vários países latino-americanos, são uma das “vias legais” para migração promovidas pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e permitem processar os pedidos de asilo. Em outra nota, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que “o povo nicaraguense quer e merece uma democracia” na qual “todos possam exercer seus direitos humanos e liberdades fundamentais, livres do medo de perseguições ou represálias”.

No aeroporto La Aurora, na Cidade da Guatemala, os ex-detidos comemoraram a liberdade. Francisco Arteaga, preso por publicar nas redes sociais as ações da ditadura de Ortega contra a Igreja Católica, expressou sua gratidão pela chegada ao país e, com punho erguido, gritou: “viva a Nicarágua Livre”. O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, destacou que seu país “mostrou sua firme convicção democrática, rejeitando categoricamente as ameaças de retrocesso autoritário”.

No mês passado, a ONU classificou como “profundamente alarmante” o fechamento de 150 ONGs na Nicarágua, elevando para 5,2 mil o número de organizações fechadas pela ditadura desde os protestos de 2018, iniciados após um decreto para reformar a Previdência Social que visava aumentar a taxa de contribuição.

Desde então, a relação entre a Igreja e Ortega se deteriorou, com o governo acusando os religiosos de apoiar os opositores nas manifestações que resultaram na morte de 300 pessoas, segundo dados da ONU.

Ortega, que governou na década de 1980 após a revolução sandinista, retornou ao poder em 2007 e é acusado por opositores e críticos de instaurar um regime autoritário. Em 2023, ele libertou, expulsou e retirou a nacionalidade e os bens de 316 políticos, jornalistas, intelectuais e ativistas críticos, acusando-os de traição à pátria.

A relação tensa entre sandinistas e Igreja já resultou em pelo menos 740 ataques contra igrejas, e pelo menos 176 sacerdotes e religiosos foram expulsos ou impedidos de regressar ao país desde 2018.

Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA) e exilado nos Estados Unidos, celebrou a “libertação com gosto agridoce, libertação e exílio”. No X, ele escreveu que “a ditadura transformou a Nicarágua em uma prisão gigantesca”.

A relação da Nicarágua com a comunidade internacional tem se deteriorado nos últimos meses, especialmente com o Brasil, após Ortega ignorar tentativas de mediação, a pedido do papa Francisco, para libertar um bispo preso.

A OEA também criou um “grupo voluntário” para acompanhar de perto a situação na Nicarágua, país que deixou de ser membro formal da organização no ano passado, por decisão de Ortega.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já pediu várias vezes ao país centro-americano que cesse “a repressão generalizada e a perseguição religiosa”.

Gazeta Brasil

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