'A gente não tem mais o direito
de ir e vir', lamenta professora de creche
Rio - O ataque a tiros que deixou
cinco pessoas mortas e duas feridas na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel,
na noite do último domingo (18), deixou moradores aterrorizados. Conhecido pela
boemia e pela tradição musical dos sambas de Noel Rosa e Martinho, o bairro da
Zona Norte vive uma rotina de medo e insegurança, agravada pela disputa entre
facções.
"A gente não tem mais segurança
em Vila Isabel, o pessoal não vêm mais para a praça. Ficam com medo de trazer
as crianças para brincar porque vira e mexe tem confusão. Agora, foi pior
ainda, e a gente fica com medo. Infelizmente, somos obrigados a sair de casa e
eu, por exemplo, preciso ir no mercado, então tenho que passar por aqui [Praça
Barão de Drummond]. É triste demais, mas temos que enfrentar isso", relata
o aposentado Elis Pereira, 82, que mora no bairro há mais de 50 anos.
Os moradores tentam retomar a
rotina, apesar da apreensão causada pela insegurança. O movimento na região
segue normal, com estabelecimentos comerciais abertos e moradores circulando
pelas ruas, mas a tensão é perceptível. Na manhã desta terça-feira (20),
equipe de DIA registrou viatura da PM reforçando policiamento
na principal praça da região.
A aposentada Rosa Rodrigues
participa regularmente das aulas de Tai Chi Chuan na Praça Sete, como também é
conhecida a Barão de Drummond, todas as terças e quintas-feiras. Apesar da
apreensão com a violência na região, especialmente após os recentes ataques, as
aulas continuam acontecendo. Para Rosa e os demais participantes, atividade ao
ar livre é um bálsamo diante da rotina de tristeza.
"Infelizmente, nossa aula
não muda. Não vamos deixar de fazer porque isso acontece o tempo todo. A
polícia sempre está por aqui, mas não resolve nada. A gente precisa de ajuda,
Vila Isabel precisa de ajuda. A tendência é que a situação piore ainda
mais", desabafa Rosa.
"Estamos muito assustados
porque não tem segurança no bairro, está tudo muito estranho. Depois do que
aconteceu, se você passar aqui às 19h não tem mais ninguém. Fica todo mundo em
casa. Ficou um clima de tensão. Moro aqui há 30 anos e nunca vi uma situação
tão assustadora como agora", denuncia uma moradora, que preferiu não se
identificar.
O gerente de loja Júlio César
Batista, 63 anos, passa todos os dias pela Barão de Drummond a caminho do
trabalho, no Grajaú. Nos últimos dois meses, ele havia adotado o hábito de
parar em um dos bancos para descansar antes de seguir com sua rotina. No
entanto, após o ataque, o medo tomou conta.
"Depois do ocorrido, ficou
até seguro porque está com polícia, mas como existe uma guerra de facção, a
gente fica apreensivo. Depois que acontece algo desse tipo, ninguém quer vir
mais aqui porque fica com medo de acontecer de novo. Eu costumo sentar aqui na
praça para descansar antes de ir para o trabalho, mas à noite eu faço
outro caminho e evito passar aqui porque já fico com medo", relata.
Moradores pedem por mais
segurança e ações efetivas para que o bairro volte a ser um lugar tranquilo e
acolhedor. "Aqui está cada vez pior. Agora, você sai de casa já pensando
na possibilidade de ser assaltado a qualquer hora do dia. Eu ando apreensivo,
evito sair de casa. Saio apenas quando é necessário, para fazer compras ou ir
ao médico. Falta segurança, o bairro está largado, e a sensação que fica é que
você pode sair de casa e não voltar mais", critica o autônomo Marco
Antônio Martins, 43 anos, nascido e criado no bairro.
A professora de uma creche da
região e moradora do Morro dos Macacos, que preferiu não se identificar, diz
que a violência também altera a rotina de crianças da comunidade.
"Isso afeta a vida dos
moradores, e o mais triste é que isso tem afetado a vida das criancinhas na
creche em que eu trabalho. Percebemos que elas desenvolveram vários traumas
porque quando começa qualquer barulho, elas ficam questionando o que é e
tentando se proteger. A gente sente isso como educadora e mãe. A verdade é que
a gente não tem mais o direito de ir e vir”, desabafa.
Nas redes sociais, a diretoria da
escola de samba Unidos de Vila Isabel fez um chamado coletivo pedindo paz, além
de ressaltar que o bairro precisa continuar sendo "sinônimo de
congregação, festa e alegria, como sempre foi".
Procurada, a Polícia Militar
informou que a região conta com patrulhamento por meio de viaturas e moto
patrulhas, além do emprego de agentes que seguem o roteiro de policiamento
do 6° BPM (Tijuca) e da UPP Macacos.
Terror
No momento do ataque, no domingo,
acontecia um evento na Praça Barão de Drummond, com a presença de muitas
famílias. A alegria foi interrompida quando criminosos chegaram
atirando. Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver o
desespero do público e as vítimas ensanguentadas. Segundo a polícia, o
confronto é fruto da disputa entre o Terceiro Comando Puro, que comanda o Morro
dos Macacos, e o Comando Vermelho, que domina comunidades vizinhas, como o São
João, no Engenho Novo.
Segundo a Polícia Civil, morreram
Gabriel Pereira Candido, de 24 anos, Pedro Henrique Pereira dos Santos, 18,
Pedro Henrique Barbosa da Conceição, também de 18, o adolescente T. M. L, de 17
e Walace
de Oliveira Cláudio, 35. Outras duas pessoas foram baleadas, sendo que
uma delas, Daniel Carvalho de Souza, 33 anos, segue internado em estado grave.
Também ferido no ataque, Juan Victor Pereiras já recebeu alta. Entre os cinco
mortos, um deles é apontado como chefe do tráfico no Morro dos Macacos.
Em nota, a corporação informou
que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso. Segundo a
Civil, três suspeitos de envolvimento no ataque foram identificados e
diligências estão em andamento para apurar todos os fatos.
O Dia
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