Televisão boliviana mostrou Arce
confrontando o aparente líder da rebelião, o comandante geral do Exército, no
corredor do palácio do governo na noite desta quarta-feira
O presidente da Bolívia,
que foi alvo de uma tentativa de golpe na tarde de quarta-feira (26), é um
esquerdista de 60 anos que muitos enxergam como um oponente das políticas
neoliberais e de livre mercado apoiadas por Washington. Luis Arce,
que estudou economia em Londres, foi ministro da economia do presidente Evo
Morales, cujo mandato de 2006 a 2019 o tornou um ícone da esquerda
latino-americana. Depois que Evo deixou o cargo, Arce tornou-se presidente em
novembro de 2020, após o curto período de Jeanine Añez no cargo. A televisão
boliviana mostrou Arce confrontando o aparente líder da rebelião – o comandante
geral do Exército – no corredor do palácio do governo na noite de quarta. “Eu
sou seu capitão e ordeno que retire seus soldados e não permitirei essa
insubordinação”, disse Arce. A carreira de Arce refletiu a trajetória econômica
da Bolívia, do auge à falência. Ele trabalhou no Banco
Central de 1987 a 2006 e trabalhou para Evo administrando uma
bonança nos preços dos metais e hidrocarbonetos que ficou conhecida como o
“Milagre Boliviano”. Mas, na época em que Arce assumiu o cargo, a Bolívia foi
duramente atingida pela pandemia da Covid-19 e
pelas tensões sociais desencadeadas pela saída de Evo em 2019, após protestos
de rua e extrema pressão dos militares.
As reformas neoliberais na década
de 1990 ajudaram a Bolívia a se tornar um importante produtor de energia, e o
país passou de uma nação de baixa renda para uma de renda média, de acordo com o
Banco Mundial. A porcentagem de pessoas em extrema pobreza caiu para 15%, o
Estado construiu rodovias e teleféricos, e as cidades cresceram. Mas a renda
começou a cair em 2014. Ao assumir a presidência, Arce descreveu a recessão de
seu país como a pior dos últimos 40 anos. Recentemente, ele disse que a
produção de gasolina e diesel não cobria mais o consumo
nacional e que o país precisava importar 86% de seu diesel e 56% de sua
gasolina devido à falta de exploração e produção. As famílias também foram
forçadas a lidar com os altos preços dos alimentos. Enquanto isso, as tensões
entre Evo e seu partido continuaram aumentando. Em novembro, Arce criticou seus
oponentes e disse que eles “sonhavam com novos golpes de Estado”.
Por Jovem Pan
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações do Estadão
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