Líderes costuraram votação de
urgência para esta terça-feira, mas foi adiada por decisão da cúpula da Casa;
aplicativo de mensagens disparou mensagem em que afirma que texto ameaça a
democracia do Brasil
A Câmara
dos Deputados deve votar, nesta quarta-feira, 10, o requerimento
de urgência para a proposta que tende a fatiar o Projeto de Lei 2630/2020,
conhecido como PL das Fake News. A ação, inclusive, conta com o
apoio do relator do texto inicial, Orlando
Silva (PCdoB-SP), que mostrou-se favorável à iniciativa em
entrevista ao site Jovem Pan, já que o texto inicial era amplo
e dificultava o consenso entre os parlamentares. “Apoio o requerimento. Se
pudermos avançar nos temas ligados pelo PL 2630, que avancemos”, pontuou. A
ideia é acelerar a tramitação de um projeto da deputada Jandira
Feghali (PCdoB-RJ), o PL 2370, de 2019, e pautar a remuneração de
conteúdo jornalístico, além do pagamento de direitos autorais nas plataformas
digitais. Na prática, a ação desmembra dois dos principais pontos levantados
pelo PL das Fake News e abre a possibilidade de outros temas serem tramitados e
debatidos de maneira isolada. A votação do regime de urgência faz com que, uma
vez aprovado, o projeto tenha sua análise realizada diretamente no Plenário,
sem precisar passar pelas comissões. Segundo apurou a reportagem, a cúpula da
Casa pretende analisar o mérito somente na próxima semana.
A tentativa dos parlamentares em
dissecar e debater ponto a ponto do Projeto da Lei Brasileira de Liberdade,
Responsabilidade e Transparência na Internet (PL 2630/2020) ocorre após forte
pressão das big techs, que passaram a espalhar em suas plataformas conteúdos
contrários a aprovação da medida. Nesta terça-feira, como a Jovem Pan mostrou, o Telegram disparou uma
mensagem aos usuários cadastrados no aplicativo em que ameaça encerrar as suas
atividades no país caso uma possível regulamentação seja aprovada no Congresso.
No início da publicação, o aplicativo de mensagens instantâneas afirma que “a
democracia está sob ataque no Brasil” e acusa o texto de relatoria de Orlando
Silva de promover “poderes de censura sem supervisão judicial prévia”. “Para os
direitos humanos fundamentais, esse projeto de lei é uma das legislações mais
perigosas já consideradas no Brasil. […] Os brasileiros merecem uma internet
livre e um futuro livre”, conclui trecho da publicação que, até o início da
tarde, já havia sido lido por mais de 134 mil pessoas.
O mundo político repercutiu a
ação do Telegram após o Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação Social,
Paulo Pimenta, ir às redes sociais e acusar o Telegram de desrespeito com as
leis brasileiras. Segundo Pimenta, o aplicativo “utiliza sua plataforma para
fazer publicidade mentirosa contra o PL2630”. “As medidas legais serão tomadas.
Empresa estrangeira nenhuma é maior que a soberania do nosso país”, considerou.
O líder do Governo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também considerou
abusivo o disparo de mensagens realizados pela empresa. As plataformas seguem
usando seu alcance para agir contra o interesse público. Hoje, o Telegram nos
brindou com clara tentativa de interferir no debate democrático e evidente
demonstração de abuso de poder. Esses abusos deixam escancarado por que a
regulação é necessária”, disse o parlamentar. Após as mensagens serem
disparadas, o Ministério
Público Federal (MPF) cobrou por explicações do aplicativo e solicitou
da empresa os nomes e endereços eletrônicos dos responsáveis pela criação da
mensagem, bem como sua disseminação, para entender se o Telegram compartilhou o
posicionamento de maneira exclusiva ou se houve a possibilidade de uma fala
contraditória. Na última semana, foi a vez do Google e da Meta – responsável
pelo Facebook, Instagram e WhatsApp – realizarem uma ofensiva contra o PL das
Fake News. O Google, por exemplo, publicou em sua homepage, principal buscador
da internet brasileira, um manifesto com críticas ao projeto. Na visão das
gigantes de tecnologia, o PL das fake news pioraria a internet para os
internautas e poderia “aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira” no
ambiente virtual. A prática levou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) a abrir uma investigação contra as empresas por suposto abuso das
posições dominantes.
Em paralelo às decisões da Câmara
dos Deputados e às pressões realizadas pelas big techs, o Supremo Tribunal
Federal (STF) se organiza para delimitar os parâmetros que podem balizar a
atuação das gigantes de tecnologia. Isso porque a presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, agendou para o próximo
dia 17 a análise de uma das ações que tratam do Marco Civil da Internet. Na
próxima semana, será analisado pelos ministros a responsabilização das redes
sociais na propagação de mensagens que atacam a democracia em trecho que
detalha direitos e deveres sobre o uso da internet no país. O agendamento
ocorre após o ministro Dias Toffoli, que relata uma das ações que envolvem o
tema, liberar o processo para discussão. Com a indefinição no Congresso
Nacional sobre a questão, é esperado que o Supremo se posicione e delimite a
constitucionalidade dos posicionamentos recentes das big techs. “Eles
[parlamentares] têm o direito de não querer decidir. Nós aqui no Judiciário não
temos esse direito. Temos que decidir porque temos vidas, pessoas e partes que
estão requerendo seus direitos ou seus pretensos direitos, e temos que julgar e
decidir. Eventualmente, se o Parlamento regular a matéria, nós vamos
enfrentá-la já também à luz do direito novo”, ratificou Toffoli durante
audiência pública em março deste ano.
Por Jovem Pan
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