B3 tem 2,8 milhões de contas ativas. Bruno Rocha/ Fotoarena/ Estadão Conteúdo - 09.07.2020 |
A Bolsa de
Valores tem 10.210 contas registradas no nome de menores de até 15 anos, de
acordo com os dados de julho deste ano divulgados pela B3. Do total, 5.693 são de
meninos (R$ 1,57 bilhão) e 4.517 de meninas (R$ 0,21 bilhão). Juntos, investem
R$ 1,79 bilhão em ativos.
De acordo com a
B3, a quantidade se refere ao número de CPFs registrados por agentes de
custódia e, não necessariamente, a 10.210 pessoas diferentes. As contas até 15
anos representam 0,36% de todos os cadastros na B3 (2.824.239 contas).
Para um menor de idade investir, é necessário ter CPF e
abrir uma conta em um agente de custódia. Além disso, a criança ou adolescente
também precisa ter uma conta corrente em seu nome, mesmo que conjunta com um
adulto, para poder transferir os recursos para a corretora.
O estudante
Felipe Molero, de 12 anos, faz parte destas estatísticas e investe em ações,
fundos imobiliários e ETFs desde os 10 anos. Molero conta que fez o primeiro
aporte com um valor que conseguiu vendendo balas na escola.
Desde então,
começou a fazer novas aplicações e criou um canal no YouTube para falar sobre
investimentos e educação financeira — chamado Kid Investor. Atualmente, Molero
recebe assessoria da Messem Investimentos.
Felipe investe desde os 10 anos. Divulgação |
A iniciativa
fez com que a mãe e a avó de Molero tirassem parte do dinheiro da poupança para
investirem em renda variável. Além da venda de balas, o estudante também já
vendeu sucos e livros escolares para conseguir renda.
“Eu acordo umas
5h ou 6h e, até umas 8h, eu vou ler, estudar o mercado”, conta. Das 8h às 15h
se dedica às atividades escolares e, no resto do dia, à família e a atividades
que gosta de fazer.
Necessidade
de supervisão
O coordenador
da pós-graduação de Mercado de Capitais da Fecap, Marcelo Cambria, afirma que,
possivelmente, muitas das contas são administradas pelos pais como uma poupança
para longo prazo para o filho. Como os investimentos em renda fixa estão com a
rentabilidade mais baixa, pessoas que entendem melhor sobre o mercado
financeiro podem preferir a Bolsa para conseguirem maior rentabilidade, já que
o risco destes investimentos também é mais alto.
Nesta
quarta-feira (5), o Copom (Comitê de Política Monetária) cortou mais uma vez a
taxa básica de juros de 2,25% para 2% ao ano, valor que influencia diretamente
investimentos em renda fixa, como o Tesouro Selic e a poupança.
O coordenador
do MBA de Gestão Financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), Ricardo Teixeira,
diz que menores de 15 anos devem ter orientação dos pais para investir na
Bolsa, desde que estes tenham conhecimento sobre o mercado.
Para Teixeira,
as aplicações podem ser uma forma de aprender sobre educação financeira. “É
importante que nessa idade o adolescente aprenda qual a aversão a risco ele
tem. A decisão [sobre compra e venda de ativos] deve ser dele”, afirma
Teixeira.
Também é
importante que o jovem invista valores baixos, que podem ser absorvidos pela
família caso haja perdas.
Para Cambria, a
maioria das crianças e adolescentes não tem a estrutura necessária para investir
na Bolsa de valores sem supervisão. “Os pais já estão em uma curva de
conhecimento que já viram muitos cenários, crise, os que têm pelo menos entre
20 e 30 anos, viveram pelo menos duas ou três crises relevantes. Por terem
visualizado outros contextos, facilita muito na escolha e montagem da
carteira”, afirma Cambria.
Como
aprender a investir
Teixeira
recomenda vídeos na internet e livros para quem quer aprender sobre o mercado
financeiro, previamente escolhidos pelos pais, que podem analisar melhor a
qualidade de determinado conteúdo.
Arte/ R7 |
Para educação
financeira, Teixeira acredita que os pais, que tenham bom controle das
finanças, podem ensinar aos filhos. “Os melhores professores sempre são os
pais, avós, pessoas confiáveis da família. Depois existem cursinhos, vídeos,
mas sempre devem ser apresentados a partir da avaliação crítica dos pais”,
opina.
No cenário
brasileiro atual, a renda fixa tem baixa rentabilidade e, portanto, quem quer
receber mais, precisa assumir mais riscos. “Para os adolescentes que estão
chegando ao mercado financeiro, ter um bom treinamento é importante.
Logicamente quanto mais cedo melhor, mais a pessoa, normalmente, vai saber o
que é bom do que é ruim”, afirma Teixeira.
Cambria diz que
os pais podem aproveitar para ensinar educação financeira por meio dos ativos,
ou seja, explicar os motivos pelos quais determinada ação valorizou ou
caiu, qual o cenário do mundo que levou àquela oscilação na Bolsa. Assim, estas
crianças e adolescentes vão estar mais preparados para investirem sozinhos
quando forem mais velhos.
Giuliana
Saringer, do R7
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