Deterioração social e econômica na Venezuela nos últimos anos
pode representar desafio para país, dizem analistas
BBC NEWS BRASIL
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O temido
coronavírus chegou à Venezuela.
O país se
tornou o último na América Latina a registrar o aparecimento em seu território
da pandemia causada pelo SARS-CoV2.
A Venezuela
soma-se assim ao grande grupo de países afetados pelo vírus, que até o domingo,
15 de março, já havia infectado quase 170 mil pessoas e deixado 6,5 mil mortos.
A
vice-presidente executiva da Venezuela, Delcy Rodríguez, confirmou o registro
dos dois primeiros casos de coronavírus.
São dois
cidadãos venezuelanos. O primeiro caso é o de uma mulher de 41 anos que chegou
ao país depois de viajar pela Itália, Estados Unidos e Espanha, países
seriamente afetados pela pandemia.
O segundo é um
venezuelano de 52 anos que voltou à Venezuela após uma viagem à Espanha.
Rodríguez
garantiu que os dois pacientes, que vivem no Estado de Miranda (centro do
país), já estão devidamente isolados e exigiu que todos os passageiros nos voos
Iberia de Madri, nos dias 5 e 8 de março, entrem imediatamente na
"quarentena preventiva".
A Venezuela foi
um dos últimos países da América Latina a noticiar um caso de infecção por
coronavírus. O presidente Nicolás Maduro já havia alertado na quinta-feira
passada que "a qualquer momento, o coronavírus poderia entrar na
Venezuela".
Alguns dias atrás, Nicolás Maduro falou sobre como
a Venezuela está se preparando para enfrentar
o coronavírus. Getty Images
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Medidas
Nos portos e
aeroportos venezuelanos, todos têm a temperatura conferida por agentes de
saúde.
Na
quinta-feira, o presidente Maduro anunciou a suspensão de um mês de voos com
origem na Europa e na Colômbia.
Maduro declarou
o sistema de saúde em "emergência permanente" e o Ministério da Saúde
da Venezuela publicou uma lista de "hospitais sentinelas".
São 46 centros
hospitalares espalhados por toda a Venezuela, que, segundo o governo, foram
equipados com os meios para tratar os pacientes afetados pelo vírus que causou
um alerta de saúde global.
Há alguns dias,
o presidente venezuelano se referiu à preparação do país para enfrentar a
crise: "Aprovei todos os recursos necessários para que o país esteja
equipado com todos os testes", disse ele.
Maduro informou
que cerca de 20 casos suspeitos foram descartados.
Ele também
garantiu que tem a colaboração da China e Cuba para enfrentar o coronavírus e
que possui estoques suficientes do medicamento cubano Interferón, com o qual
pretende tratá-lo, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirme que ainda
não existe um tratamento para a cura da nova doença, mas apenas para seu alívio
temporário.
Como a
Venezuela está preparada para enfrentar o coronavírus
A crise econômica
na Venezuela causou uma deterioração significativa da vida no país e,
consequentemente, também nas condições sanitárias.
Segundo o
governo, a culpa é das "sanções criminosas" dos Estados Unidos. Já
analistas e oposição acusam a má gestão da economia sob a liderança de Nicolás
Maduro.
A Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) anunciou que enviaria missões de apoio aos países
da região que "correm um risco maior", uma lista que inclui
Venezuela, Haiti, Suriname, Guiana, Nicarágua, Honduras, Guatemala, Bolívia,
Paraguai e as ilhas do Caribe oriental.
Anúncio sobre confirmação de casos na Venezuela foi feito pela vice-presidente, Delcy Rodríguez.Getty Images |
A recomendação
básica repetida pelas autoridades de saúde em todo o mundo nas últimas semanas
é lavar as mãos com frequência, mas na Venezuela existem muitas comunidades sem
acesso à água corrente.
Com um terço de
sua população em situação de insegurança alimentar, como informado recentemente
no Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, muitos venezuelanos não podem
se dar ao luxo de comprar sabão.
Por outro lado,
a Pesquisa Nacional de Hospitais, elaborada anualmente pela organização Médicos
para Saúde, detectou deficiências importantes que poderiam ter um impacto
negativo na resposta a um surto epidêmico como o do coronavírus.
Mais de 53% dos
hospitais não tinham as máscaras que os profissionais de saúde deveriam usar
para evitar adoecer e infectar outras pessoas.
E 92% não
tinham um protocolo de ação específico e nenhum tinha criado uma área de
isolamento para pacientes infectados.
Profissionais
de saúde de alguns hospitais designados pelo governo para responder ao
coronavírus confirmaram as deficiências à BBC News Mundo.
No hospital
Luis Razetti, no Estado de Anzoátegui, foi planejado o estabelecimento de áreas
de isolamento, mas, segundo fontes, o hospital está 100% cheio e não há leitos
disponíveis.
Uma médica de
Manuel Núñez Tovar, de Maturín, diz que não há máscaras e que o andar de
pneumologia está inoperante.
Em outros
hospitais designados, profissionais de saúde criticaram o que descrevem como
"falta de meios".
Um deles disse
à BBC News Mundo que começou a comprar o equipamento de proteção e o material
desinfetante com o dinheiro recebido das doações pois teme que o Estado não irá
fornecê-los.
Outro problema
que pode ocorrer na Venezuela é a falta de kits de diagnóstico. Segundo fontes,
o Instituto Nacional de Higiene possui 300 desses kits, número que pode ser
insuficiente se o vírus se espalhar como em outros países. O governo garante
que possui todos os kits necessários.
Mas o que mais
preocupa os especialistas é a possível falta de transparência.
O
epidemiologista Julio Castro escreveu em um artigo recentemente publicado no
portal "Prodavinci" que "a melhor ferramenta para gerenciar
processos como esse é ter informações precisas".
Especialistas
temem que, assim como em outros desafios de saúde pública, como o vírus da
Zika, as autoridades venezuelanas não publiquem informações suficientes ou confiáveis
para que a população e a comunidade científica possam estar cientes da evolução
da pandemia na Venezuela.
Por BBC
NEWS BRASIL
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