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Exclusivo:
câmeras de segurança de hospital
mostram
cronologia do incêndio
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Imagens de câmeras
de segurança obtidas com exclusividade pelo Fantástico e exibidas neste domingo
(15) mostram momentos após o início do incêndio que atingiu o Hospital Badim
nesta quinta-feira e deixou 11 mortos. As gravações mostram que o processo de
evacuação da unidade de saúde começou depois de pelo menos oito minutos após
parte da equipe tomar conhecimento do incêndio.
As câmerasmostram que às 17h45 o hospital, na Zona Norte do Rio, vivia mais um dia de
rotina normal. Cinco câmeras mostram o que acontece no térreo do hospital. No
subsolo, quatro câmeras registram o ambiente que já foi uma garagem, com três
homens conversando numa rodinha. O vídeo mostra ainda, neste lugar, materiais
de obra, um carro e uma moto estacionados e equipamentos embalados em plástico.
Uma das câmeras
mostra o que parece ser o gerador e alguns dos quatro tanques com capacidade
para 250 litros de óleo diesel, cada um. Não se sabe quanto óleo havia de fato
estocado no dia do incêndio. A
polícia acredita que o fogo começou em um gerador.
Em seguida, na
gravação alguma coisa chama a atenção dos trabalhadores. Uma luz ao fundo se
apaga. Pode ter havido barulho. O som não é captado. Outra câmera mostra o que
aconteceu: uma lâmpada desliga e no canto esquerdo, onde está o gerador, vemos
as faíscas de um curto circuito logo antes de a energia cair. Mais uma câmera
registra as faíscas, agora do lado direito. A luz cai em todo o prédio.
Quando volta,
oito segundos depois, nas duas câmeras próximas ao gerador só se vê fumaça. Em
seguida uma para de funcionar. Os homens continuam sentados quando dois
funcionários da manutenção passam correndo em direção ao gerador. Essa câmera
também deixa de funcionar.
Há um minuto
sem gravação nenhuma. A câmera lateral volta a gravar já com uma movimentação
no subsolo. Há fumaça. Uma mulher de uniforme de escritório, fala ao telefone.
Ao mesmo tempo, no primeiro andar, um funcionário corre em frente à porta da
emergência. E uma mulher chama a equipe de limpeza no corredor. Eles passam por
dentro da emergência. A funcionária que está no almoxarifado vê fumaça
entrando, e sai da sala. Há um clima tenso no primeiro andar, com algumas
pessoas correndo, mas outras não têm ideia do que está acontecendo.
No subsolo,
pode-se ver pessoas voltando da área onde estava o gerador, com extintores. O
carro que estava perto é mudado de lugar. Outros homens chegam correndo no
térreo e atravessam a porta da emergência. Logo vem outro, carregando um
extintor.
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Grupo se
reúne após primeiro combate ao fogo
Foto: Reprodução/TV Globo
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“Eles começam a
trazer de outros andares os extintores, então é possível que próximo ao gerador
ali não existissem extintores suficientes para poder combater aquele incêndio,
isso chama bastante a atenção”, explica o presidente do Conselho Nacional de
Peritos Judiciais, José Ricardo Bandeira. Naquele momento, na tesouraria, já
tomada pela fumaça, dois homens retiram objetos de dentro dos armários e saem.
A sala fica no térreo, em cima do gerador. Mas a fumaça parece vir do alto.
Em frente ao
almoxarifado, médicos e enfermeiros olham a fumaça entrando, mas ninguém
aparenta estar se preparando para deixar o prédio. No subsolo também não há
sinal de pânico - só o movimento, já com mais pessoas. Um segurança carrega um
extintor calmamente no primeiro andar. Pequenos grupos acompanham o vai e vem,
mas não parecem saber ao certo o que está acontecendo.
Às 17h50, há um
movimento grande de saída num corredor. No subsolo, o comportamento mais calmo
parecia indicar que o combate ao fogo havia terminado. José Ricardo Bandeira
explica o que pode ter acontecido:
“No primeiro
combate, houve o curto no gerador, se eles utilizaram o extintor errado, em vez
de apagar o incêndio, eles conseguiram abafar o incêndio naquele gerador. Ou
seja, o extintor usado de forma errada, ele abafa e você tem a falsa sensação
que apagou o incêndio, mas aquilo vai aquecendo, vai aquecendo e num
determinado renasce o incêndio e já fora de controle.”
Uma
possibilidade é que tenha sido usado extintor com gás carbônico, e não de pó
químico, que é o indicado para esse tipo de fogo.
“Nas câmeras,
eu não consegui identificar nenhum bombeiro civil e nenhum brigadista
devidamente uniformizado. É possível que eles tenham utilizado o pessoal da
manutenção pra fazer esse trabalho”, opina Bandeira.
Enquanto eles
pareciam encerrar o trabalho, a câmera que havia registrado as faíscas do lado
direito mostrava muita fumaça. A perícia confirmou que os dutos de ar passavam
por cima do gerador. O que explica a fumaça vindo de cima para baixo na
tesouraria.
“Enquanto eles
estavam calmos no subsolo, a fumaça estava atingindo os andares superiores. Já
era motivo de ter acionado um alarme e ter feito a evacuação daqueles andares
que já estavam sendo tomados pela fumaça tóxica”, afima José Ricardo Bandeira.
Na sequência
das imagens, as câmeras sofrem interferência. Mas dá para ver o volume de
fumaça se intensificando no subsolo.
Quase oito
minutos se passaram. Nesse tempo, essas câmeras não mostram nenhum sinal de
alarme, de tentativa de retirar os pacientes, de explicar aos funcionários que
uma situação de risco estava em andamento.
“Em caso de
incêndio, em caso de uma fumaça tóxica, sete oito minutos você poupa muitas
vidas. É um tempo excessivo pra que você tome as medidas de contingência, tome
a devida contenção ao incêndio e a evacuação ao prédio, então em sete, oito
minutos, você evacuaria com certeza um prédio, desde que os funcionários
estivessem preparados para executar essa função”, explica o perito.
Às 17h53, a
câmera do almoxarifado revela a fumaça preta. Ela é a última a se apagar.
Perguntas
sem resposta
A polícia está
juntando documentos e nesta segunda-feira ouve mais testemunhas. Entre as
perguntas que a investigação terá que responder estão:
- Por que a fumaça tóxica se espalhou por dentro do
hospital ?
- A área do gerador tinha a ventilação prevista nas
normas técnicas ?
- A proximidade do combustível do gerador estava
respeitando as normas de segurança ?
- Por que aconteceu o curto-circuito ?
- A empresa de energia afirma que não houve falta de
luz, mas o gerador estava ligado. O hospital usava o gerador no horário em
que a energia é mais cara para economizar ? A prática não é proibida, mas
a manutenção precisa ser mais cuidados por causa do desgaste do
equipamento.
- Por que se passaram pelo menos 8 minutos de uma
situação de risco potencial sem que a retirada das pessoas começasse ?
"Vamos
verificar responsabilidade, se há um plano de contingência para o caso de
incêndio, se há uma regularidade do hospital junto aos órgãos públicos - Corpo
de bombeiros, Prefeitura. Isso tudo será analisado, e havendo responsabilidade,
o responsável será penalizado," diz o delegado Roberto Ramos, que
investiga o incêndio.
O que diz o
hospital
O Hospital
Badim informou ao Fantástico que o prédio possuía todos os equipamentos de
incêndio exigidos por lei, como porta corta-fogo, extintores, detectores de
fumaça com alarmes sonoros e que todos estavam funcionando no momento do
incêndio. Disse ainda que uma equipe de brigadistas treinados estavam no prédio
no momento do fogo e optou por evacuar o prédio. Não houve resposta se foram
estes brigadistas treinados que tentaram conter o incêndio no gerador.
Ainda sobre o
gerador, o hospital confirma que usa o equipamento fora de situações de
emergência, mas afirma que faz manutenções regulares e dispõe de ventilação e
exaustão de acordo com as normas.
Sobre a
localização do gerador, o hospital afirma que ele estava num local isolado, que
não é usado como garagem pelo público externa.
O Hospital
Badim é associado da Rede D'or. E é administrado pela família Badim, que é
sócia do hospital.
Enfermeiras
internadas perguntam por pacientes
Vinte pacientes
tiveram alta neste fim de semana. Dois
tiveram alta neste domingo.
Ao todo 77
pessoas que estavam no hospital no momento do incêndio seguem internadas em 12
hospitais públicos e privados do Rio. Entre essas pessoas 20 não eram
pacientes. São parentes e funcionários do hospital que passaram mal por conta
da fumaça.
Cinco
enfermeiras estão internadas no hospital Quinta D'Or, também na Zona Norte.
Entre elas está Mariana Lavandeira, chefe da equipe de enfermagem. Segundo um
dos médicos, ela consegue se comunicar por escrito. Numa rede social, uma
funcionária do hospital publicou um bilhete que ela escreveu.
"Queridos,
estou bem. Em recuperação. Me representem da melhor forma possível. Cuidem do
setor!", diz o texto.
A técnica de
enfermagem Cristiane Ribeiro também está internada e ainda assim demonstrou
preocupação com os pacientes que cuidava. "E os pacientes, como estão ?
Estou preocupada. Peço a Deus que todos estejam bem", escreveu.
Dois pacientes
que estavam no Hospital Badim recebem alta
Gigiane dos
Santos, acompanhante de uma paciente, caiu de uma corda feita por lençóis que
ela usou para escapar do incêndio. Ela vai passar por cirurgia nos calcanhares
e falou como tem se sentido.
"Infelizmente
dói muito. Não gosto de ficar lembrando. Estou torcendo para tudo dar certo,
para que eu possa voltar para casa, para os meus filhos, para a minha vida e
para tudo ficar normal".
Por Fantástico


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