Fila para
comprar arroz em loja controlada pelo governo de Cuba
em Havana — Foto: Alexandre Meneghini/Reuters
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Racionamento
de produtos, sanções e asfixia econômica refletem o impacto da falência do
regime Maduro na ilha
A reboque da
crise venezuelana, o racionamento de produtos está de volta a Cuba, fazendo reverberar
pelas redes sociais a hashtag #lacolachallenge (o desafio da fila). São fotos
que documentam a saga diária de cubanos em longas filas para conseguir arroz,
feijão, frango, ovos e sabão, entre outros itens, que o governo decidiu limitar
para cada consumidor.
A penúria
agravada pelas sanções dos EUA ao
regime da Venezuela provoca
nos cubanos a ansiedade e o temor de reviverem o chamado “período especial”. Na
década de 1990, após o colapso da URSS, o PIB da ilha caiu 35% em menos de
cinco anos, deflagrando outras crises, como a fuga de cubanos em balsas e a
repressão aos dissidentes.
Agora a
falência do regime Nicolás Maduro também
põe em risco a já depauperada economia de Cuba, que importa 60% de seus
alimentos e enfrenta há quase seis décadas o embargo comercial americano.
Há um ano como
presidente, Miguel
Díaz-Canel, o sucessor escolhido por Raúl Castro,
tenta atenuar seus efeitos, fazendo crer que a falta de liquidez e o
racionamento são transitórios. Mas a dependência do petróleo venezuelano e o
colapso da PDVSA refletem o contrário.
“Esta é a maior
crise dos últimos anos. E limitar o número de produtos para cada consumidor é o
primeiro passo do governo para admitir que será longa”, avalia a jornalista
cubana Miriam Leiva, autora do blog Reconciliación Cubana.
Manifestação do 1º de Maio em Havana, capital de Cuba, reuniu apoiadores do regime de Nicolás Maduro na Venezuela Foto: Alexandre Meneghini/Reuters |
Ela cita o
diálogo que ouviu recentemente entre duas mulheres na qual uma delas constatava
o excesso de pessoas nas ruas: “É porque estão todos buscando comida”,
esclareceu a outra, segundo Miriam.
O tempo gasto
em extensas filas, uma cópia do cotidiano que os venezuelanos enfrentam diariamente,
motivou o ativista cubano Norges Rodríguez a criar a hashtag que rapidamente
viralizou.
No vértice do
triângulo, os EUA exercem pressão sobre ambos os regimes. Na semana passada, o
governo Trump estendeu as sanções contra duas companhias e dois navios
petroleiros que faziam transporte de petróleo da Venezuela para Cuba. Repetiu,
assim, uma medida semelhante, aplicada em abril a 35 cargueiros da PDVSA.
Para setores
radicais dos EUA, inflamados por sua base eleitoral, os cortes no fluxo do
petróleo entre os dois países caribenhos, contudo, ainda não surtiram o efeito
desejado. Senador republicano pela Flórida, Rick Scott propõe um bloqueio naval
entre os dois países caribenhos com o objetivo de pôr fim à era Maduro.
O impacto das
sanções à Venezuela reflete diretamente na população cubana, avalia, o
presidente do think tank Diálogo Interamericano, Michael Schifter.
Paralelamente,
a pressão direta dos EUA sobre o regime em Cuba agrava ainda mais a situação –
seja restringindo remessas enviadas por exilados ou permitindo, pela primeira
vez, ações nos tribunais americanos contra empresas que usam propriedades
confiscadas durante a Revolução Cubana.
“Os EUA
estão punindo cubanos desde 1962 e isso nunca funcionou. Não vejo por que
funcionaria agora. Faria a população sofrer ainda mais”, acrescenta Schifter.
Como efeito
dominó, o que acontece na Venezuela repercute em Cuba. As benesses do chavismo,
quando o petróleo estava em alta, tiraram o país comandado por Fidel Castro da
escuridão causada pelo desmoronamento do império soviético.
Mas os tempos
são outros para Cuba e seu maior aliado regional. Além dos efeitos da asfixia
econômica, o regime cubano teme amargar as consequências que uma transição na
Venezuela traria para a ilha.
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