Cristina
Kirchner em imagem de novembro de 2018, na Argentina
Foto:
REUTERS/Martin Acosta/Arquivo
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Comparada à
Lava Jato, operação terá depoimentos de 101 empresários da construção e
ex-membros dos governos de Cristina Kirchner e Néstor Kirchner, suspeitos de
integrar associação ilícita liderada pela ex-presidente.
A partir de
hoje e até o dia 11 de março, 101 empresários argentinos comparecem à Justiça
para depor no processo "Cadernos da Corrupção", operação comparável à
Lava Jato brasileira. O juiz encarregado do caso, Claudio Bonadio, intimou
empresários da construção, além de ex-membros dos governos de Cristina Kirchner e do seu
falecido marido, Néstor Kirchner, suspeitos de integrar uma associação ilícita
liderada pela ex-presidente.
Cristina
Kirchner terá de se apresentar no tribunal no próximo dia 25. O processo deve
ter impacto nas eleições presidenciais de outubro. De um lado, o presidente
Mauricio Macri se beneficia com o combate à corrupção, mas, ao mesmo tempo, sai
prejudicado porque o caso complica a recuperação da economia do país.
A fase que se
inicia hoje vai levar ao tribunal de seis a oito empresários por dia pelos
próximos 26 dias, alguns considerados até então "intocáveis". Alguns
vão depor pela segunda vez, mesmo já sendo "delatores premiados",
como é o caso do empresário Ángelo Calcaterra, primo de Macri. Não se descartam
novas prisões preventivas, a exemplo da primeira fase da operação iniciada em
1° de agosto passado, data a partir da qual dezenas de suspeitos foram presos,
mas depois se tornaram colaboradores premiados.
Esta nova fase
é consequência da delação do doleiro Ernesto Clarens, responsável pela
engenharia financeira do suposto esquema de corrupção envolvendo os Kirchner.
Em setembro passado, Clarens entregou ao juiz uma lista com os nomes das
construtoras, das obras e dos montantes pagos em subornos.
Ernesto Clarens
é o equivalente argentino ao doleiro Alberto Yousseff, pivô da Lava Jato. Essa
lista permitiu uma série de investigações. Em janeiro, o juiz determinou mais
de 80 operações simultâneas de busca e apreensão de documentação nas
construtoras em 14 províncias diferentes.
Imunidade
parlamentar
Kirchner já
está indiciada no processo. Ela voltará a ser interrogada no dia 25, a partir
de fatos novos, mas é acusada de liderar uma quadrilha que arrecadava,
semanalmente, subornos milionários. Em setembro, a Justiça argentina decidiu
processar a ex-presidente e atual senadora como chefe de uma associação ilícita
que durante 12 anos usou o Estado para arrecadar propinas no maior esquema de
corrupção da história argentina.
O juiz Claudio
Bonadio pediu a prisão preventiva da ex-presidente, mas ela se protege por meio
da imunidade parlamentar. Será a terceira vez que Kirchner deverá ir ao
tribunal neste processo, mas a nona vez em todas as investigações realizadas
até agora.
Benefício
para Macri é incerto
O combate à
corrupção traz benefício político para o presidente Macri, mas também prejudica
o líder conservador em seu objetivo de se reeleger em outubro. O caso
compromete uma provável candidatura de Kirchner, sua principal adversária na
futura disputa, mas prejudica o atual governo porque atinge as principais
empreiteiras argentinas, prejudicando a economia do país. O setor da construção
seria o grande motor para a geração de empregos num ano eleitoral.
Outro problema
é que a grande aposta do governo Macri eram as obras a partir do programa de
parceria público-privada. Por questões de "compliance", os bancos
privados e estrangeiros não podem financiar empresas envolvidas com corrupção.
Com isso, as obras estão paradas na Argentina. A saída política para Macri é
levantar a bandeira do combate à corrupção e da segurança pública, a exemplo do
que aconteceu no Brasil.
Balanço da
operação "Cadernos da Corrupção"
No próximo dia
1° de março, o caso "Cadernos da Corrupção" completa seis meses com
um saldo, até o momento, de 48 processados, 20 presos e 27 delatores premiados
envolvidos no circuito da corrupção nos contratos de obras públicas.
Nesse circuito,
membros do governo Kirchner arrecadavam malas de dinheiro que eram depois
entregues na residência presidencial oficial e no apartamento privado dos
Kirchner, conforme revelaram as anotações do ex-motorista do Ministério do
Planejamento Óscar Centeno. Semanalmente, uma grande quantidade de malas de
dinheiro era transportada no avião presidencial para uma das casas que os
Kirchner mantêm na Patagônia, em cujos subsolos instalaram gigantescos cofres.
O esquema
começou em 2003, logo após a posse do ex-presidente Néstor Kirchner. Com a sua
morte em 2010, as entregas passaram para Cristina Kirchner.
Atualmente,
eliminado o fator corrupção, os preços para as obras públicas são 50%
inferiores.
Por RFI
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