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Brindicci Maurício Macri, presidente da Argentina:
projeto de
reeleição em ano de provável recessão – 24/09/2018
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Principal
ausência na posse de Jair Bolsonaro,
o presidente da Argentina, Mauricio
Macri,promete fazer uma visita encorpada a seu colega brasileiro nesta
quarta-feira, 16, em Brasília. Macri trará sua expectativa de aprofundar a
parceria econômico-comercial entre os dois países e alinhar posições sobre
questões regionais, como o destino da Venezuela.
O presidente
argentino trará consigo cinco ministros: de Relações Exteriores, Jorge Faurie;
da Defesa, Oscar Aguad; da Fazenda, Nicolas Dujovne; da Produção, Dante Sica,
além do secretário de Assuntos Estratégicos, Fulvio Pompeo. Apesar de ambos já
terem conversado por telefone, a ausência do argentino foi sentida no círculo
bolsonarista nas cerimônias do dia 1º em Brasília. Macri passara as últimas
semanas com a família na Patagônia.
“É provável que
a relação se concentre no comercial porque, na área política, as diferenças
entre o ultraconservador Bolsonaro e o liberal Macri são enormes”, avaliou o
analista internacional Bruno Binetti, do Diálogo Interamericano, de Washington.
A luta contra o
narcotráfico e outros temas vinculados à segurança estarão presentes na reunião
bilateral. Mas a situação na Venezuela, com a posse de Nicolás Maduro para
um terceiro mandato, na semana passada, deverá tomar parte das conversas na
área política. Membros do Grupo de Lima, que pressiona a Venezuela a se
redemocratizar, Brasil e Argentina consideram “ilegítimo” o novo governo de
Maduro. Mas não adotaram sanções nem romperam relações diplomáticas com
Caracas.
A evolução
econômica dos dois países neste ano e o destino do Mercosul certamente
consumirão boa parte das conversas. Com expectativa de mais um ano em recessão,
a Argentina enfrenta em 2019 eleições presidenciais, nas quais Macri já se
lançou candidato à reeleição.
Com taxa de
inflação elevada e sem recuos, como eram esperados, a Argentina pretende garantir ao
menos um resultado mais favorável no seu balanço de pagamentos. Nesse item,
pesa o atual déficit no comércio com seu terceiro maior parceiro, o Brasil, na
sua balança comercial.
O crescimento
da economia brasileira, mesmo a modesta expansão de 2,5% prevista para
2019,será favorável para os exportadores de autopeças, veículos, vinhos e
outros produtos argentinos. A crise no Brasil derrubou os embarques de bens da
Argentina de 76 bilhões de dólares, em 2013, para 58,4 bilhões, em 2018.
“Se o Brasil
efetivamente crescer, ajudará a economia argentina”, afirmou Welber Barral,
consultor da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior (Secex).
Alguns
economistas, porém, temem que a abertura comercial professada pelo governo de
Bolsonaro traga impacto negativo para as empresas argentinas. “A Argentina tem
tudo a perder. Não apenas com um Mercosul debilitado, mesmo se o acordo não for
flexibilizado, se o Brasil adotar uma maior abertura comercial as empresas
argentinas serão castigadas por uma concorrência feroz de outros países,
particularmente os asiáticos”, alertou a economista Paula Español, da Radar
Consultora.
Fôlego
Boa parte da
relação econômico-comercial Brasil-Argentina passa pelo Mercosul, que perdeu
fôlego na última década e se tornou alvo de declarações desencontradas da
equipe de Bolsonaro. Ambos os países têm interesse especial na conclusão do
acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia e em
uma série de negociações já iniciadas ou a ponto de começar – com o Canadá,
Japão e Coreia do Sul.
Em novembro,
após vencer as eleições, a atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
alertara que “ou o Brasil tenta fortalecer o Mercosul e dizer o que quer ou
então ele sai, num caso extremo”. “Mas não deve continuar como está. É
desvantajoso para nós”, afirmou ela.
O ministro da
Fazenda, Paulo Guedes, declarou que o Mercosul não será prioridade. Mas o
chanceler Ernesto Araújo, um estudioso e autor de dois livros sobre o bloco,
defende seu reforço e aprofundamento.
“Para além da
retórica de Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, não há
margem para que o Brasil saia do Mercosul de um dia para o outro: há muitos
milhões de dólares e indústrias inteiras em jogo”, afirmou Binetti.
Como afirma o
embaixador José Botafogo Gonçalvez, ex-ministro de Indústria e Comércio
Exterior, um saldo comercial positivo de 7 bilhões de dólares, como o
registrado pelo Brasil no comércio com a Argentina no ano passado, será sempre
prioritário. Ainda mais quando os embarques brasileiros são, em grande parte,
de manufaturas.
“Fala-se muita
bobagem sobre o Mercosul. A união aduaneira, que muitos querem flexibilizar ou
acabar de vez, criou um mercado reservado para os produtos industriais
brasileiros, que ingressam na Argentina com preferência tarifária”, declarou a
VEJA.
Para o veterano
negociador do Mercosul, o bloco pode e deve ser aperfeiçoado, com uma nova
visão sobre suas importações. “Há necessidade de se definir suas prioridades”,
insistiu.
Segundo Barral,
será muito provável algumas mudanças na Tarifa Externa Comum (TEC), do
Mercosul, para acomodar as necessidades brasileiras de aumento de investimentos
e de competitividade. Uma delas será a redução gradual,bens de informática e
telecomunicações.
Denise Chrispim Marin
(Com AFP)
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