'Eu
expliquei aos meus filhos que não queria abandoná-los,
mas não
tenho como sustentá-los', diz venezuelana
Foto: BBC
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Dados oficiais
mostram que 87% da população do país vive em situação de pobreza, contra 48% em
2014. Sem condições de cuidar da família, algumas mulheres chegam a entregar as
crianças às autoridades ou a quem possa sustentá-los.
Aos seis meses
de gravidez, uma venezuelana se mostra decidida: vai dar o bebê que carrega no
ventre quando ele nascer.
Ela não é a
única a recorrer a esse caminho em meio à crise que assola o país - e que tem
deixado cada vez mais gente com fome e sem condição de alimentar os próprios
filhos.
No poder desde
1999, o grupo de Hugo Chávez - morto em 2013 e substituído no poder por Nicolás
Maduro em uma eleição realizada no mesmo ano - adotou medidas econômicas que
levaram o país à escassez de alimentos, à hiperinflação e ao colapso dos
serviços públicos.
As críticas
internacionais ao chavismo na região esbarraram, muitas vezes, no apoio de
governos alinhados ao projeto - como setores do próprio PT, no Brasil, que
ainda manifestam apoio ao governo de Maduro, mesmo que seu candidato à
Presidência, Fernando Haddad, tente se distanciar da questão.
O país, que já
foi um dos mais ricos da América Latina e chegava a distribuir empréstimos e
doações na região, enfrenta hoje uma crise sem precedentes.
Com fome,
parte da população da Venezuela procura
comida no lixo — Foto: BBC
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Com a queda no
valor da cotação do petróleo, que responde por 95% das exportações
venezuelanas, o país viu secar sua principal fonte de renda. Ainda que os
preços tenham se recuperado parcialmente no mercado internacional, a falta de
modernização do setor tornou extrair petróleo uma operação menos lucrativa.
Dados oficiais
mostram que 87% da população do país vive em situação de pobreza, contra 48%
que estavam nessa condição em 2014.
A taxa de
inflação, estimada em 1.000.000% até o final do ano, tem piorado ainda mais o
cenário. Em 2017, os venezuelanos perderam 11 kg em média por causa da fome.
Como resultado,
cada vez mais crianças têm ido parar nas ruas e cada vez mais mulheres se veem
forçadas a entregar seus filhos às autoridades ou a famílias em melhores
condições financeiras - um efeito devastador da crise sobre a futura geração.
"Eu
expliquei aos meus filhos que não queria abandoná-los", diz outra mulher à
BBC News. "Mas não tenho como sustentá-los."
Judith
entregou sua filha logo após ao
nascimento — Foto: BBC
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A mulher tem
cinco filhos e há três anos entregou três deles às autoridades. Ela diz que
"um dia" vai tentar recuperá-los.
Histórias
semelhantes de separação entre mães e filhos em função da crise surgem nas
favelas venezuelanas.
Judith entregou
sua filha logo após o nascimento. E chora quando relembra a história.
"Eu pensei que, fazendo isso,
conseguiria alimentar meus outros filhos e que minha bebê teria um futuro
melhor", diz ela, emocionada. "Me sinto arrasada por não tê-la
comigo".
A busca por
comida, inclusive no lixo, tem se tornado uma visão comum no país. Com a
pobreza crescente, também virou comum a imagem de crianças vivendo nas ruas.
"Tinha
comida às vezes lá em casa, mas não suficiente. Éramos muitos", diz um
menino em um grupo com outros jovens.
Meninos que
enfrentavam dificuldades em casa estão
vivendo nas ruas da Venezuela — Foto: BBC
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Um adolescente
sentado ao lado dele também revela traços de uma vida difícil. "Saí de
casa porque minha mãe me maltratava", conta. "Me cansei disso, mas
também pensei nos meus irmãos. Queria deixar a comida para eles".
Apesar das
dificuldades, o primeiro menino demonstra esperança em dias melhores. "Eu
sei que um dia vou estudar e, quando eu crescer, vou ajudar a quem precisa,
porque eu sei o que é depender de ajuda".
A figura
paterna era ausente na maior parte das famílias que encontramos nessa
reportagem.
Por BBC
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