© Roberto
Jayme/Ascom/TSE Como a abstenção às urnas, rejeição
e voto útil
podem influenciar o rumo das eleições?
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Faltando menos
de uma semana para que 140 milhões de brasileiros escolham seu próximo
presidente em um pleito fragmentado e polarizado, ainda há alguns fatores que
podem influenciar a decisão final do eleitor, segundo analistas.
A BBC News
Brasil reuniu dados das mais recentes pesquisas e ouviu especialistas para
entender quais seriam estes fatores.
1 - Preferência
ou 'voto útil'?
A pesquisa do
Ibope de 26 de setembro questionou os entrevistados a respeito do chamado
"voto útil" - a possibilidade de o eleitor deixar de votar no
candidato de sua preferência para votar em outro que considere mais competitivo
contra um terceiro.
E 28% dos
entrevistados naquela ocasião afirmaram que essa probabilidade era alta ou
muito alta.
Essa
porcentagem é semelhante às intenções de voto do líder da pesquisa, Jair
Bolsonaro (PSL), e supera a do segundo colocado, Fernando Haddad (PT).
Segundo a
pesquisa, 10% dos eleitores de Bolsonaro, 17% dos de Haddad, 21% dos de Ciro
Gomes (PDT) e 14% dos de Alckmin admitiam a possibilidade de mudar sua escolha
nas urnas para fazer voto útil.
"Já
tivemos alguns casos memoráveis de voto útil (mudando o rumo de eleições), por
exemplo em 1988, quando Luiza Erundina ganhou a prefeitura de São Paulo com o
voto útil contra Paulo Maluf, em 1998, quando Mario Covas ia mal nas pesquisas
(para governador de São Paulo), mas recebeu o voto de vários eleitores que
abandonaram Marta Suplicy e foi eleito em segundo turno", explica à BBC
News Brasil o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
No entanto, diz
Melo, a grande dúvida é o quanto a atual volatilidade pode, de fato, ter efeito
concreto, já que a eventual migração de votos pode se pulverizar entre diversos
candidatos e ser insuficiente para alterar o cenário atualmente mais provável
de segundo turno, entre Bolsonaro e Haddad.
Na pesquisa
Datafolha divulgada na noite de terça-feira, as intenções de voto em Bolsonaro
subiram para 32%, o que corresponde a 38% dos votos válidos. A trajetória
ascendente do candidato às vésperas das eleições fez analistas começarem a
considerar como possível, ainda que não provável, uma vitória já no primeiro
turno.
"O voto
útil existe e há movimentos de última hora do eleitorado, mas a questão nesta
eleição é: quem vai capitalizar com uma (eventual) mudança? Se os antipetistas,
por exemplo, forem fazer voto útil, eles vão votar em um mesmo candidato? É um
fenômeno mais complexo do que no passado, porque hoje temos duas grandes
frentes de rejeição (PT e Bolsonaro) e campos múltiplos (por exemplo, Geraldo
Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva) que podem receber essa rejeição",
agrega o cientista político.
2 - Os mais
rejeitados?
O alto índice
de rejeição dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de
votos é a principal força por trás do eventual voto útil discutido acima.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, 2 de outubro, 45% dos
eleitores dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum. Para Fernando
Haddad, esse índice é de 41%.
Juntos, os dois
candidatos têm cerca da metade das intenções de voto dos brasileiros - só em 1989
os dois primeiros colocados tiveram tão pouco, tão perto da data das
eleições.
"Só existe
voto útil por causa da alta taxa de rejeição", afirma Melo. "De
alguma forma, o voto de rejeição está se alinhando. A questão é se vai se
alinhar em um terceiro nome ou se vai se pulverizar entre dois ou três
candidatos", que podem acabar tendo uma votação parecida no final, mas não
suficiente para levar um deles ao segundo turno.
3. Quem levará
o voto das mulheres?
As menções às
mulheres feitas pelos candidatos durante os debates de TV dão pistas de quão
cobiçado é o voto feminino nesta reta final, por dois motivos principais: o
primeiro é que elas compõem 52% do eleitorado do total; o segundo é que o
candidato mais bem colocado, Jair Bolsonaro, é também o que tem o maior índice
de rejeição feminina - 52%, segundo o Datafolha.
Um exemplo
dessa reprovação foi dado pelos protestos de sábado, na campanha #EleNão,
organizados por mulheres em diversas cidades do país.
O impacto das
manifestações lideradas por mulheres, no entanto, pode não ter tido o efeito
desejado. Segundo uma pesquisa
da USP, a maior parte das adesões ao protesto em São Paulo veio de mulheres
que já rejeitavam o político e o que se viu nas pesquisas posteriores foi
justamente um avanço de Bolsonaro entre eleitoras mulheres.
Apesar de
continuar líder na rejeição feminina, a pesquisa do Datafolha publicada na
terça-feira mostra que o candidato do PSL cresceu em intenções de voto entre as
mulheres, passando de 21% para 27%.
Do ponto de
vista de Bolsonaro, que tem quase um terço das intenções totais de voto
disponíveis, cerca de 20 pontos percentuais são de homens e 10 são de mulheres,
aponta Carlos Melo.
"Ou seja,
um terço dos votos dele vem de mulheres que não foram sensibilizadas pelas
falas (consideradas de cunho machista) ou pelas campanhas anti-Bolsonaro",
avalia Melo.
Segundo dados
levantados pela BBC News Brasil, nunca havia existido uma diferença tão grande
no voto de homens e mulheres no período pós-ditadura.
4. Abstenções,
brancos e nulos
O percentual de
eleitores que dizem pretender votar nulo, branco ou se abster caiu para 8%
(tendo chegado a 22%), segundo o Datafolha, mas esse grupo ainda pode ter um
papel muito relevante no pleito.
Para Lucio
Rennó, professor-associado do Instituto de Ciência Política da Universidade de
Brasília, as pesquisas de intenção de voto muitas vezes não captam plenamente o
impacto das abstenções e dos votos nulos e brancos porque nem sempre as pessoas
admitem, durante a entrevista, a intenção de não comparecer às urnas.
"A
abstenção pode ser influente, por se tratar de um pleito competitivo e porque
as pesquisas têm sinalizado tendências de voto, e não necessariamente a votação
absoluta dos candidatos", diz ele.
Analisando os
dados da eleição de 2014, Rennó identificou uma abstenção maior nos Estados
brasileiros mais pobres.
A abstenção e
anulação são importantes porque acabam reduzindo o patamar necessário para um
candidato ser eleito em primeiro turno - ele precisa ter mais da metade dos
votos válidos, que excluem os nulos, brancos e abstenções.
Na eleição à
prefeitura de São Paulo em 2016, por exemplo, João Doria (hoje candidato ao
governo do Estado) venceu com 53,2% dos votos úteis, mas teve votação menos
expressiva (3,085 milhões de votos) do que o total de eleitores que anulou ou
se absteve (3,096 milhões).
E em um
eventual segundo turno, será que a abstenção pode alcançar níveis recordes caso
se confirme um cenário com dois candidatos com alta rejeição (Bolsonaro x
Haddad)?
Rennó acha
difícil especular - e pensa que o efeito pode acabar sendo o oposto. "Às
vezes, em um pleito mais competitivo, o comparecimento pode aumentar",
opina.
Reis, da UFMG,
acredita em efeito semelhante: "As pessoas estão em posição beligerante,
então o mais provável é que as pessoas votem no segundo turno no candidato a
que tiverem menos aversão, para neutralizar o adversário".
5. O
imponderável
Para Carlos
Melo, do Insper, um último fator não pode ser descartado como potencial
influenciador do voto na última hora: o imprevisível.
"Alguma
denúncia nova, alguma delação premiada ou algum escândalo pode ter um efeito
importante quando temos uma eleição acirrada - se você muda 10 pontos
percentuais de um candidato para outro já vira um aumento de 20 pontos",
diz.
Ele cita como
exemplo novamente a disputa de 1988 pela prefeitura de São Paulo: seis dias
antes da eleição, uma ação do Exército contra uma greve em siderúrgica de Volta
Redonda (RJ) resultou na morte de três operários, gerando uma onda de
indignação pelo país.
Isso acabou
influenciando o desempenho de Paulo Maluf (à época visto como próximo aos
militares) nas urnas e gerando uma onda de apoio à candidatura da então petista
Erundina.
Agência Brasil
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