© Reuters Bolsonaro
venceu Fernando Haddad
na disputa
do segundo turno
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Após uma
campanha marcada por um alto nível de tensão, o deputado federal Jair Bolsonaro
(PSL) foi eleito neste domingo o novo presidente da República. Com 92,08% das
urnas apurados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato atingiu
55,63% dos votos válidos e está matematicamente eleito. O adversário, o
ex-prefeito Fernando Haddad (PT), está com 44,37%.
Deputado
Federal há 28 anos, Bolsonaro sempre foi do chamado "baixo clero" do
Congresso Nacional - não tinha papel de liderança nos partidos políticos a que
pertenceu, nunca assumiu cargos no governo federal ou posições de destaque na
Câmara dos Deputados.
Mas se tornou
nacionalmente conhecido ao longo dos anos por declarações polêmicas,
principalmente sobre a comunidade LGBT e a ditadura militar. Até o início
campanha, analistas políticos afirmavam que a candidatura do deputado federal
poderia se "desidratar", já que ele teria direito a apenas 8 segundos
diários de propaganda eleitoral na TV.
No entanto, o
capitão reformado cresceu de forma continuada nas pesquisas, se consolidando no
primeiro lugar já no primeiro turno. A BBC News Brasil reuniu os principais
fatos na trajetória do candidato do PSL rumo ao resultado da eleição deste
domingo.
Entre 2015 e
2016 - 'Vou ser candidato a presidente gostem ou não gostem'
Bolsonaro fala
publicamente na possibilidade de ser candidato à Presidência da República há
cerca de três anos. Em abril de 2015, ele se desfiliou do PP já com a intenção
de seguir o "sonho" de ser presidente.
"Foi um
pedido verbal, mas oficial. A gente começa aí um processo de separação, que
espero que seja amigável. Tenho um sonho para 2018 de disputar o cargo de
senador ou presidente da República. No partido onde estou, dificilmente serei
candidato sequer para o Senado. O que sinto é que eles querem uma opção
diferente para 2018", afirmou, na ocasião.
Em novembro de
2016, ele reforçou que disputaria a eleição presidencial "quer gostem ou
não", ao prestar depoimento na condição de testemunha num processo aberto
pelo Conselho de Ética da Câmara para apurar se Jean Wyllys (PSOL-RJ) quebrou o
decoro parlamentar ao cuspir em Bolsonaro em 2015.
Na época, o
ex-capitão do Exército estava filiado ao Partido Social Cristão (PSC) - sigla
conhecida por reunir líderes evangélicos -, e havia divergências dentro do
partido sobre uma eventual candidatura dele.
"Há dois
anos me preparo para que o partido, se assim entender, (permita minha
candidatura) de acordo com minha aceitação popular. Eu estarei pronto para
enfrentar uma campanha presidencial, o que não é fácil", disse.
Agosto de 2017-
Primeiras pesquisas mostravam Bolsonaro atrás de Lula
Em agosto do
ano passado, quando as primeiras pesquisas de intenção de voto começaram a ser
divulgadas, Bolsonaro já aparecia em posição competitiva. Na ocasião, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda era tido como o candidato do PT -
ele ainda não havia sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em
segunda instância, o que acabou ocorrendo em janeiro de 2018.
Uma pesquisa do
Datafolha divulgada no dia 30 de agosto de 2017 pelo jornal "Folha de
S.Paulo" mostrava Lula em primeiro lugar com 36% das intenções de voto,
seguido por Bolsonaro, com 16%, e por Marina Silva (Rede), com 14%.
Março de 2018 -
Filiação ao PSL e lançamento da pré-candidatura
Após
divergências com o PSC e sem ver espaço para ser candidato por esse partido,
Bolsonaro migrou para o Partido Social Liberal (PSL) em 7 de março deste ano.
Ele aproveitou
a ocasião para lançar a pré-candidatura à Presidência com um discurso focado em
defender a revisão da Lei do Desarmamento. O evento contou com gritos de
"mito, mito, mito", orações e Hino Nacional.
© MAURO PIMENTEL/AFP Bolsonaro cresceu fortemente em intenção de voto na semana que antecedeu à eleição |
Abril de 2018 -
Prisão de Lula e tomada da dianteira nas pesquisas por Bolsonaro
Em abril, Lula
foi preso, três dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) negar habeas
corpus da defesa que pedia que ele não pudesse ser detido até uma condenação
definitiva - o chamado trânsito em julgado. Apesar da prisão, o PT decidiu
insistir na candidatura de Lula até o prazo final dado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) para a substituição do nome.
Bolsonaro
passou à dianteira nas pesquisas de intenção de voto nos cenários em que
Fernando Haddad aparecia como substituto do ex-presidente na chapa do PT.
Pesquisa Ibope divulgada em 20 de junho mostrava o candidato do PSL com 17% das
intenções de voto, seguido por Marina Silva (13%), Ciro (8%) e Alckmin (6%).
Haddad, até então vice na chapa de Lula, aparecia só com 2%.
14 de agosto de
2018 - Bolsonaro registra a candidatura
Em 14 de
agosto, Bolsonaro registrou a sua candidatura no TSE e declarou um patrimônio
de R$ 2,3 milhões (todos os candidatos precisam declarar patrimônio à Justiça
Eleitoral).
No dia
seguinte, o PT registrou a candidatura de Lula, embora o petista estivesse
preso e impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.
6 de setembro -
Bolsonaro leva facada em comício em Juiz de Fora (MG)
Um dos
episódios mais marcantes de toda a campanha ocorreria no dia 6 de setembro na
cidade mineira de Juiz de Fora. Bolsonaro estava nos ombros de apoiadores,
durante um comício, quando levou uma facada na barriga.
O autor do atentado,
Adelio Bispo de Oliveira, 40, foi preso. Bolsonaro chegou a perder 40% do
sangue do corpo - cerca de 2,5 litros - e passou por duas cirurgias.
Com o episódio,
ele se afastou das campanhas nas ruas mas, ao mesmo tempo, ganhou ampla
visibilidade na mídia, inclusive no horário nobre de televisão.
Os adversários
dele, por sua vez, decidiram mudar a estratégia de campanha, moderando o tom
das críticas ao candidato do PSL nas duas primeiras semanas que se seguiram ao
atentado. A lógica era a de que poderia não pegar bem fazer ataques pesados a
alguém hospitalizado.
10 de setembro
- Substituição de Lula por Haddad como candidato do PT
Após Lula ser
barrado pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, o PT decidiu
substituir a candidatura do ex-presidente pelo vice na chapa, Fernando Haddad.
Nos dias que se seguiram, começou a ficar mais evidente que a reta final da
campanha poderia se centralizar numa disputa entre Bolsonaro e o ex-prefeito de
São Paulo.
O candidato do
PSL passou a apresentar um crescimento constante nas pesquisas, se consolidando
no primeiro lugar em intenções de voto. Haddad também cresceu fortemente, se
beneficiando da transferência de votos de Lula e passando a figurar em segundo
lugar. Mas os dois também carregavam altas taxas de rejeição - acima de 40%.
A campanha
eleitoral assumiu, então, o seu maior grau de polarização, com a possibilidade
de uma disputa entre anti-petistas e anti-Bolsonaro num segundo turno.
30 de setembro
- Mulheres vão às ruas em campanha #EleNão
Uma semana
antes do primeiro turno da eleição, milhões de mulheres tomaram as ruas de 114
cidades do Brasil para protestar contra Bolsonaro, como parte do movimento
#EleNão, que se espalhou nas redes sociais.
Conhecido por
declarações machistas, como quando disse, em 2016, que não empregaria uma
mulher com o mesmo salário que um homem, o candidato do PSL alcançou, ao longo
da campanha, patamar de 50% de rejeição entre as eleitoras.
Em reação ao
#EleNão, mulheres apoiadoras de Bolsonaro organizaram atos em 16 cidades.
5 de outubro -
Bolsonaro 'boicota' debate da TV Globo dando entrevista para a Record
Desde que levou
a facada, Bolsonaro precisou passar semanas internado e deixou de participar de
debates televisivos.
Para
especialistas, o fato de não ter precisado enfrentar perguntas difíceis, no
embate ao vivo com os demais candidatos, pode ter beneficiado o candidato do
PSL, que passou a se dedicar à divulgação de vídeos nas redes sociais.
No último
debate televisivo, marcado para ocorrer dois dias antes do primeiro turno,
Bolsonaro já havia sido liberado do hospital e se recuperava em casa. Mas
afirmou que não participaria "por recomendação médica".
No entanto, no
mesmo dia e horário do debate, quando todos os outros candidatos se dedicavam a
responder às perguntas uns dos outros, a TV Record exibiu uma entrevista
exclusiva com Bolsonaro, gravada na casa no deputado do PSL.
Nos 30 minutos
de vídeo, o candidato atacou seus adversários, especialmente Haddad, a quem
chamou de "fantoche de Lula", além de criticar a condução das
investigações sobre o atentado que sofreu e dizer que não tem responsabilidade
sobre a divulgação de fake news por seus apoiadores.
6 de outubro -
A última pesquisa e a chance de vitória em primeiro turno
Na semana que
antecedeu o primeiro turno das votações, Bolsonaro cresceu fortemente nas
pesquisas a ponto de alcançar 40% dos votos válidos, seguido por Haddad, com
25%, e Ciro, com 15%.
A alta gerou,
nas redes sociais, um movimento em prol de "voto útil" do eleitor
"antipetista" por uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno.
7 de outubro -
Bolsonaro vota no Rio de Janeiro
Bolsonaro votou
às 8:55, na Escola Municipal Rosa da Fonseca, dentro da Vila Militar, em
Deodoro, na Zona Oeste do Rio. Ao ser perguntado por jornalistas sobre sua
expectativa, ele afirmou: "Acaba hoje".
À noite, foi
anunciado o resultado do primeiro turno: Bolsonaro recebeu 46,03% dos votos e
Haddad, 29,28%. Em transmissão ao vivo para o Facebook, o candidato do PSL
comemorou o resultado, mas colocou em dúvida as urnas eletrônicas.
"Vamos
junto ao TSE exigir soluções para isso que aconteceu agora, e não foi pouca
coisa, foi muita coisa. Tenha certeza: se esses problemas não tivessem
ocorrido, e tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do
futuro presidente da República decidido hoje."
9 de outubro em
diante - Denúncias de agressões no segundo turno
Logo depois do
primeiro turno, começaram a proliferar relatos de agressões relacionadasao
discurso eleitoral. Um dos casos mais dramáticos foi registrado em Salvador:
o assassinato do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, o Moa
do Katendê, de 63 anos. Ele foi morto a facadas após uma discussão política
algumas horas depois da eleição de domingo.
Testemunhas
disseram que o desentendimento começou quando o capoeirista revelou apoio ao
candidato do PT. O agressor, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos,
teria defendido Bolsonaro.
O período
eleitoral também foi marcado por casos de agressões a jornalistas. Foram 137 em
2018, segundo estimativas da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) - sendo 75 ataques digitais e 62 físicos, e a maioria deles ligados à
cobertura eleitoral.
Ao ser questionado
sobre atos de violência nas ruas, Bolsonaro disse que não tem controle sobre
seus apoiadores. "O cara lá que tem uma camisa minha e comete um excesso,
o que é que eu tenho a ver com isso?", questionou.
"Eu
lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre
milhões e milhões de pessoas que me apoiam."
No dia 12 de
outubro, ele foi mais enfático em condenar as agressões. "Dispensamos voto
e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam
em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e
que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores
que tentam nos prejudicar", afirmou, em sua conta no Twitter.
10 de outubro -
Bolsonaro anuncia que não vai participar de debates
Dois dias após
o primeiro turno da eleição, Bolsonaro afirmou que não participaria do debate
organizado por Folha de S.Paulo, UOL e SBT, marcado para o dia 17 de outubro.
Na época, ele alegou que a equipe médica recomendou "mais alguns dias de
repouso".
Pouco mais de
uma semana depois, o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, declarou
que Bolsonaro não participaria de nenhum debate televisivo com Haddad no
segundo turno e nem viajaria para atos de campanha.
A justificativa
dada foi o desconforto causado pela bolsa de colostomia presa ao seu corpo
desde que levou a facada, além de questões de segurança. Em entrevista à TV
Globo, Bolsonaro afirmou considerar os debates algo "secundário".
"Eu
poderia me submeter a uma aventura, mas poderia ter uma consequência péssima
para minha saúde. Levando-se em conta a restrição, a minha saúde e a gravidade
do que ocorreu, a tendência é eu não participar de debates. Não posso abusar
nesse momento. Questão de debate é secundário. Da minha parte, até gostaria
porque não teria dificuldade de debater com preposto com um poste do
Lula."
18 de outubro -
Reportagem diz que empresas pagavam por disparos contra o PT no WhatsApp
Reportagem da
Folha de S.Paulo publicada no dia 18 de outubro afirmou que empresas que apoiam
Bolsonaro estavam comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o
PT no WhatsApp. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por
empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.
Bolsonaro se
pronunciou dizendo que "não tem nada a ver com isso". E passou a
criticar fortemente a Folha de S.Paulo, inclusive prometendo cortar, quando
eleito, publicidade do governo federal no jornal. "A Folha de S.Paulo é a
maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do
governo", disse, em transmissão ao vivo.
A pedido da
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a Polícia Federal abriu uma
investigação sobre a compra de pacotes de disparos no WhatsApp.
20 de outubro -
Filho de Bolsonaro fala em 'fechar o STF'
Um dos
acontecimentos que mais geraram repercussão durante a campanha do segundo turno
foi a divulgação de imagens em que Eduardo Bolsonaro, 34 anos, um dos filhos do
candidato à Presidência, afirma que bastariam um "cabo e um soldado"
para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em vídeo
gravado em julho, disponível na internet, Eduardo, que foi reeleito deputado
federal, aparece numa sala de aula de um cursinho para interessados em
ingressar na Polícia Federal, em Cascavel (PR).
Ele é
perguntado por um aluno sobre o que poderia ser feito caso o STF impugnasse a
candidatura ou diplomação do pai dele por fraude eleitoral. Eduardo respondeu,
em tom de ameaça, que o tribunal "terá que pagar para ver o que
acontece" e argumentou que dificilmente haveria reação popular se um
ministro do Supremo fosse preso.
A declaração
gerou forte reação entre ministros da Corte. O presidente do STF, ministro Dias
Toffoli, afirmou que "atacar o Poder Judiciário é atacar a
democracia", enquanto Celso de Mello - decano do Supremo - disse que a
fala foi "inconsequente e golpista".
Jair Bolsonaro
primeiro afirmou que "qualquer um que fale em fechar o Supremo precisa se
consultar com um psiquiatra". Posteriormente, ele disse: "Eu já
adverti o garoto, o meu filho, a responsabilidade é dele. Ele já se
desculpou".
21 de outubro -
Bolsonaro fala em 'faxina' e promete 'banir marginais vermelhos'
Em vídeo ao
vivo transmitido durante um comício na Avenina Paulista, em São Paulo,
Bolsonaro proferiu um dos discursos mais agressivos da campanha. "A faxina
agora será muito mais ampla. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa
pátria", afirmou o capitão reformado.
Ele também
ameaçou prender o senador Lindbergh Farias e o próprio Haddad, e afirmou que
Lula irá "apodrecer na cadeia".
"Seu Lula
da Silva, se você estava esperando Haddad vencer para assinar o decreto de
indulto, eu vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia. Brevemente
você terá Lindbergh Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai
chegar aí também. Não será para visitá-lo não, será para ficar alguns anos ao
seu lado", disse. "Será uma limpeza nunca vista na história",
completou.
27 de outubro -
Última pesquisa Datafolha aponta vitória de Bolsonaro
No sábado, foi
divulgada a última pesquisa de intenção de voto do Datafolha dessas eleições.
Bolsonaro aparecia com 55% das intenções de votos válidos, uma vantagem de dez
pontos percentuais em relação a Haddad (45%).
Ao longo das
semanas que antecederam a eleição, a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad, que
chegou a ser de 18 pontos percentuais, diminuiu. Mas não o suficiente para que
o petista chegasse perto de efetivamente ameaçar a liderança do candidato do
PSL.
28 de outubro -
Bolsonaro vota no Rio de Janeiro
Com esquema
reforçado de segurança e vestindo um colete a prova de balas, Bolsonaro votou
às 9h17, acompanhado da esposa, na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila
Militar, em Deodoro, na Zona Oeste do Rio.
"Pelo que
eu vi nas ruas nos últimos meses, é vitória", disse ele, ao ser
questionado sobre a expectativa para o resultado.
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