Famoso por
participação em documentários, Zahi Hawaas
participa de movimento por repatriação de
objetos egípcios
(Foto: Zahi Hawaas/Divulgação)
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Para Zahi
Hawass, ex-ministro egípcio de Antiguidades, destruição de sarcófagos e múmias
no Museu Nacional legitima esforços para repatriar objetos egípcios em museus
estrangeiros.
Ex-ministro de
Antiguidades do Egito, o arqueólogo Zahi Hawass diz que o incêndio que destruiu
boa parte do acervo do Museu Nacional – que incluía a maior coleção de arte
egípcia da América Latina – foi uma tragédia também para seu país.
"Como pode
um grande museu numa cidade tão grande ficar desguarnecido e desprotegido
contra incêndios?", questiona Hawass em entrevista à BBC News Brasil.
"Foi uma
falha da equipe do museu ou do governo? Não sei, mas foi um crime que nos faz
lamentar muito", afirmou.
Segundo o
arqueólogo, "todo museu no mundo faz testes de incêndio para garantir que
o sistema de alarme funcione". Ele diz que a tragédia legitima o movimento
pela repatriação de objetos egípcios em museus espalhados pelo mundo. "Se
eles não forem protegidos, deverão voltar à terra mãe", diz.
Campanha
pelo retorno da arte egípcia
Famoso por suas
participações em documentários sobre o Egito Antigo, Hawass ganhou ainda mais
visibilidade nos últimos anos ao endossar uma campanha pelo retorno da arte
egípcia presente em outros países.
Após dirigir
instituições responsáveis por alguns dos principais monumentos egípcios – como
as pirâmides de Gizé e as ruínas de Saqqarah e Al-Wāḥāt al-Baḥriyyah –, ele foi
nomeado em 2002 secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, órgão do
governo responsável pela preservação do patrimônio.
Em 2011, Hawass
chefiou por alguns meses o Ministério de Antiguidades após a criação do órgão,
até a queda do presidente Hosni Mubarak, em meio à Primavera Árabe.
Ele diz que
visitou o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2009. "Eu vi como as
crianças de escolas corriam para ver as múmias e pude ver que os artefatos eram
muito importantes", afirma.
Entre os 700
itens da coleção egípcia, havia sarcófagos, estátuas, amuletos, bronzes e
múmias – a maioria dos períodos mais tardios da história egípcia, como o Reino
Novo (1550 AC a 1077 AC) e o Terceiro Período Intermediário (1069 AC a 664 AC).
Segundo Hawass,
a melhor peça da coleção era o esquife (sarcófago) de uma cantora do santuário
do deus Amun chamada Sha-Amun-em-su. O objeto, com 1,58 metro, data da 23ª
Dinastia (cerca de 750 AC) e foi presenteado pelo Quediva (vice-rei) do Egito,
Ismail, ao imperador D. Pedro 2º durante sua viagem ao Egito, em 1876.
O arqueólogo
destaca ainda a coleção de gatos e crocodilos embalsamados e "uma múmia
muito peculiar de uma rainha do Período Romano" (entre os séculos 4 e 6).
Sarcófago da
Dama Sha-Amun-em-su era uma das principais
peças da coleção egípcia do Museu Nacional
(Foto:
Antonio Brancaglion/Museu Nacional)
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Coleção
egípcia do Museu Nacional
Hawass diz que
as peças do Museu Nacional não estavam entre as coleções que arqueólogos
egípcios tentam repatriar, pois "muito desses itens deixaram o Egito como
presentes ou num período em que o comércio de antiguidades era legal no
país".
Vários objetos
que o movimento pretende recuperar saíram do Egito quando a nação era um
protetorado britânico (1882-1953) e potências europeias enriqueciam os acervos
de seus museus com objetos retirados das colônias.
Entre os itens
mais cobiçados estão a Pedra de Roseta, hoje no Museu Britânico (Londres), e o
busto da rainha Nefertiti, do Museu Egípcio de Berlim.
Há movimentos
pela repatriação de objetos artísticos em vários países. No Brasil,
pesquisadores, autoridades e indígenas tentam recuperar vários fósseis e
artefatos que estão em museus estrangeiros - como os mantos tupinambás,
exuberantes peças de plumária cujos últimos seis remanescentes estão na Europa.
Embora a
coleção do Museu Nacional não estivesse na mira dos arqueólogos egípcios,
Hawass diz que a destruição do acervo reforça o movimento pela repatriação de
objetos.
"Este
incidente nos permite pedir à Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) para que países com coleções no exterior, e
museus no exterior, tenham controle sobre essas coleções, para que possamos
garantir que esses objetos sejam protegidos e restaurados adequadamente."
E se os museus
estrangeiros não forem capazes de garantir a segurança e conservação dos
objetos, o arqueólogo defende que sejam devolvidos à terra natal.
"Acho que
essa é uma decisão que a Unesco pode tomar, porque o incêndio foi devastador
para todos nós."
Por João Fellet, BBC, São Paulo
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