Joseph
Stiglitz, prêmio Nobel de economia
(Foto: Lucas
Jackson/Reuters)
|
O economista
americano Joseph Stiglitz afirma que o presidente argentino, Mauricio Macri,
deveria buscar maneiras de renegociar a dívida e alerta que crise pode atingir
outros países emergentes com grande déficit nas contas públicas.
Vencedor do
prêmio Nobel de economia, o americano Joseph Stiglitz tem um conselho a dar ao
presidente argentino Mauricio Macri: pense em renegociar a dívida do país.
A Argentina
vive uma nova crise econômica com uma grande desvalorização do peso e um
aumento das taxas de juros – o Banco Central argentino subiu a taxa básica de
juros para 60% ao ano, um dos valores mais altos do mundo.
"Se isso
excluir a Argentina dos mercados internacionais, o que provavelmente não fará,
pode ser que não seja tão ruim", sustenta Stiglitz em entrevista à BBC
News Mundo, o serviço em espanhol da BBC News.
O país teme que
a inflação aumente, que a incerteza tome conta do mercado e que apareça de novo
o fantasma da inadimplência. Macri recorreu à ajuda do FMI (Fundo Monetário
Internacional), mas até agora isso não foi capaz de inspirar confiança na
economia.
A análise de
Stiglitz, que já foi economista-chefe do Banco Mundial, é que os erros de Macri
limitam a margem de ação. Além disso, os custos das medidas de austeridade que
o argentino tenta implementar podem ser grandes demais se não houver uma
renegociação da dívida do país.
"Uma
grande crise no país poderia afetar os outros países da região de diversas
formas", adverte. "Particularmente neste momento concreto porque os
países do mundo têm déficits de conta corrente, como a Turquia, ou com grande
déficit de dívidas, enfrentam problemas".
Stiglitz
conversou com a BBC News Mundo antes de participar de um evento organizado pela
Comissão Independente para a Reforma da Fiscalização Corporativa Internacional,
em Nova York. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC News - O
senhor recomendou mudanças na política macroeconômica argentina em junho, em um
artigo com o economista Martín Guzmán. O que acha das medidas que o governo
está aplicando?
Joseph
Stiglitz - O que escrevi originalmente é que Macri, quando chegou,
confiou demais na ideia de que haveria uma entrada de capital de investimento
estrangeiro. Ele cometeu um grande erro ao cortar os impostos sobre exportação,
que eram uma importante fonte de recursos, e ao aumentar a dívida com o
montante que teve que pedir emprestado. Isso tudo encareceu os alimentos e
reduziu os salários reais dos trabalhadores.
Acabamos de
falar em uma conferência sobre a importância de se diminuir a desigualdade.
Essa foi uma medida que aumenta a desigualdade, porque reduz os impostos para
os mais ricos e os mais pobres pagam o preço.
Não acompanhei
todas as suas medidas, mas pelo que vi, agora o governo elevou os impostos para
exportações, em um novo pacote de medidas. Se tivesse feito isso originalmente,
não estaria na situação extrema em que está hoje. Este sim é um movimento na
direção correta. Nossa opinião também era de que uma parte crítica do erro foi
o enfoque excessivo nas metas de inflação.
BBC News - E
que isso estava atraindo mais capital especulativo...
Stiglitz - Exato.
Juros excessivamente altos atraem capital que vem por um tempo e logo vai
embora. O que me preocupa é que, uma vez que se cria uma crise, como parecem
ter feito, bem previsivelmente, essas políticas de má gestão, a margem de
manobra fica muito limitada. As medidas de austeridade que estão implantando
vão desacelerar a economia e impor novamente um alto custo para o povo. Um
outro instrumento é a reestruturação da dívida.
BBC News - O
senhor recomenda a reestruturação da dívida como uma medida a ser tomada?
Stiglitz -
Sim, creio que deve ser feita a reestruturação (ou renegociação) da dívida. Do
contrário, os custos que vão aparecer por causa da austeridade são grandes
demais. Há muito otimismo irracional, tanto dos devedores quando dos credores.
BBC News -
Sugere algum tipo específico de reestruturação?
Stiglitz - Ao
menos uma nova renegociação para adiar os pagamentos imediatos. Suspeito, no
entanto, que diante da magnitude dos erros econômicos que foram cometidos nos
últimos anos, teria que haver um perdão da dívida.
BBC News -
De novo?
Stiglitz -
De novo. Depois da crise de 2001, havia uma filosofia de que a Argentina
deveria evitar endividar-se muito no exterior. E não foi uma coisa ruim que a
Argentina tenha sido excluída dos mercados internacionais. Foi uma espécie de
lição, que fez com a que Argentina enfrentasse as realidades orçamentárias. Não
uma lição feita da melhor maneira, mas ao menos evitou uma pós-crise.
Os termos do
acordo de Macri com os credores e a enorme deferência depois da Argentina ter
se sacrificado tanto foram exagerados. E criaram para a Argentina um problema
futuro.
Alguém do lado
dos credores também deveria ter feito o tipo de análise que eu e outros
fizemos, e se dar conta de talvez não fosse um bom negócio. Conseguiram taxas
de juros mais altas, uma vantagem do risco. E quando te pagam mais pelo risco,
você tem que enfrentá-lo. E agora é o momento. Se isso (a rediscussão da
dívida) excluir a Argentina dos mercados internacionais, o que provavelmente
não vai acontecer, pode ser que não seja tão ruim.
BBC News -
Como a Argentina deveria fazer a negociação com o FMI para evitar erros do
passado?
Stiglitz - Os
erros do passado foram a austeridade excessiva, a perda da autonomia econômica
nacional... Há uma lista enorme de condições que eram inapropriadas. A boa
notícia é que algumas negociações recentes foram mais flexíveis.
Então é preciso
ver quais foram as demandas particulares que o FMI fez.
BBC News -
Há possibilidade de que a crise afete o resto da América Latina? Ou é um
problema particular da Argentina?
Stiglitz - Este
é um problema particular da Argentina, mas uma grande crise no país poderia
afetar os outros países através de várias formas. E particularmente neste
momento concreto porque os países do mundo que têm déficit de conta corrente,
como a Turquia, ou com grandes déficit de dívidas, enfrentam problemas.
Há vários
países, não vou dizer quais, que acredito que podem estar à beira de uma crise.
Se houver um par de crises em um período curto, pode haver um efeito
multiplicador e criar uma crise nos mercados emergentes. Por outro lado, os
problemas poderiam permanecer locais. Em termos gerais, creio que há
preocupações.
BBC News -
Se refere a países de América Latina ou a mercados emergentes em geral?
Stiglitz
- Mercados emergentes em geral.
Por BBC
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!