A história costuma ser cruel com quem a negligencia. Quem contribuiu
pela omissão, em décadas de desídia, para o triste desastre da destruição do
Museu da Quinta da Boa Vista, não terá como escapar de ter a própria história
tisnada pelo registro deste crime, de consequências cuja extensão levaremos
ainda muitos anos para avaliar corretamente.
Do ponto de vista da Família Imperial Brasileira, cujos integrantes
assinam esta declaração, é tarefa urgente investigar as causas e revelar o
caminho que levou a tão grave desastre. Para apontar culpas e punir os
responsáveis, se for o caso. Mas, sobretudo, para jogar luz sobre igual
abandono e desinteresse que põe claramente em iminente risco outros bens do
povo brasileiro.
Bens valiosos pertencentes à Família Imperial doados por descendentes
de Dom Pedro II e da Princesa Isabel ao Museu foram consumidos pelas chamas, no
domingo. A intenção, como ocorreu com as doações feitas também ao Museu
Imperial de Petrópolis e tantos outros foi entregar ao povo brasileiro bens,
documentos e obras de arte importantes para o estudo de sua história. E muitos
outros mecenas ajudaram a construir aquele acervo. Sentimos, portanto, como
todos os brasileiros, a indignação com a forma com que esse patrimônio foi
tratado, até levá-lo à destruição, na Quinta da Boa Vista.
Os avisos foram muitos, nenhum governo pode se dizer desinformado e
nem se pode tratar o incêndio de domingo como uma exceção. Na verdade,
negligenciamos nosso imenso e rico patrimônio histórico, cultural e científico,
como o fazemos com tantos outros aspectos da vida brasileira.
Milhões e milhões de documentos importantíssimos foram destruídos.
Tudo resultante de dois séculos de estudos e pesquisas que mobilizaram o
esforço de vida de notáveis da inteligência brasileira. O que se perdeu e como
se perdeu é tema do dia no mundo inteiro, não apenas dos órgãos de comunicação,
mas também nas mais respeitáveis instituições de pesquisa histórica, científica
e cultural. A dor é universal, mas a vergonha é nacional.
D. Pedro II e a Princesa Isabel nasceram no Paço de São Cristóvão e lá
estavam tantos registros do amor que ambos dedicaram ao país e ao seu povo.
Como seus descendentes, lamentamos profundamente o que aconteceu e o que levou
à destruição desse acervo, patrimônio de todos nós. Desejamos que essa tragédia
nos ensine que todos temos papel importante na preservação de instituições e
acervos que contam a história do país.
Este documento pode ser entendido como um protesto, com o qual nos
unimos a todas as manifestações já tornadas públicas em todo o mundo sobre a
destruição do Palácio da Quinta da Boa Vista. Cabe a todos nós brasileiros
lutar para preservar a nossa história, da mesma forma que cabe a todos nós não
calar diante de descalabros, em quaisquer áreas da vida nacional em que eles
ocorram.
Petrópolis, 3 de setembro de
2018.
Pedro Carlos de Orleans e
Bragança
João Henrique de Orleans e
Bragança
Afonso de Orleans e Bragança
Maria de Orleans e Bragança
Júlia de Orleans e Bragança
Manuel de Orleans e Bragança
Manuel Alfonso de Orleans e
Bragança
Luisa de Orleans e Bragança
Francisco de Orleans e Bragança
Rita de Cássia Pires de Orleans e
Bragança
Francisco Theodoro de Orleans e
Bragança
Gabriel de Orleans e Bragança
Manuela de Orleans e Bragança
Cristina de Orleans e Bragança
Anna de Orleans e Bragança
Paola de Orleans e Bragança
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