Ponto na
fronteira do México com o estado do Novo México,
nos Estados Unidos (Foto: Reprodução/Google
Street View)
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Se ela for
deportada, jovem com autismo e deficiência neurológica ficará sob cuidado do
governo dos EUA pelo menos até os 21 anos. Segundo advogado, dupla não entrou
ilegalmente no país e pediu asilo após ser ameaçada por policial no Brasil.
Muito antes da
adoção da política de tolerância zero adotada pelos Estados Unidos na fronteira
com o México – que separou
quase 2 mil crianças de seus pais nas últimas semanas – a
brasileira Maria de Bastos sofreu ao ter seu neto tirado de sua companhia ao
chegar ao país.
Solicitante de
asilo, ela foi detida há dez meses no Novo México, e Matheus, que tem 17 anos e
tem autismo e epilepsia severos e isquemia perinatal, não pode acompanhá-la ao
centro de detenção por ser menor de idade. Ele foi levado a outro local,
inicialmente não informado à avó.
Segundo o
advogado que a assiste nos EUA, Eduardo Beckett, ainda hoje os dois continuam
separados sem nunca mais terem se visto, e se falam apenas uma vez por semana,
por telefone. Maria está em um presídio federal no Texas e Matheus em uma
instituição governamental no estado de Connecticut, a cerca de 3 mil
quilômetros de distância.
A brasileira,
que tentava se estabelecer nos EUA com o jovem que cria desde pequeno, alega
sofrer ameaças no Brasil, e aguarda para qualquer momento o resultado de uma
decisão judicial que pode tornar a separação permanente. Caso o juiz de
imigração decida deportá-la, Matheus fica nos EUA, e ela não poderá entrar no
país para visitá-lo.
Decisão
Segundo Eduardo
Beckett, se Maria perder o caso, seu neto ficará sob os cuidados do governo dos
Estados Unidos até completar 21 anos, quando, teoricamente, terá liberdade para
decidir se prefere continuar no país ou retornar ao Brasil.
Mas, como não
tem condições de optar sozinho, ainda não está claro quem poderia tomar essa
decisão. “Provavelmente um tribunal”, afirma Beckett, que acredita que o
resultado deve ser conhecido dentro de algumas semanas.
A avó poderá
ainda apelar dentro de um prazo de 30 dias após uma sentença negativa, mas
mantém a esperança de que possa sair vencedora. “Esperamos que ela seja
libertada, e nesse caso reunida a Matheus. Então, depois de um ano, recebe o
status de asilada e após um ano pode pedir o direito de residência permanente”,
explica o advogado.
“A única
razão pela qual ela saiu do Brasil foi para garantir a segurança do neto, não é
justo ou admissível que tenha que ficar longe dele”, diz Beckett.
“É nisso que
acreditamos e por isso estamos colocando uma grande pressão sobre esse caso. Já
conversei com o congressista que representa nossa região, entrei em contato com
a Anistia Internacional. Matheus tem necessidades especiais e isso faz com que
sofra ainda mais com a separação”, acrescenta.
De acordo com
Beckett, Maria não tentou entrar ilegalmente nos EUA. Ela se apresentou a um
posto de fronteira ao chegar e disse que queria pedir asilo. O motivo alegado
para sua detenção é porque, em 2007, em outra temporada no país, ela teria
trabalhado como babá sem permissão oficial. No entanto, de acordo com Beckett,
isso gerou uma punição que a impediu de retornar por dez anos, e que já havia
sido cumprida.
Beckett diz
ainda que em geral é difícil que um cidadão brasileiro consiga receber asilo
nos Estados Unidos porque o país não considera que o Brasil seja um local que
ofereça grandes riscos. Por isso, um de seus objetivos é conseguir provar que
avó e neto realmente correm perigo, já que afrimam que um policial ameaçou a
vida de ambos depois de um desentendimento entre seu irmão e Maria.
Separação de
famílias
O advogado
Beckett não demonstra muito otimismo com a ordem executiva assinada nesta
quarta-feira (20) pelo presidente Donald Trump para que famílias sejam
detidas juntas, sem que crianças sejam separadas dos pais.
“É um bom
primeiro passo, talvez, mostra que a pressão pública funcionou”, avalia, “mas a
questão é: por que essas pessoas estão sendo presas, por que estão sendo
tratadas como criminosas se não cometeram um crime? A imigração é uma questão
social, não um crime”, opina.
Ele também
lamenta uma nítida piora nos maus tratos a imigrantes ilegais por conta dos
policiais nas fronteiras e dos agentes da Imigração e Fiscalização Alfandegária
(ICE, na sigla em inglês) desde a eleição de Trump.
“Eles sempre
tiveram uma reputação ruim, tratam imigrantes como inferiores, mas agora é
definitivamente pior. Antes ao menos fingiam ser mais decentes”, compara. “Havia
alguns casos, mas não um racismo aberto como agora, não assim. Eles são
incentivados por nosso presidente e se sentem com mais poder”, lamenta.
O presidente
dos EUA, Donald Trump, exibe ordem executiva para interromper a separação de
pais e crianças na fronteira entre o país e o México, na Casa Branca, na
quarta-feira (20), ao lado da secretária de Segurança Kirstjen Nielsen (Foto:
AP Photo/Pablo Martinez Monsivais)
Por G1
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