O presidente
peruano Pedro Pablo Kuczynski durante
cerimônia no
palácio presidencial, em Lima, no dia 27
de julho
(Foto: Reuters/Guadalupe Pardo)
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'Já me
condenaram antecipadamente', afirmou Pedro Pablo Kuczynski em recurso
apresentado a tribunal. Opositores têm votos suficientes para garantir
impeachment e analistas apontam que presidente deve cair ainda nesta quinta
(21).
O presidente
peruano, Pedro Pablo Kuczynski, comparece nesta quinta-feira (21) diante do
Congresso para se defender das acusações sobre seus vínculos com a construtora
Odebrecht, mas as possibilidades de evitar um impeachment parecem mínimas.
"Já me
condenaram antecipadamente", afirmou Kuczynski em um recurso apresentado
nesta quarta a um tribunal constitucional de Lima.
"Em nenhum
momento foi convocado para prestar depoimento na comissão da Lava Jato no
Congresso sobre a informação que o vinculava à Odebrecht", destaca o
recurso.
Em entrevista
coletiva, Kuczynski destacou que a comissão parlamentar "ignorou sua
disposição de esclarecer" o caso e "motivou o Parlamento a debater a
vacância presidencial por incapacidade moral permanente sem qualquer prova determinante",
proposta que o Congresso "admitiu autoritariamente".
Kuczynski corre
o risco de virar o primeiro presidente a perder seu posto por causa da
Odebrecht, que admitiu ter pagado milhões de dólares em propinas em vários
países latinos-americanos para obter importantes contratos de obras públicas.
"Eu não
menti, não sou corrupto",
insistiu.
Os analistas
alertam que a economia peruana sofrerá um forte impacto com a incerteza
política e a Igreja católica apelou para que se evite um aprofundamento da
crise.
"A sorte
do presidente Kuczynski está lançada", afirmou à AFP o analista político
Luis Benavente, que prevê que o presidente de centro-direita será destituído
ainda nesta quinta.
A pedido de
Kuczynski, a OEA enviará uma missão a Lima para observar o processo de
impeachment. O grupo será integrado por Jean Michel Arrighi, secretário de
Assuntos Jurídicos da organização, e por Gustavo Cinosi, assessor sênior do
secretário-geral, Luis Almagro.
O
primeiro-vice-presidente peruano, Martín Vizcarra, que assumiria o governo caso
destituam o presidente, chegou ao Peru e afirmou sua lealdade ao presidente.
"O
presidente me pediu que retorne hoje e aqui estou, ao lado do presidente.
Primeiro para escutá-lo e para que esclareçam todas as dúvidas", disse à
imprensa Vizcarra, que também é embaixador peruano no Canadá.
Cinco
milhões de dólares?
Kuczynski
apresentará suas alegações a partir das 9h locais (12h em Brasília) a um
Congresso dominado pela oposição, decidido a destituí-lo, oito dias depois de o
escândalo Odebrecht fazer outra vítima proeminente, o vice-presidente
equatoriano Jorge Glas, condenado a seis anos de prisão por receber propinas.
Empresário de
79 anos com experiência e amigos em Wall Street, Kuczynski alega que nunca
recebeu pagamentos ilegais da empresa brasileira, mas três em cinco peruanos
consideram que ele deve deixar o poder, segundo pesquisas de opinião.
Depois de ouvir
as alegações do chefe de Estado, o Congresso unicameral manterá um debate antes
de iniciar a votação pelo impeachment por ter ocultado que empresas vinculadas
a ele prestaram assessoria para a Odebrecht, pelas quais pagou quase US$ 5
milhões.
Para aprovar a
vacância por "incapacidade moral permanente" de Kuczynski, com base
em que negou insistentemente os vínculos com a empreiteira para depois ser
desmentido pela própria empresa, são necessários 87 dos 130 votos do Parlamento.
Os votos
parecem certos, visto que o processo de impeachment foi solicitado por 93
legisladores.
Fora todos
O partido
fujimorista Força Popular, que mantém contra as cordas Kuczynski desde que
começou seu mandato, em julho de 2016, exigiu há alguns dias sua renúncia para evitar o impeachment.
Mas os
adversários do presidente tampouco estão isentos de suspeitas: a própria líder
do Força Popular, Keiko Fujimori (filha do ex-presidente detido Alberto
Fujimori), é investigada por causa da Odebrecht e terá que depor na
Procuradoria. Ela deveria fazê-lo nesta quarta-feira, mas pediu para adiar a
entrega de seu testemunho.
Em sinal da
desconfiança com os políticos peruanos, organizações sociais e sindicais
convocaram uma "grande marcha nacional" para esta quarta-feira para
exigir "que todos os corruptos vão embora".
A Odebrecht
admitiu ter pago US$ 29 milhões em propinas para obter obras no Peru entre 2004
e 2015, período que abarcou os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), do
qual Kuczynski foi ministro; Alan García (2006-2011); e Ollanta Humala
(2011-2016).
Humala
permanece em prisão preventiva, acusado de receber US$ 3 milhões para sua
campanha eleitoral de 2011, enquanto que contra Toledo pesa uma ordem de
extradição dos Estados Unidos, por supostamente receber US$ 20 milhões em
propinas para conceder à Odebrecht a construção de uma rodovia.
O
crescimento econômico em risco
O caso
Odebrecht e o processo de destituição estão provocando prejuízos econômicos.
Embora o Peru
registre um crescimento superior ao de seus vizinhos (3,9% em 2016), o país
teve que cortar em um ponto percentual suas expectativas para 2017 a 3,8%
devido à paralisação de algumas obras.
Kuczynski
previu em julho que a economia peruana cresceria mais de 4% em 2018 com a
retomada dos grandes projetos de infraestrutura, mas esta meta agora parece
distante.
O legislador
governista Juan Sheput propôs que se o Congresso destituir Kuczynski, os dois
vice-presidentes peruanos renunciem. Isto obrigaria a convocação de novas
eleições, o que provocaria maiores turbulências econômicas, segundo analistas.
Por France Presse
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