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BRASÍLIA - A
divulgação dos vídeos da delação premiada do operador Lúcio Funaro causou um
novo confronto entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e o presidente Michel Temer. Para interlocutores do Palácio do
Planalto, a medida é mais uma ação de Maia para tentar constranger o governo e
mostrar descolamento do presidente. O governo avalia que o deputado não tinha a
obrigação de colocar os vídeos no site da Câmara.
O episódio
levou a um bate-boca público entre Maia e a defesa de Temer, justamente na
semana em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara vai analisar
o relatório da segunda denúncia contra o presidente, por obstrução da Justiça e
organização criminosa no caso J&F. Neste sábado, 14, o advogado Eduardo
Carnelós publicou nota para criticar “vazamentos criminosos”. Maia
contra-atacou e disse que o defensor é “incompetente”. Carnelós recuou e,
também em nota, disse que “jamais” imputou “a prática de ilegalidade” ao
deputado.
Os vídeos da
delação de Funaro foram divulgados no site da Câmara com documentos
relacionados à segunda denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha
(Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). O material foi enviado pela
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, com ofício
expedido em 21 de setembro, uma semana após a Procuradoria-Geral da República
(PGR) apresentar a segunda denúncia contra Temer.
Segundo a
presidência da Câmara, no ofício não há menção ao sigilo do material. Neste
domingo, 15, por meio de assessoria, Cármen Lúcia afirmou que apenas oficiou
Maia e o relator do inquérito, Edson Fachin, é a autoridade máxima e única no
processo. Segundo o gabinete de Fachin, a delação de Funaro não teve o sigilo
retirado em nenhum momento.
O
secretário-geral da Mesa Diretora, Wagner Soares, que é subordinado a Maia,
determinou, porém, que os vídeos fossem divulgados no site da Câmara. O
material subiu na íntegra no dia 29 de setembro, uma semana depois de o
presidente da Câmara disparar duras críticas a Temer e ao PMDB em razão do
assédio dos peemedebistas a parlamentares do PSB com os quais o DEM negociava
filiação.
Os vídeos
vieram a público somente nesta sexta-feira, 13, com reportagem do jornal Folha
de S.Paulo. A primeira nota de Carnelós com acusação de “vazamento
criminoso” irritou Maia, que fez chegar a Temer sua insatisfação. “Não teve
vazamento. O advogado é incompetente”, disse o presidente da Câmara à Coluna
do Estadão. Em nota, Maia disse ainda ver com “perplexidade muito grande”
ter sido tratado de “forma absurda” pelo advogado, “depois de tudo que fiz pelo
presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira
denúncia”.
Embora as
imagens de Funaro impressionem o Planalto e tenham impacto no governo, a
avaliação é de que essa nova polêmica com Maia pode trazer mais problemas para
o presidente do que o conteúdo dos vídeos. No Planalto, o teor da primeira nota
de Carnelós foi considerado um “tiro no pé”. Temer, então, mandou seu advogado
distribuir a segunda nota, na qual ele negou ter imputado “crime” a Maia, para
amenizar a tensão com o deputado.
Temperatura. A
temperatura entre Temer e Maia já havia subido em razão do episódio do
“assédio” a parlamentares do PSB. Maia disse que foi atingido com uma “faca nas
costas” pelo PMDB. Desde então, houve mais problemas.
Na semana
passada, por exemplo, Maia, em desacordo com o Planalto, abriu a sessão da
Câmara para votar a Medida Provisória (MP) sobre acordos de leniência de
bancos. A base, porém, não apareceu na votação por articulação do governo, que
tinha pressa em votar o relatório pelo arquivamento da segunda denúncia. Maia,
então, sentiu-se derrotado na intenção de votar a MP e acusou o Planalto de não
ter prioridade em suas pautas.
O Planalto já
estava atento às ações de Maia e a desconfiança de parte a parte só tem
crescido. Para o governo, parlamentares que se dizem indecisos poderão
aproveitar o impacto dos vídeos para fazer novas cobranças ao Planalto. A
avaliação é de que isso poderia aumentar o impacto dos apoios, mas não
inviabilizar o arquivamento da denúncia. / COLABOROU BRENO PIRES
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