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Lanza/MPMG O ex-procurador Marcelo Miller
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O ex-procurador Marcello
Paranhos de Oliveira Miller, atacado nesta terça-feira pelo
presidente Michel Temer (PMDB) no pronunciamento em que se
defendeu da acusação de corrupção passiva, foi uma espécie de braço-direito do
procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, até março deste ano, pouco antes do fechamento de acordo de
delação premiada firmada pela Procuradoria com a JBS,
em abril.
Ele integrava o grupo de trabalho
recrutado por Janot para a Operação Lava Jato e ajudou a fechar os acordos
de delação premiada do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado e
do ex-senador Delcídio do Amaral. Ele se desligou do Ministério Público Federal para ser sócio de um
escritório de advogados especializado em compliance (consultoria e auditoria
para empresas atuarem em conformidade com as leis), a Trench Rossi
Watanabe, que tem entre entre as atividades a negociação de delações.
O anúncio do afastamento de Miller
ocorreu às vésperas da delação do empresário Joesley
Batista, do Grupo J&F, que controla a JBS, que teve intermediação
da Trench Rossi Watanabe. Questionada na época, a Procuradoria-Geral
da República afirmou que Miller não participou da negociação e que
existe uma cláusula de que ele não pode atuar pelo escritório nos acordos.
Na Procuradoria, Miller trabalhou
por cerca de 13 anos, onde investigou casos de lavagem de dinheiro e
crimes contra o sistema financeiro. Ele era considerado um dos mais
especializados membros do MPF em direito internacional e penal. Além das
delações de Delcídio e de Machado, ele também participou dos primeiros meses
das tratativas sobre a delação da Odebrecht, mas deixou a equipe
antes do fechamento do acordo. Desde o segundo semestre de 2016, ele se
afastou do grupo de trabalho da Lava Jato, nas se manteve colaborador
eventual.
Em 2011, atuou como delegado do
Brasil no grupo de trabalho da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) para avaliar o sistema anticorrupção da Espanha e da
Suécia em relação ao suborno de funcionários públicos.
Miller é Bacharel em direito pela
UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e tem mestrado em direito
internacional pela mesma universidade. O advogado completou a formação no
Instituto Rio Branco, que forma diplomatas, e atuou por cinco anos no
Ministério das Relações Exteriores, tendo participado de missões
internacionais.
Ilação
No pronunciamento desta
terça-feira, Temer ressaltou que não faria “ilações”, mas que, usando a mesma
lógica que atribui a Janot na formulação da denúncia ao STF, poderia dizer que
os “milhões” recebidos por Miller talvez não tenham ficado somente com ele,
“homem da mais estrita confiança do procurador-geral”.
“Vocês sabem que a Procuradoria
tem uma quarentena [para quem deixa o cargo], mas não houve quarentena
nenhuma. Ele saiu e já foi trabalhar para essa empresa e ganhou, na verdade,
milhões em poucos meses, o que talvez levaria décadas para poupar. Garantiu a
seu novo patrão [se referindo a Joesley] um acordo benevolente, uma delação que
tira o seu patrão das garras da Justiça, gera impunidade nunca antes vista”,
atacou Temer.
Em nota, Miller disse que não
praticou irregularidade. “Não cometi nenhum ato irregular, mas não responderei
às afirmações a meu respeito pela imprensa. Apenas me manifestarei perante as
autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição
da verdade”.
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