© André
Dusek/Estadão O perito Ricardo Molina durante coletiva
para
comentar o laudo da PF sobre a gravação do empresário
Joesly
Batista com o presidente Michel Temer, em hotel, em Brasilia.
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BRASÍLIA - Depois de ser desmentido
pelos peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística (INC), que
concluíram que não houve nenhuma edição na gravação da conversa entre o
presidente Michel Temer e o empresário da JBS Joesley Batista, o perito Ricardo
Molina, contratado pela defesa de Temer, partiu para o contra-ataque nesta
terça-feira, 27.
Molina convocou uma coletiva de
imprensa em um hotel em Brasília, na tarde desta terça, para desqualificar o
trabalho da Polícia Federal (PF) e reafirmar que o áudio "continua a ser
imprestável".
Segundo ele, o laudo da PF é
"cheio de evasivas, nunca é conclusivo nem categórico". "Essa
gravação transpira irregularidade", declarou o perito, afirmando que 6
minutos e 18 segundos da gravação, equivalente a 23% da conversa, foram
suprimidos. "Em nenhum momento a PF provou que a gravação é autêntica",
disse.
O resultado da perícia da Polícia
Federal, no entanto, é claro em afirmar que a análise "afastou a ocorrência de qualquer forma de adulteração,
atestando, assim, a legitimidade plena da prova para a instrução
criminal".
O áudio faz parte das provas
referidas pela Polícia Federal para afirmar, no relatório final entregue ao
Supremo na segunda-feira, 26, que houve o cometimento do crime de obstrução de
investigação de organização criminosa por parte de Temer, do ex-ministro Geddel
Vieira Lima e do empresário e delator do grupo J&F Joesley Batista.
Os delegados da PF responsáveis
pelo inquérito que apura a possível prática dos crimes de organização
criminosa, obstrução da Justiça e corrupção passiva por Temer afirmam que, a
partir de agora, o áudio passa a "servir como elemento de convicção ao
presente inquérito".
A análise dos peritos sobre a
gravação realizada no dia 7 de março, em um encontro fora da agenda oficial no
Palácio do Jaburu, considerou quatro tipos de análise: "perceptual e
contextual", "formato e estrutura de áudio",
"quantitativas" e do "equipamento gravador". Na análise
chamada perceptual, a perícia apontou para 294 descontinuidades no áudio cujo
formato é "wave", mas concluiu que não se trata de alterações feitas
por edição de alguém, mas de interferências técnicas do próprio aparelho
utilizado.
Apesar de contestar a integridade
da gravação, o presidente Temer e sua defesa não apontaram, até hoje, que
trechos de sua conversa com Joesley teriam sido editados, de forma que desse a
entender algo diferente do que se ouve na gravação.
No dia 22 de maio, Molina havia
afirmado que, após análise do áudio, não tinha dúvidas de que o conteúdo da
gravação era "imprestável" e que a Polícia Federal identificaria
falhas técnicas no material e uma série de pontos de edição. Molina disse que
havia identificado "ao menos seis pontos de possível edição" e que não
era possível afirmar que havia uma sequência lógica na conversa.
Naquela ocasião, o perito de Temer
disse que as "falhas são mais que suficientes para jogar a gravação no
lixo" e que o áudio continha pontos que são "sonhos de consumo de um
fraudador", além de "muitas evidentes descontinuidades que não têm
explicação".
Molina reclamou que 12 perguntas
(quesitos) técnicas sobre o áudio não foram respondidas e que houve um
"atropelo de fases" pela Polícia Federal, mas apenas um grupo inicial
de 15 questionamentos. "Meus quesitos são técnicos. Por que não foram
respondidos? Porque não estão situados na zona de conforto. Essa prova era, é e
continuará a ser imprestável sempre, a não ser para fins políticos."
O perito poderá requerer, por meio
da defesa de Temer, que as perguntas enviadas à PF sejam respondidas.
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