Manifestantes
se protegem das bombas de gás lacrimogêneo
lançadas pela polícia durante protesto contra
o presidente
Nicolás Maduro, em Caracas, na Venezuela
(Christian Verom/Reuters)
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Documentos revelam que mais de
70.000 bombas foram adquiridas no Brasil pelo governo da Venezuela
Nos últimos dois meses mais de 70
pessoas morreram nos protestos conta o governo do presidente Nicolás Maduro, da
Venezuela. Desde de abril, milhares de venezuelanos enfrentam a polícia
diariamente nas ruas de Caracas e de dezenas de outras cidades pelo país. A
repressão às manifestações, que ganharam destaque mundial pela brutalidade das
forças de segurança, tem um importante combustível brasileiro. Oficiais
venezuelanos descontentes com o regime chavista vazaram imagens do contrato de
aquisição de mais de 70 000 bombas de gás lacrimogêneo produzidas no Brasil.
O armamento brasileiro é esperado
pelo governo Maduro para garantir o aparato de repressivo empregado contra os manifestantes.
Segundo o documento, assinado pelo diretor da empresa Condor, com sede no
Estado do Rio de Janeiro, o carregamento no valor de 1 milhão de Euros deveria
ser pago antecipadamente em sua totalidade, para que a carga pudesse ser
remetida. Uma exigência compreensível pelo grau de insolvência da Venezuela.
Documento
que revela a exportação de gás do Brasil para
Venezuela:
mais de 70.000 bombas (Reprodução/VEJA)
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Consultada por VEJA, a empresa
Condor negou-se a informar se já foram realizados os embarques de gás para o
arsenal chavista. Por meio de nota, a empresa disse que “em 32 anos
fabrica exclusivamente tecnologias não letais e comercializa seus produtos para
mais de 50 países, entre os quais a Venezuela, com quem tem no momento dois
contratos”.
Ainda segundo a nota, a empresa
afirma estar isenta de autorizações do governo brasileiro para o envio de seus
produtos para o exterior e que até o momento não existe restrição para o envio
de gás lacrimogêneo para Venezuela. “Não tecemos juízo de valor sobre as
políticas adotadas por nossos clientes, mas entendemos que a suspensão de
fornecimento de equipamentos como gás lacrimogêneo e spray de pimenta poderá
ter consequências dramáticas, posto que não restará alternativa às forças de
segurança locais a não ser o uso de armas de fogo”, afirma a nota.
Documento
sobre a exportação de gás lacrimogêneo
para
Venezuela (Reprodução/VEJA)
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Há duas semanas, a oposição
venezuelana solicitou ao Brasil a suspensão do envio desse tipo de armamento
para Caracas. Segundo uma fonte do Itamaraty, os ministros Aloysio Nunes
Ferreira, das Relações Exteriores, e Raul Jungmann, da Defesa, receberam uma determinação
do Planalto para que sejam revistas as regras para comercialização desses
produtos. “Não basta proibir a proibição de envio para Venezuela. Temos que
evitar a triangulação desse material”, disse o diplomata.
A população exige eleições como
forma de tentar colocar fim nas crises econômica e humanitária que se abaterem
sobre o país. Com uma inflação prevista para o ano de 700% e com um índice de
desabastecimento de alimentos e produtos básicos superior a 80%, a maioria dos
venezuelanos vivem em estado de penúria. Para cada uma das bombas utilizadas
para reprimir os manifestantes, o regime de Nicolás Maduro paga cerca de 15
Euros – mais que o dobro do salário mínimo venezuelano.
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